
Você sabia que o Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, foi o palco do sexto maior acidente aéreo em número de mortos ocorrido em território brasileiro? A tragédia aconteceu em 23 de novembro de 1961 e vitimou as 52 pessoas que estavam na aeronave, sendo 40 passageiros e 12 tripulantes. O voo 322 era de responsabilidade da companhia aérea Aerolíneas Argentinas, da Argentina. O aeródromo campineiro havia sido inaugurado pouco mais de um ano antes, no dia 19 de outubro de 1960, e este foi o primeiro acidente no local.
O avião, um Havilland Comet IV, batizado com o nome de Alborada, decolou do aeroporto às 2h20 e pouco tempo depois atingiu o solo em uma região de eucaliptos, próximo da Estrada do Friburgo, que liga a região do bairro Vida Nova até o aeroporto. Não houve sobreviventes e as causas do acidente se dividiram entre erro humano e falha da empresa.
O Havilland Comet foi elaborado como herança de uma corrida aérea após o final da segunda guerra mundial. O primeiro voo de aeronave deste tipo aconteceu em 1949 e despertou o interesse de grandes empresas do setor. Em 1952 entregou o primeiro avião comercial e se tornou um sucesso entre todos, por conta da velocidade e conforto. Os primeiros acidentes aconteceram em 1954, quando duas aeronaves literalmente se desmancharam no ar em um intervalo de quatro meses.
Após perder a licença durante algum tempo, o Havilland voltou a poder voar e em 1959 a Aerolíneas comprou seis aeronaves logo de primeira, sendo o primeiro avião a jato da companhia e foi colocado para ser usado em rotas internacionais da empresa. Naquele 23 de novembro, o voo faria a rota saindo de Buenos Aires, com escala em Campinas, depois Port of Spain, capital de Trindade e Tobago, e, por fim, Nova York.
O acidente
Segundo o relatório do acidente aéreo do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), a aeronave parou em Campinas para reabastecer e logo em seguida começou os procedimentos para decolar novamente. O céu estava encoberto por nuvens e a operação estava sendo feita por instrumentos. Logo após começar a subida, havia uma instrução de mudar o mecanismo de movimento do profundor, na cauda. Esse sistema nos aviões modernos é automático, mas nesta época era feita de modo manual.
De acordo com o relatório, quando se fazia a transição, o nariz tinha uma tendência a baixar e essa leve queda devia ser compensada de modo manual com o profundor. O copiloto Raul Mário Quesada, responsável pela decolagem, tentou fazer essa compensação elevando o nariz, quando os problemas começaram a definir o destino trágico do voo.
Por conta desse erro, a aeronave não recuperou a altitude e colidiu com árvores próximas. Houve uma ligeira recuperação, seguida de novas batidas e o avião atingiu o solo cerca de 300 metros depois do primeiro impacto, explodindo na sequência.
"O incêndio decorrente do impacto da aeronave com as árvores foi tão intenso que durante horas as equipes de socorro não conseguiram se aproximar do local do acidente", informou o relatório.
As causas
A investigação foi realizada entre autoridades governamentais dos dois governos e foi apontado que a causa do acidente foi erro de supervisão do piloto, erro de treinamento e atualização de sistemas por conta da empresa. A aeronave voou 3,1 mil metros antes do primeiro impacto.
"Nesta altura a aeronave não obedecia mais aos comandos. Após tocar o solo, prosseguiu em impactos violentos e de arrasto, até chocar-se em um barranco, num grotão, havendo explosão e desintegração total", informou o Cenipa.
Além disso, o relatório também concluiu na época que o motivo do desastre foi uma falha operacional, caracterizada pela não observação dos instrumentos básicos numa decolagem noturna.