GUARANI

Adeus ao Brinco de Ouro da Princesa: demolição deve acontecer em até quatro anos

Estádio emblemático, palco da maior conquista da história bugrina em 1978, está com seus anos contados; informação foi confirmada por Roberto Graziano, do Grupo Magnum.

Por Higor Goulart | 19/03/2023 | Tempo de leitura: 6 min
Especial para a Sampi Campinas

Thomaz Marostegan/Guarani FC

'Tobogã', no Brinco de Ouro da Princesa, é uma das arquibancadas mais famosas do país
'Tobogã', no Brinco de Ouro da Princesa, é uma das arquibancadas mais famosas do país

Um dos estádios mais místicos do Interior do Brasil, o Brinco de Ouro da Princesa, em Campinas, está com seus anos contados. A previsão é que a casa do Guarani se transforme em um grande empreendimento comercial em até quatro anos. Talvez, em dois. É o que afirmou Roberto Graziano, proprietário do Grupo Magnum, à Sampi Campinas.

O Grupo Magnum arrematou o Brinco de Ouro por R$ 105 milhões em julho de 2015. Na época, o palco foi penhorado, por conta de dívidas acumuladas pelo Bugre nas últimas duas décadas.

Desde então, o torcedor bugrino vive com uma certeza: a sua casa, que comemorará 70 anos no dia 31 de maio de 1953, será demolida e dará lugar a uma série de empreendimentos, como um shopping, um hotel e condomínios residenciais.

A data para isso, no entanto, foi sendo adiada ano após ano. Isso porque, no acordo, o Grupo Magnum deveria construir um novo estádio, um novo Centro de Treinamento e uma sede social ao Guarani. Algo que, em quase oito anos, não aconteceu.

Mas, de acordo com Graziano, o ‘pesadelo bugrino’ não deve demorar mais tanto assim. A empresa trabalha com um prazo entre dois e quatro anos, para que inicie a demolição do Brinco. “A gente estima que, na melhor das hipóteses, demorará dois anos para isso. Mas, também, pode acontecer daqui três ou quatro anos”, confirmou.

História do Brinco de Ouro
O Brinco de Ouro da Princesa foi inaugurado no dia 31 de maio de 1953. A ideia da sua construção, contudo, começou em 1947, quando a Federação Paulista de Futebol profissionalizou o ‘Campeonato do Interior’.

A iniciativa da FPF fez o Bugre perceber que o seu estádio da época, na Rua Barão Geraldo de Rezende, no Guanabara, estava ultrapassado. Algo comprovado pela ‘Comissão Pró-Reforma do Estádio’, que concluiu que a reforma era inviável. Ainda assim, o tamanho do terreno não permitia uma nova construção.

Um ano depois, chegou a solução: uma imobiliária ofereceu um terreno na ‘Baixada do Proença’ e mais 2 milhões de cruzeiros em troca da área bugrina no Guanabara. A proposta foi aceita no dia 2 de abril, justamente no aniversário do Guarani. E, como a maré estava favorável, o clube ainda recebeu a doação de mais dois terrenos ao lado da baixada.

Foi quando a ‘Comissão Pró-Reforma do Estádio’ passou a se chamar ‘Comissão Pró-Estádio’, comandada por Antônio Carlos Bastos.

À comissão, no dia 11 de julho de 1948 – após a vitória em um dérbi –, a maquete da nova casa foi apresentada pelos arquitetos Ícaro de Castro Melo e Osvaldo Correia Gonçalves. Como o formato se parecia com um brinco, e Campinas era conhecida como ‘Princesa D’Oeste’, um jornalista da equipe criou o título: ‘Brinco de ouro para a "princesa". Foi assim que surgiu o nome.

Em 1949, o Guarani garantiu vaga na 1ª Divisão de Profissionais. O estádio, então, era mais do que nunca necessário. Em quatro anos a corrida para construção aconteceu. Para isso, o Bugre arrecadou outros 3,5 milhões de cruzeiros na venda de cadeiras vitalícias. Além disso, iniciativas como a “Campanha do Cimento”, “Campanha do Tijolo”, “Campanha da Quermesse”, “Campanha da Boa Vontade” e outras 25 do tipo, ajudaram com mais recursos.

Enfim, em 1953, a construção foi concluída. Na época, com arquibancadas de madeira provisórias atrás dos gols.

A inauguração contou com duas partidas amistosas, diante de Palmeiras e Fluminense. Contra o clube paulista, o Guarani venceu por 3 a 1. O primeiro gol da história saiu dos pés de Nilo, em uma cobrança de falta. Contra o Fluminense, derrota por 1 a 0.

Nos anos seguintes, o Brinco de Ouro passou por algumas alterações. Anos depois, foi a vez da cabeceira sul. Já em 1964 foi inaugurado o sistema de iluminação do estádio. Em 1970, a cabeceira norte foi construída. Por fim, em 1978, logo após a conquista do título de Campeão Brasileiro, foi iniciada a construção do ‘Tobogã’, que aumentou a capacidade do estádio em mais de 15 mil lugares.

Em sua história, o Brinco de Ouro da Princesa foi palco de confrontos memoráveis. Craques como Pelé, Ademir da Guia, Careca, Neto e Neymar pisaram no místico gramado.

