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70 ANOS
70 anos do Brinco de Ouro da Princesa: ‘desde 1911, a nossa maior glória’
Casa do Guarani, o Brinco de Ouro foi palco das principais memórias do torcedor bugrino e, com a possível demolição, pode ficar restrito a elas.
Por Higor Goulart | 03/06/2023 | Tempo de leitura: 7 min
Especial para a Sampi Campinas
Divulgação/Guarani
“Desde 1911, sempre foi a nossa maior glória”. A fala de Renato Ramos de Carvalho resume a relação de milhares de torcedores do Guarani com o Brinco de Ouro da Princesa. Sejam nos anos de glória ou na época em que disputou a Série D, a certeza é de que o estádio estará decorado com torcedores do Bugre.
Palco esse que completou, nesta semana, 70 anos de história - de muitas conquistas, partidas memoráveis e craques. O Guarani inaugurou o Brinco de Ouro no dia 31 de maio de 1953 e realizou o sonho da família bugrina.
Isso porque a vontade de ter uma casa própria existia há tempos. A ideia de construção do estádio, inclusive, surgiu em 1947, quando a Federação Paulista de Futebol profissionalizou o ‘Campeonato do Interior’. Logo, o Bugre precisava dar o próximo passo.
Seu estádio na época, localizado na Rua Barão Geraldo de Rezende, no Guanabara, estava ultrapassado. Assim como seu espaço, que não permitia uma reforma. Portanto, a ‘Comissão Pró-Reforma do Estádio’ foi por água abaixo.
O Guarani, no entanto, estava destinado à nova casa. Tanto que, apenas um ano depois, a solução chegou: uma imobiliária ofereceu um terreno na ‘Baixada do Proença’ e mais 2 milhões de Cruzeiros em troca da primeira casa bugrina. Irrecusável, a proposta foi aceita no dia 2 de abril de 1948, quando o Guarani completava 37 anos. Ou seja, foi um presente.
Com isso, o sonho começava a se tornar realidade. O próximo passo: transformar a ‘Comissão Pró-Reforma do Estádio’ em ‘Comissão Pró-Estádio’. A responsabilidade de liderar o projeto ficou com Antônio Carlos Bastos.
Meses depois, no dia 11 de julho de 1948, uma vitória no Dérbi representava um novo passo: a maquete da nova casa foi apresentada pelos arquitetos Ícaro de Castro Melo e Osvaldo Correia Gonçalves. Como o formato se parecia com um brinco, e Campinas era conhecida como ‘Princesa D’Oeste’, um jornalista da época criou o título: ‘Brinco de ouro para a "princesa". E assim surgiu o nome que até hoje marca o futebol brasileiro.
A vaga do Guarani na 1ª Divisão de Profissionais, em 1949, forçou o início da construção. Já não tinha como o antigo estádio suportar o tamanho do clube. Rapidamente, o Bugre arrecadou 3,5 milhões de cruzeiros na venda de cadeiras vitalícias. Além disso, iniciativas como a “Campanha do Cimento”, “Campanha do Tijolo”, “Campanha da Quermesse”, “Campanha da Boa Vontade” e outras 25 do tipo, ajudaram com mais recursos.
O primeiro ‘tijolo’ foi, então, posicionado em 1949. Tudo começou com a base das arquibancadas que sustentam a apaixonada torcida até hoje. Enfim, em 1953, a construção foi concluída. Na época, para acelerar o sonho, com arquibancadas de madeira provisórias atrás dos gols.
Foram duas partidas amistosas, diante de Palmeiras e Fluminense. O primeiro jogo, claro, terminou em vitória bugrina. Com Nilo marcando o primeiro gol da história, o Guarani venceu o clube paulista por 3 a 1. Contra o Fluminense, no entanto, derrota por 1 a 0.
Conforme o clube foi crescendo, o estádio também foi. Tanto que nos anos seguintes, o Brinco de Ouro passou por algumas alterações. Primeiro, a cabeceira sul. Em 1964, o sistema de iluminação do estádio. Em 1970, a cabeceira norte foi construída.
A expansão garantiu um apoio ainda maior dos bugrinos. Algo essencial para a conquista do Campeonato Brasileiro de 1978. Ao longo de toda a campanha, o Bugre foi praticamente perfeito em casa. Na final, diante do Palmeiras, o sucesso se repetiu.
Com estádio lotado, após vencer o primeiro jogo em São Paulo, o Guarani caminhava para a maior conquista da sua história. Aos 36 minutos, o artilheiro Careca marcou e levou as arquibancadas à loucura. No Brinco de Ouro, o Guarani conquistou seu maior título.
Logo após a conquista do título de Campeão Brasileiro, foi iniciada a construção do ‘Tobogã’ - arquibancada histórica do estádio -, que aumentou a capacidade em mais de 15 mil lugares.
Atualmente, o estádio, localizado na Avenida Imperatriz Dona Tereza Cristina, tem capacidade para 29.130 torcedores.
Partidas memoráveis
Nestes 70 anos, o Brinco de Ouro da Princesa foi palco de confrontos marcantes. É impossível esquecer a vitória diante do Palmeiras ou até a conquista da Taça de Prata em 1981. E qual torcedor bugrino não se recorda do 6 a 0 diante do ABC (RN), pela Série C do Campeonato Brasileiro, em 2016?
