BARBOSA

De Campinas a 'condenado' na Seleção Brasileira: a história do goleiro Barbosa

Ídolo do Vasco da Gama e eterno culpado pelo Maracanaço, em 1950, Moacyr Barbosa nasceu e viveu até o início da sua adolescência na Rua Major Solon, em Campinas.

Por Higor Goulart | 07/03/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução

Barbosa ficou marcado pelo gol que levou e culminou na derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950
Barbosa ficou marcado pelo gol que levou e culminou na derrota da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1950

Nos tempos atuais, a Rua Major Solon é uma como qualquer outra do Cambuí. Mas, durante 14 anos - entre 1921 e 1935 -, serviu de lar para um dos nomes mais injustiçados - se não o mais - da história do futebol brasileiro: o goleiro Barbosa.

Moacyr Barbosa nasceu no dia 27 de março de 1921. Dividiu a casa nº 27 na Major Solon com outros dez irmãos, além dos pais Emídio Barbosa e Isaura Ferreira Barbosa. Foram 14 anos na casa, quando precisou se mudar para São Paulo, após a morte de seu pai.


Já no início da sua adolescência, sabia que construir uma carreira no futebol era complicado. Tanto que ao se mudar para o bairro da Liberdade, na capital paulista, tratou de arrumar um emprego no Laboratório Paulista de Biologia.

Foi pelo time do laboratório que ele começou a participar de alguns jogos de várzea. Não, não foi como goleiro. Barbosa era ponta-esquerda.

Mas, após alguns jogos nos campos de terra, ele encontrou no gol sua vocação, quando o goleiro faltou e ele, mesmo não querendo, precisou ir pra debaixo das traves. Nem mesmo sua baixa estatura - cerca de 1,74 metros - foi capaz de parar o gigante e vitorioso goleiro que ele transformaria.

Na nova função, foi convencido a se tornar profissional pelo Clube Atlético Ypiranga, em 1941, e não demorou para ter destaque. Tanto que, em 1945, foi indicado por um zagueiro do Corinthians para o Vasco da Gama.

Um dos maiores da história cruzmaltina
Barbosa chegou ao Vasco no dia 27 de janeiro de 1945. Sua estreia no Gigante da Colina aconteceu quase dois meses depois, no dia 18 de março de 1945, em um confronto contra o Grêmio, em Porto Alegre.

Na partida, jogadores e torcedores dos dois times já se impressionavam com a habilidade e plasticidade do ‘Rei dos Goleiros’.

Ainda assim, a titularidade ainda não era garantida, até porque o Vasco contava com pelo menos seis bons goleiros no seu elenco. Um deles era Barcheta, titular absoluto da equipe na época.

Quando a chance apareceu, Barbosa teve azar. Sua coragem em partir para cima dos atacantes adversários o causou uma lesão, que o fez perder a titularidade para Rodrigues.


Mas, após o Campeonato Carioca, Barbosa voltou a equipe titular, por uma situação curiosa. Rodrigues ganhou um prêmio de 200 mil cruzeiros na loteria, o que o fez abandonar o esporte. A partir disso, Barbosa não saiu mais do gol vascaíno.

Foram 431 jogos com a camisa cruzmaltina, além de 15 títulos conquistados, que o transformaram no jogador mais vitorioso da história do Vasco da Gama.

Injustiçado
Suas atuações pelo Vasco o levaram à titularidade na Seleção Brasileira de Futebol, em 1949. Foi peça fundamental na conquista do Sul-Americano de Seleções e chegou como goleiro da equipe favorita à Copa do Mundo de 1950, no Brasil.

No caminho até à final, que ficaria conhecida como Maracanaço, foram quatro vitórias e um empate. Campanha praticamente perfeita para enfrentar o Uruguai na final.

Final que tinha tudo para garantir o roteiro perfeito. Mais de 200 mil pessoas no Maracanã, no Rio de Janeiro, naquele dia 16 de julho de 1950. Gol de Friaça aos 2 minutos do 2º tempo, para abrir o placar e deixar a torcida eufórica.

Mas, rapidamente, tudo mudou. Quase 20 minutos depois, Juan Alberto Schiaffino empatou. Antes do apito final, Alcides Edgardo Ghiggia correu pelo canto direito da área e finalizou. Barbosa não defendeu. Uruguai campeão.


Para todos que assistiam pelo Maracanã e pela televisão, o gol foi um frango do goleiro campineiro. Barbosa ficou, então, marcado pela defesa que não fez e esquecido pelas centenas que fez.

“Sujeito passava na rua e falava: 'Frangueiro'. Outro falava: 'Esse cara entregou'. Teve uma mulher que disse na minha cara que eu tinha recebido dinheiro. Outra chegou com um garotinho, que não tinha nem 10 anos, e disse: 'Foi esse homem que fez o Brasil todo chorar'. Eu perguntei para ela: 'Se eu fosse seu filho, você faria isso?'. Ela se calou e foi embora", contou Barbosa, em entrevista.

Morte
Depois daquela final, Barbosa não teve outra oportunidade de defender a Seleção Brasileira. Durante quase 50 anos viveu como um condenado, conforme relatou em uma entrevista a Helvídio Mattos, em 1993.

“Qual é a pena máxima no Brasil? Não são 30 anos? Pois eu já estou a mais de 40 anos cumprindo e ninguém esquece. Se eu fosse um criminoso vulgar, eu entenderia. Mas qual foi o meu crime? Qual foi o meu pecado?", disse o ex-goleiro.

O peso da derrota e da injustiça só terminaram no dia 7 de abril de 2000, quando Barbosa morreu na companhia de sua mulher Clotilde e sua filha de consideração Tereza Borba.

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