Leilão
A história de que o Guarani perderia seu estádio na Avenida Imperatriz Dona Tereza Cristina começou há duas décadas, em 2001.

Na época, a Justiça reuniu 300 processos trabalhistas contra o time campineiro, que acumulava uma dívida de R$ 68 milhões. Ainda assim, o processo se arrastou por mais de uma década.

Foi em 2012, então, que, após diversas tentativas  falhas de acordo entre o Guarani e os trabalhadores, o Tribunal Regional do Trabalho decidiu penhorar o estádio. No mesmo ano, no entanto, o Bugre conseguiu reverter a decisão e vendeu um terreno de R$ 5 milhões para pagar parte das dívidas.

Um ano depois, novamente, o estádio volta ‘às mãos’ da Justiça. Dessa vez, sem volta. Dois anos depois, começaram os leilões. Primeiro, a Maxion venceu o processo, que foi anulado. Meses depois, foi a vez da MMG. Como no primeiro, a Justiça também anulou.

Com isso, o Grupo Magnum aproveitou e fez uma proposta no mesmo valor das anteriores. Dessa vez, a Justiça aprovou.

Além do acordo em construir as novas estruturas do clube, a Magnum concordou com um repasse mensal de R$ 350 mil para os cofres bugrinos. Isso auxiliou, nos últimos anos, para que o Guarani conseguisse pagar sua folha salarial.

Nova casa
A Arena do Guarani já tem até local definido. Será em um terreno de propriedade do Bugre, na Rodovia dos Bandeirantes. A construção, como já mencionado, é de responsabilidade do Grupo Magnum.

Graziano conta que o estádio contará com capacidade para 10 mil torcedores, o que corresponde a pouco mais de 30% do Brinco de Ouro da Princesa, “mas será preparado para ampliação de até 20 mil lugares”, completou.

Antes de dar início à construção do estádio, a Magnum está analisando o projeto, para que possa apresentá-lo às autoridades municipais e estaduais. “Estamos fazendo um estudo prévio, a nível municipal e estadual. Após isso, o projeto será levado para aprovação”.

Recuperação judicial
Desde que o Bugre ‘perdeu’ sua casa, o clube reduziu suas dívidas trabalhistas para R$ 59,2 milhões. Ainda assim, em março deste ano, o Conselho Administrativo protocolou na Justiça um pedido de recuperação judicial.

De acordo com o presidente Ricardo Moisés, são diversos processos cíveis que atrapalham negociações com jogadores e causam transtornos no clube. Nos últimos três anos, no entanto, os processos têm diminuído.

“Chegou a hora do clube enfrentar sua dívida, propor uma forma de pagar e encerrar seus débitos e iniciar o pagamento de seus impostos. Esta é uma decisão que pensa no Guarani para daqui mais de 10 anos, talvez como há muito não se pensasse”, afirmou Moisés.

Alguns dias depois do pedido, a juíza Eliane Cássia da Cruz, da 7ª Vara Cível de Campinas, declarou que o recurso bugrino é legítimo. No entanto, ela apontou a necessidade de mais informações sobre as dívidas e processos existentes.

Com a recuperação judicial aceita, um administrador foi nomeado pela juíza, para acompanhar o processo. O clube tem 60 dias para apresentar ao nome escolhido o plano de pagamento aos credores.

A partir da decisão, estão suspensas, durante 180 dias, possíveis execuções judiciais contra o clube, além de retenção ou busca e apreensão sobre bens do clube bugrino.

5 COMENTÁRIOS

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  • Novaes Lusa sempre!
    20/03/2023
    Assim como minha Portuguesa, o Guarani de tantas histórias, passando por essa triste realidade. Fico realmente chateado. Um clube que já teve Careca, Zenon, Renato, Luizão e tantos outros craques, ter que aceitar essa alternativa que não está a altura do clube de tanta tradição. Lamentável. Torço para que o Guarani consiga uma melhor alternativa!!!
  • Alípio
    20/03/2023
    Alguém lembra da última vez que teve 20 mil torcedores no Brinco? Prá que serve um estádio com maior capacidade. O importante é estar livre ou equacionada as dívidas para se tornar uma Saf.
  • Nilcea Lopes Santos de Paula
    20/03/2023
    Pensar em ver naquela área sem o Estádio do Guarani não será fácil para os Bugrinos e também para qualquer Campineiro...????
  • Gaspar Marchete
    20/03/2023
    Isso pra mim e uma tremenda vergonha para a diretoria do Guarani , pois o clube está perdendo toda a sua história de existência , pra nação bugrina vai ser a maior decepção da história do clube , isso ai vai ser um grande regresso do GFC , pois um clube tem que pensar em aumentar a sua capacidade, quando em que o pensamento na final contra São Paulo o pensamento do clube era que se fosse campeão a meta era em fechar o anel superior do estádio ( tobogã ) e agora vem essa triste notícia \"Adeus ao Brinco de Ouro\" ?
  • José Airton
    19/03/2023
    Quer dizer que o Guaraní vai dá o Brinco de Ouro por um estádio com capacidade para 100000. E que terá espaço para crescimento de apenas mais 10000. Roubaram o Bugre.