Conquista do Campeonato Brasileiro de 1978
Naquela partida, o torcedor já não acreditava. Em Natal, no jogo de ida, o Guarani sofreu uma goleada de 4 a 0. A final parecia distante. Os jogadores, contudo, não deixaram de acreditar.
Aos 8 minutos, Leandro Amaro marcou o primeiro. Aos 24, Fumagalli enlouqueceu as arquibancadas, com um gol de falta espetacular. O ídolo marcou mais dois. No segundo tempo, Alex Santana e Pipico fecharam a partida. Os gols garantiram o Bugre na decisão diante do Boa Esporte.
Aos mais jovens, que não tiveram a oportunidade de presenciar as partidas dos títulos, a mais recente é, sem dúvidas, a mais marcante. Renato Ramos, que se declara ‘Bugrino Apostólico Romano’ é um deles.
“Nós fomos desacreditados para o estádio, já imaginando a derrota, como testemunhas do apocalipse. Era só para assistir o Guarani mesmo. De repente, uma virada espetacular, em um dia que o Fumagalli destruiu. Foi incrível”, relembrou.
“Aquele gol de falta, cara. Quando meteu cinco, a gente rolava na arquibancada, chorava, não sabíamos o que fazer. Essa vitória foi a mais marcante para mim no Brinco de Ouro da Princesa”, completou Renato.
13 anos mais novo, Victor também tem uma partida do acesso em 2016 como a mais marcante. Mas, diferente do colega bugrino, foi a diante do Asa de Arapiraca, que garantiu o acesso à Série B.
Novamente, parecia impossível. No confronto de ida, o Bugre perdeu por 3 a 1. Em Campinas, contudo, a frente de 12 mil torcedores, o Bugre venceu por 3 a 0 e derrotou o adversário no placar agregado.
“Esse é um dos jogos mais emblemáticos que eu já fui. Foram dois gols de pura raça do Eliandro. Quando ele fez o segundo gol da partida, em um lance completamente maluco, o estádio pulsava demais”, relembrou Victor.
Casa da Seleção Brasileira
Além de casa do Guarani, o Brinco de Ouro já recebeu a Seleção Brasileira de Futebol. Há 33 anos, em maio de 1990, o Brasil fez dois amistosos em solo nacional, antes de embarcar para a Copa do Mundo.
Com Sebastião Lazaroni como treinador, a Seleção não contou com os craques Dunga, Bebeto e Romário. Ainda assim, o estádio lotou, com mais de 47 mil torcedores, que presenciaram a vitória 2 a 1, diante da Bulgária.
Aos oito minutos, Müller abriu o placar para o Brasil, que dominou praticamente todo o confronto. Um erro da defesa, no entanto, aos 15, garantiu o empate bulgaro, que saiu dos pés de Kostadinov.
Aos 35 minutos do 2º tempo, Jorginho cruzou e Aldair cabeceou para o fundo das redes. Assim, terminou a partida.
Artilheiros
Em sua história mais que centenária, o Guarani foi casa de dezenas de craques. Muitos deles marcaram a história no Brinco de Ouro. Mas é Careca quem pode dizer que é o maior artilheiro da casa bugrina.
De Araraquara, o artilheiro chegou a Campinas em 1976. Dois anos depois, fez sua estreia. Sim, justamente no ano do título brasileiro. Mesmo assim, dividiu a artilharia da equipe com Zenon, com 13 gols.
Seu estilo matador conquistou a torcida bugrina e, em seus quatro anos com o Guarani, marcou 80 gols no Brinco.
Na segunda posição de artilheiros, está Jorge Mendonça. Entre 1980 e 82, o carioca marcou época no clube e garantiu 56 gols no estádio.
Por fim, completando o top-3, Fumagalli. Principal nome da história recente, o principal responsável pela vitória diante do ABC marcou 55 gols no Brinco de Ouro da Princesa.
Demolição
Apesar de tanta história, partidas memoráveis e craques, o Brinco de Ouro da Princesa está chegando aos seus últimos anos de vida. A previsão é que a casa do Guarani se transforme em um grande empreendimento comercial em até quatro anos. Talvez, em dois. É o que afirmou Roberto Graziano, proprietário do Grupo Magnum, à Sampi Campinas, em março deste ano.
O Grupo Magnum arrematou o Brinco de Ouro por R$ 105 milhões em julho de 2015. Na época, o palco foi penhorado, por conta de dívidas acumuladas pelo Bugre nas últimas duas décadas.
Desde então, o torcedor bugrino vive com uma certeza: a sua casa, que comemorará 70 anos no dia 31 de maio de 1953, será demolida e dará lugar a uma série de empreendimentos, como um shopping, um hotel e condomínios residenciais.
A data para isso, no entanto, foi sendo adiada ano após ano. Isso porque, no acordo, o Grupo Magnum deveria construir um novo estádio, um novo Centro de Treinamento e uma sede social ao Guarani. Algo que, em quase oito anos, não aconteceu.
Mas, de acordo com Graziano, o ‘pesadelo bugrino’ não deve demorar mais tanto assim. A empresa trabalha com um prazo entre dois e quatro anos, para que inicie a demolição do Brinco. “A gente estima que, na melhor das hipóteses, demorará dois anos para isso. Mas, também, pode acontecer daqui três ou quatro anos”, confirmou.
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