MEDALHISTA

Chicão, ex-Ponte Preta, comanda o Pratas de Campinas mesmo após sofrer dois AVC’s

O ex-atacante da Ponte Preta, hoje em dia, se aventura em ajudar os jovens da periferia e já pensou até em leiloar a sua medalha para arcar com o projeto.

Por Henrick Borba | 14/01/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Especial para a Sampi Campinas

Reprodução/Henrick Borba

Chicão foi um dos pilares da Ponte Preta por quase uma década
Chicão foi um dos pilares da Ponte Preta por quase uma década

De medalhista olímpico a treinador de um projeto social em Campinas. Essa é a vida de um dos maiores jogadores da história da Ponte Preta: o atacante Francisco Carlos Martins Vidal, ou melhor, Chicão, terceiro maior artilheiro da história da Macaca, com 106 gols.

Natural de Rio Brilhante (MT), o ex-atleta de 60 anos teve sua carreira no futebol marcada pela passagem pela Macaca, onde ficou durante nove anos. Ele ainda acumula passagens por grandes clubes nas décadas de 70 e 80, como Santos, Coritiba, Botafogo, Bragantino, Atlético Paranaense, Ituano, Santa Cruz e Remo.

Tudo começou com a ajuda de sua mãe, uma manicure, que, num dia qualquer, conseguiu o contato de Salvador Reis - na época, treinador da equipe juvenil da Ponte Preta. A partir daí, Chicão fez diversos testes, foi aprovado e deu início a sua história com a camisa da Ponte Preta.

Das grandes lembranças de Chicão como jogador da Macaca, talvez a que o torcedor mais se recorde é do Paulistão de 1983. Chicão foi vice-artilheiro com 21 gols em 41 jogos, empatando com a lenda do Corinthians, Sócrates. Graças ao desempenho, no ano seguinte, foi convocado para os Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1984, onde conquistou a medalha de prata.

Apesar da carreira sólida, Chicão não teve muitos títulos. Ele foi apenas campeão paranaense, quando vestiu as cores do Coritiba.

Forçado a pendurar as chuteiras
Acostumado a marcar gols, Chicão foi forçado a pendurar as chuteiras em 1999. Isso porque o jogador sofreu um infarto e um AVC (Acidente Vascular Cerebral). A partir daí, viveu uma série de reviravoltas na vida.

Por conta da sua paixão pelo futebol, em 2007, abriu uma escolinha de futebol, o Chicão Futebol Center. No mesmo ano, sofreu um segundo AVC. Por conta disso, o ex-jogador ficou com algumas sequelas. Chicão tem uma mão boba, que tem dificuldades para receber comandos, além de falar lentamente e com certa dificuldade.  “Por conta daquele infarto, eu fiquei sem voz, não falava nada e não conseguia me mexer muito bem, mas com o passar dos meses isso foi melhorando”, disse.

Quase 16 anos depois, Chicão já não tem muitas dificuldades motoras, exceto a mão e a fala, mas consegue correr e chutar a bola, que é o que sempre fez e mais gosta em sua vida.

Pratas de Campinas
Esse sentimento pelo esporte não o permitiu ficar longe do futebol. Anós após o ocorrido, seu filho Franco, decidiu desenvolver um projeto social para garotos da periferia, o Pratas de Campinas, instalado na Arena Cafezinho. O projeto ajuda jovens da periferia em situações vulneráveis ao tráfico, crime e às drogas, com o futebol.

Franco leva o projeto com a ajuda de Chicão, devido a sua grande experiência. Algo que o ídolo da Macaca vê com grande importância. “Eu acho que é muito importante ter um jogador de futebol, porque os garotos mais pobres vêm com aquele intuito de saber quem é que está comandando, e eu com minha experiência, vale muito para eles que querem alguma coisa com o futebol”, disse.

Presença essa que ficou ainda maior durante a pandemia, já que os custos do projeto foram aumentando e Franco não estava dando conta de arcar com as cestas básicas, transporte, aluguel do campo e chuteiras sozinho. “Nós estávamos em um churrasco de família e eu falei que estava pensando em desistir do projeto porque estava me custando muito caro, eu não podia perder todo o meu dinheiro, eu estava tirando dinheiro da minha família para continuar com o projeto”, relembrou Franco.

Neste momento, uma medalha de prata entrou ‘na jogada’. “Foi em um ato de humanidade e humildade que meu pai disse: ‘nós podemos leiloar a minha medalha. Ela está parada ali mesmo, vamos leiloar ela”, completou.

Para Chicão, o valor da medalha não vale a importância do projeto para o futuro dos jovens. “A vida de uma criança, de um jovem, não vale mais do que uma medalha. Não vale”, afirmou.

Passado
A qualidade oferecida hoje pelo projeto faz também Chicão relembrar o seu passado, onde não tinha nem um campo para jogar direito e contava somente com uma lagoa para treinar. “Eu era moleque, não tinha nenhum professor pra me ensinar como bater na bola igual eles têm aqui. Agora tem o campo do cafézinho, que é um campo bom, que é primordial para dar a capacidade deles treinarem e ter condição de bola. É uma grande vantagem participar desse projeto”, disse.

E mesmo assim, todos os dias Chicão deixa uma mensagem, com uma história por trás, para os meninos, além de uma lição de vida, onde eles podem ou não ouvir e evoluir. “Eu trago uma mensagem todos os dias, e é sempre voltada dizendo que eles apliquem o que eles aprendem fora e dentro de campo, para o bem e que eles tenham vontade de fazer aquilos que eles gostam e fazem”, finalizou.

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