OPINIÃO

Tempos nebulosos em Campinas

Campinas enfrenta desafios complexos e precisa lidar com a crise habitacional e suas repercussões com mais inteligência, além de combater a propagação da febre maculosa.

Por Flávio Paradella | 17/06/2023 | Tempo de leitura: 5 min
Especial para a Sampi Campinas

Flávio Paradella

Campinas viveu uma semana de dificuldades e turbulências, com duas crises abalando a administração do prefeito Dário Saadi (Republicanos) e colocando o município no centro das atenções da imprensa nacional.

A primeira surgiu com a revelação, pelo portal Sampi, das casas embriões de apenas 15m² na Ocupação Mandela, destinadas à população carente da cidade. A repercussão negativa foi imediata e se espalhou por todo o país. 

Especialistas e políticos criticaram duramente o projeto habitacional, classificando as casas como moradias de situação sub-humana. A oposição expressou sua indignação, descrevendo o projeto como absurdo. 

As redes sociais fervilharam e o prefeito Dário Saadi também se manifestou, demonstrando sua revolta diante das críticas. Em um tom ríspido, ele lembrou que, do ponto de vista judicial, a prefeitura teria apenas a obrigação de fornecer um terreno com água e energia elétrica, mas decidiu ir além, urbanizando a área e construindo as casas embriões com o consentimento dos moradores e atacou duramente os oposicionistas.

No entanto, a crise habitacional foi apenas o começo dos problemas enfrentados por Campinas nesta semana difícil. A confirmação de quatro mortes por febre maculosa na cidade abalou a vigilância em saúde e colocou em evidência a necessidade de medidas urgentes. O surto ocorreu após uma festa na Fazenda Santa Margarida, no distrito de Joaquim Egídio. 

Diante dessa grave situação, o prefeito Dário Saadi convocou uma reunião de emergência e anunciou duas medidas mais importantes. Em primeiro lugar, será promovido o aprimoramento da capacitação dos profissionais de saúde, uma vez que os sintomas iniciais da febre maculosa podem se confundir com os de outras enfermidades. Em segundo lugar, será intensificada a informação para a população, visando conscientizar sobre os riscos e orientar sobre como agir para evitar a propagação da doença.

Campinas enfrenta desafios complexos e precisa lidar com a crise habitacional e suas repercussões com mais inteligência, além de combater a propagação da febre maculosa, uma doença que representa uma ameaça à saúde pública. 

A administração municipal está sob pressão, e é fundamental que as autoridades ajam de forma rápida e eficaz para enfrentar esses problemas, garantindo o bem-estar e a segurança da população campineira sem guerras políticas, que sinceramente já estamos cansados de assistir.

 

Trends

Foto: Reprodução/Google Trends

Uma ferramenta revela o protagonismo negativo da cidade de Campinas no noticiário recente. O Google Trends registrou um aumento significativo nas buscas por informações sobre 'Campinas' em matérias jornalísticas.

O primeiro pico ocorreu no último final de semana, devido às polêmicas envolvendo as Casas Embriões, seguido por um segundo pico relacionado aos casos de Febre Maculosa. 

 

Como de costume
Enquanto a cidade de Campinas se vê envolvida em duas crises de grande repercussão nacional - as condições precárias de habitação e o surto de Febre Maculosa -, os vereadores da ala conservadora voltam a dar prioridade às pautas de costumes como se fossem o principal problema enfrentado pelo município.

Nesta segunda-feira, em regime de urgência, será realizada a votação do projeto de Nelson Hossri (PSD) que visa proibir a participação de atletas trans em eventos esportivos femininos. Além disso, o vereador Marcelo Silva (PSD), seu parceiro, protocolou um projeto de lei que pretende proibir a presença de menores na 23ª Parada do Orgulho LGBTQIA+, marcada para o dia 25 de junho.

Marcelo Silva alega estar indignado com imagens do bloco "Crianças Trans Existem" durante a realização da 27ª Parada LGBT, ocorrida em 11 de maio na cidade de São Paulo, e afirma querer "preservar a inocência de nossas crianças".

 

Reação
Como era de se esperar, a proposta já gerou reações, sendo uma delas protagonizada pela vereadora Paolla Miguel (PT). A parlamentar desqualificou o projeto e afirmou que "parlamentares extremistas apostam no ódio e na perseguição. Atacam LGBTs e suas famílias para ganhar votos de radicais".

O plenário da Câmara Municipal se prepara para um embate que promete ser acalorado e ríspido. Porém, sinceramente, é lamentável ver a cidade mergulhada nessa dicotomia e a falta de priorização das crises urgentes e relevantes.

 

Casa cheia para a LDO
A Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2024 será debatida nesta segunda-feira e deverá contar com um bom público na plateia do Plenário da Câmara de Campinas. Uma das principais funções da LDO é orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA) que faz a projeção de recursos que serão arrecadados e estipula as despesas para o próximo ano.

Porém, o pessoal não vai até o legislativo para saber como está o caixa da prefeitura. O público é esperado para o "Fla-Flu" entre os grupos de Direita e Esquerda, centrado no projeto que veta a participação de atletas transgênero em competições esportivas. Vereadores de ambos os lados convocaram seus apoiadores para marcar presença na sessão de segunda-feira.

É lamentável constatar que, em vez de se esforçarem e se envolverem para compreender as reais condições do município e os caminhos traçados para o futuro de Campinas, muitos optam por investir em polêmicas vazias que visam angariar votos cheios de convicção. A política é um espelho da sociedade.

 

Em Brasília
Na CPMI do dia 8 de janeiro, a oposição sofreu uma derrota colossal esta semana ao ter sua proposta de convocação do ex-GSI de Lula, Gonçalves Dias, negada. O deputado federal Carlos Sampaio (PSDB), membro do bloco contrário ao PT, expressou sua indignação com a situação. 

Sampaio e colegas exigiam a presença do militar, que foi flagrado no Planalto no dia 8 e é acusado de adulteração de documentos. No entanto, a CPMI aprovou apenas a convocação de bolsonaristas. 

Segundo o deputado, a comissão foi dominada pela tropa de choque do PT, limitando-se, por enquanto, a analisar a participação de adversários políticos do partido.

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Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Superedição Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br

 

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