HISTÓRIA

Compota de goiaba

Já ouviu falar dos aruaques? Eles foram os primeiros indígenas a fazer contato com os europeus que chegaram à América. A denominação gentílica, na verdade, fazia referência ao idioma que falavam. Todas as variações eram provenientes do tronco linguístico Arawak, o que literalmente significa “comedor de farinha”.

Por Sonia Machiavelli | 10/04/2021 | Tempo de leitura: 3 min
da Redação

Dirceu Garcia/GCN

Dá para fazer rapidinho se for para poucas pessoas.
Dá para fazer rapidinho se for para poucas pessoas.

Ingredientes

  • 1 kg de goiaba vermelha
  • 1/2 kg de açúcar cristal
  • 2 pedaços de canela em pau
  • 2 xícaras (chá) de água

 

Já ouviu falar dos aruaques? Eles foram os primeiros indígenas a fazer contato com os europeus que chegaram à América. A denominação gentílica, na verdade, fazia referência ao idioma que falavam. Todas as variações eram provenientes do tronco linguístico Arawak, o que literalmente significa “comedor de farinha”.

Quando Colombo os encontrou, em 1492, os aruaques viviam apenas nas Grandes Antilhas (Cuba, Jamaica, Hispaniola e Porto Rico). Tinham sido expulsos das Pequenas por um povo guerreiro, os caraíbas. Viviam em grandes aldeias e suas casas eram construídas com troncos, varas e folhas de palmeira. Praticavam uma agricultura de subsistência. Pescavam, coletavam mariscos, caçavam aves e mamíferos de pequeno porte. Receberam os invasores com fidalguia, apesar da perplexidade que deve ter sido ver homens cobertos com panos, saindo armados com objetos estranhos de uma gigantesca canoa com velas. 

Mas, à exceção da primeira hora, quando houve troca de amabilidades, os marinheiros que acompanhavam Colombo e, mais tarde,  exploradores espanhóis e portugueses, trataram os aruaques de maneira violenta. Escravizados, os donos da terra foram levados primeiro ao trabalho no campo; depois, nas minas. Os que não morreram de fome foram dizimados pelas doenças dos brancos, como as gripes, o sarampo e a tuberculose. Assim, se por volta de 1500 eles formavam comunidade de um milhão de indivíduos, meio século depois estavam reduzidos a 50 mil. 

Mas, curiosamente, seu léxico permaneceu vivo através de muitos verbetes incorporados ao português e ao espanhol. A palavra goiaba é um deles. Das Américas os lusitanos levaram o nome e as sementes para suas colônias africanas e asiáticas, com clima tropical. É por essa razão que na Ilha da Madeira se encontram tantas goiabeiras, a ponto de serem tidas como frutíferas locais. 

Gabriel Soares de Sousa, um português que emigrou para o Brasil e publicou em 1587 um livro sobre a nova terra, transformando-se num dos primeiros cronistas, refere-se à goiaba afirmando que por aqui a chamavam “araçaguaçu”, ou seja, araçá grande. De fato, quem já comeu araçá, fruta pequena, entenderá a aproximação. Mas embora em alguns rincões perdidos este nome tupi tenha prevalecido, foi o aruaque “goiaba” que se firmou por todo o país. 

O autor do “Tratado Descritivo do Brasil” foi também proprietário de um engenho de açúcar. Foi a esses proprietários de engenhos, e a outros colonos portugueses saudosos da marmelada europeia, que se atribuiu a origem da goiabada. À falta de marmelos, e dada da quantidade de goiabas e açúcar, eles criaram o grande doce brasileiro, como o definiu Gilberto Freyre. Servido em porcelana sobre toalhas de renda na Casa Grande, era produzido pelas escravas nos terreiros da senzala, em enormes tachos, para durar o ano inteiro. 

Há controvérsia. A pesquisadora Rosa Belluzzo, especialista em história da alimentação e autora do livro “Os Sabores da América” e co-autora de “Cozinha dos Imigrantes” e de “Doces Sabores”, afirma que a goiabada nasceu nos engenhos cubanos. Mas não é esta a opinião mais aceita. Por lá foram criadas as compotas, também de bonito efeito visual, boa durabilidade e sabor singular, diferente do doce em pasta. 

Dá para fazer rapidinho se for para poucas pessoas. As frutas devem ser de qualidade vermelha, maduras e firmes. A gente descasca com cuidado , corta ao meio, retira as sementes e deixa as cumbucas reservadas em tigela com água. Em seguida faz a calda com açúcar, água e rama de canela, até que fique em ponto ralo; são aproximadamente 15 minutos no fogo. Então, dispõe com cuidado na calda fervente as cumbucas de goiaba, uma dentro da outra, formando um colar- assim elas vão manter o formato. Baixa o fogo e deixa cozinhar até as frutas ficarem macias, mas sem se desmancharem. Desliga, espera esfriar na panela e então coloca em compoteira ou vidros- se for guardar. Com queijo branco, bem fresquinho, é sobremesa da qual ninguém se esquece; e faz pensar que pelo menos alguma coisa da colonização foi doce. 

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