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POLÍTICA
Protagonismo regional
O atual prefeito de Campinas sempre foi um personagem forte na cidade, mas sua falta de sucesso em alçar voos além dos limites do município muitas vezes o coloca como coadjuvante.
Por Flávio Paradella | 10/06/2023 | Tempo de leitura: 7 min
Especial para a Sampi Campinas
Divulgação/PMC
Na coluna de estreia, abordei o protagonismo - ou a falta dele - do prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), como líder regional. Não se trata de uma crítica, mas sim de uma constatação sobre os caminhos políticos que o levaram a ocupar a cadeira mais poderosa da política de Campinas.
Dário não caminhou pelas mesmas vias que seu antecessor, Jonas Donizette (PSB). O ex-prefeito de Campinas possui uma história que vai desde vereador até deputado (estadual e federal), atuando tanto na oposição quanto na situação, além de ter sido candidato derrotado para prefeito antes de vencer as eleições. Essas décadas de trajetória o transformaram em uma figura importante e influente na política nacional.
As circunstâncias são bem diferentes para Dário. Ele é um político com excelente influência local: já foi vereador, presidente da Câmara, candidato a vice-prefeito e secretário municipal. Sem dúvida, o atual prefeito de Campinas sempre foi um personagem forte e decisivo na cidade, mas sua falta de sucesso em alçar voos além dos limites do município muitas vezes o coloca como um coadjuvante.
Na região, líderes como o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado (PSDB), e o prefeito de Jaguariúna, Gustavo Reis (MDB), demonstram maior habilidade política e intimidade com outras esferas de poder. Até que ponto isso é benéfico? Esses prefeitos colocam suas cidades no mapa para investimentos e desenvolvimento de novos negócios.
Alguém pode argumentar que eles precisam ser mais atuantes politicamente, já que suas cidades não têm o mesmo porte de Campinas. Em parte, isso é verdade. Campinas é uma cidade que "se vende". É a única metrópole que não é capital, é um polo industrial, educacional, de saúde, agronômico, de serviços, entre outros. No entanto, se o produto Campinas é forte, o "vendedor" poderia realizar negócios ainda mais benéficos se fosse mais habilidoso.
Vamos dar um exemplo. No ano passado, o então governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), anunciou um investimento de R$ 815 milhões para a atenção básica de saúde. Campinas recebeu apenas R$ 300 mil, enquanto cidades menores receberam quantias muito maiores, como Americana (R$ 15 milhões), Amparo (R$ 16,6 milhões) e Bragança Paulista (R$ 20 milhões).
Dário precisou protestar, levando o assunto à imprensa e questionando publicamente a alocação dos recursos, e conseguiu ampliar o montante para R$ 20 milhões. Ufa! Mas essa situação escancarou a falta de conexões efetivas entre as figuras de poder. É inimaginável que, no mapa do governo de São Paulo, Campinas represente apenas 0,03% do total dos R$ 815 milhões destinados ao estado.
Nesse sentido, vejo a participação de Dario Saadi na Frente Nacional de Prefeitos, como vice-presidente de Saúde, como uma das tentativas do prefeito de ampliar o alcance de sua voz, o que é extremamente benéfico tanto para ele quanto para as necessidades do município. No entanto, é preciso mais. É necessário um desempenho mais ativo e a garantia de relacionamentos que acelerem processos e projetos para Campinas, sem a necessidade de conflitos para encontrar soluções.
Carlão tenta ressurgir
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, instalada no Congresso Nacional, promete embates tensos entre os mesmos atores dos últimos anos, porém, em posições diferentes. Aqueles que antes estavam na situação agora são oposição, e vice-versa.
Os governistas estão determinados a convocar o ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, o coronel Mauro Cid, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres e até mesmo o próprio Bolsonaro para prestar depoimento.
Por sua vez, a oposição tem como alvo o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, que pediu demissão ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a divulgação de imagens em que ele aparece no Palácio do Planalto durante os ataques criminosos contra os Três Poderes em 8 de janeiro.
Engrossando o coro em relação a Gonçalves Dias está o deputado federal Carlos Sampaio (PSDB). Carlão busca explicações do ex-homem de confiança de Lula, especialmente após a revelação do jornal O Globo de que Gonçalves Dias teria adulterado um dos relatórios de Inteligência enviados ao Congresso sobre a manifestação de 8 de janeiro, em Brasília.
Carlão, que teve grande destaque durante os tempos do mensalão e da Lava Jato, o que lhe rendeu a nona maior votação do país - 295 mil votos - para a Câmara dos Deputados em 2014, retornou com apetite para fiscalizar e atacar o governo.
O parlamentar federal de Campinas teve uma atuação discreta, no mínimo, nos anos do governo Bolsonaro, e viu sua quantidade de votos cair para 98 mil, o suficiente para garantir um novo mandato, porém um sinal de alerta acendeu para o político, que decidiu aumentar o tom e, mais do que isso, assumir publicamente uma postura de direita e adotar as bandeiras do Bolsonarismo.
Prestigiado?
Foto: Divulgação/CMC
A próxima semana na Câmara de Campinas será crucial para medir o prestígio do ex-presidente da casa, Zé Carlos (PSB), entre seus colegas. Ele é alvo de investigação por supostas irregularidades em contratos terceirizados do legislativo e foi denunciado pelo Ministério Público por improbidade administrativa e danos morais, com pedido de perda de mandato e pagamento de R$ 150 mil.
Apesar das acusações, Zé Carlos busca posições mais ativas no legislativo. No início do ano, assumiu a presidência da Comissão de Meio Ambiente, gerando questionamentos, mas sem muita repercussão na época.
No entanto, a situação agora se torna mais tensa, relacionada à saída do vereador Professor Alberto (PL) para assumir uma secretaria no governo de Dário Saadi. Professor Alberto era presidente da Comissão de Constituição e Legalidade (Constileg), a mais importante da Câmara, responsável por analisar todos os projetos em trâmite. Seu cargo foi assumido por Jorge Schneider, colega de partido.
E onde Zé Carlos se encaixa nessa história? Ele tem interesse na presidência da Comissão de Política Urbana, que antes era ocupada por Schneider. A disputa por cargos e comissões na Câmara de Campinas tornou-se confusa e agitada. A Comissão de Política Urbana é responsável por opinar e emitir parecer sobre questões relacionadas ao desenvolvimento urbano, planejamento territorial, zoneamento e uso do solo.
A ambição de Zé Carlos esbarra na resistência dos parlamentares em colocar uma pessoa investigada por corrupção no comando de uma comissão sensível. Além disso, há o entendimento de que, com a denúncia apresentada à Justiça, Zé Carlos não reúne condições legais para assumir o cargo. Por enquanto, ele permanece como presidente da Comissão de Meio Ambiente, pois a escolha foi feita antes das acusações.
Um acordo improvável, mas não impossível, poderia colocar Zé Carlos na Comissão de Política Urbana, enquanto o vereador do PT, Cecílio Santos, assumiria a presidência da Comissão de Meio Ambiente. No entanto, o cenário atual na Câmara de Campinas mostra resistência ao nome de Zé Carlos, e a posição de presidente da Comissão de Política Urbana provavelmente será ocupada por Paulo Gaspar (NOVO), arquiteto e urbanista.
Caso isso se concretize, Zé Carlos, que possui cinco mandatos consecutivos, ficará desprestigiado. No entanto, a política é volátil e os ventos podem mudar na Avenida da Saudade, endereço da Casa de Leis de Campinas.
Reajuste Servidores
A Prefeitura de Campinas se mostrou irredutível na proposta de 4,18% de reajuste, retroativo a maio, para servidores ativos e inativos em mais uma rodada de negociações da campanha salarial deste ano, na segunda reunião entre representantes da administração municipal e do Sindicato dos Trabalhadores Públicos. A administração propôs aumento no auxílio-alimentação e no vale nutricional, com reajuste de 10%.
O funcionalismo não gostou e a proposta foi rejeitada em assembleia realizada na sede do sindicato. Mais que isso, a categoria aprovou o estado de greve, que é um trâmite legal obrigatório que sinaliza a possibilidade de paralisação. "Não dá para aceitar 4,18% de reajuste e 10% de aumento nos vales", disse o coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores Municipais de Campinas, Tadeu Cohen Paranatinga.
Uma nova mesa está marcada para o dia 14 de junho.
“Nós continuamos abertos às negociações. Tivemos importantes avanços na mesa de hoje e o diálogo com a categoria será mantido”, disse o vice-prefeito e secretário de Relações Institucionais, Wanderley Almeida.
Resta aguardar os próximos desdobramentos dessa história, mas nos últimos anos o enredo tem sido o mesmo: a prefeitura apresenta sua proposta de reajuste, o sindicato manifesta sua insatisfação, a administração mantém sua posição, a categoria entra em estado de greve e, após algumas negociações, ocorre uma "choradinha" por parte da administração e o reajuste é aprovado em assembleia. Acompanhemos os próximos capítulos!
Flávio Paradella é jornalista, radialista e podcaster. Sua coluna é publicada na Sampi Campinas aos sábados pela manhã, com atualizações às terças e quintas-feiras. É veiculada também pelo jornal OVALE Superedição Campinas, aos sábados. E-mail para contato com o colunista: paradella@sampi.net.br
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