CONFORTO

Sopa de feijão

Com as tardes mais frias, vem a vontade de tomar uma sopa quente, alimento para o corpo e a alma

17/05/2020 | Tempo de leitura: 4 min

Ingredientes

(para seis pratos)

 

4 xícaras (chá) de feijão cozido

2 xícaras (chá) de caldo de carne

1 xícara (chá) de molho de tomates

1 gomo de paio  

3 xícaras (café) de macarrão ave-maria

2 dentes de alho picados

1 cebola pequena em cubinhos

4 colheres de bacon em cubinhos

Sal a gosto

Pimenta a gosto

Salsinha, cebolinha a gosto

 

Quando a hera do muro da vizinha começa a  apagar  o verde e se tingir de tons acastanhados, quando em certas manhãs o céu muito azul é só lembrança na tarde nublada, quando a temperatura cai alguns graus durante a noite levando a gente a buscar mantas guardadas desde o ano passado, eu sei que ele chegou: nosso outono tropical, que mistura dias quentes com  noites frias. Prenúncio do inverno, a estação tem entre nós duas marcas singulares na natureza-  as flores coloridas das azaleias e as folhas mortas de algumas árvores no chão. Calma, os  ipês virão depois.

Pois é  nesse clima que as sopas reaparecem em nossa mesa, como uma das melhores “comidas de conforto” que conheço, pois aquece nosso corpo e nossa alma. No jantar, especialmente, ela cai como uma luva-  veludo quente e macio no estômago e no coração.

Há pessoas que não gostam, mas são raras. E talvez não tenham experimentado uma  feita com capricho. Porque se preparada com carinho, ingredientes adequados e bem combinados, servida na temperatura certa, é irresistível. A base é um caldo que pode ser de legumes, carne, frango.  Para mergulhar nele, legumes, massa, arroz, fubá, farinha de milho, peixe, frutos do mar, leguminosas, cogumelos... E  feijão. Ah, o feijão!

Para quem não sabe, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial  desse grão, cultivado por pequenos e grandes produtores em todas as regiões. Já foi o primeiro, até que na safra de 2013 perdeu lugar para países asiáticos como Índia e Myanmar. Milenar, o encontramos na Bíblia, no Egito, nas ruínas de Tróia, no Império Romano, nas cortes inglesa e francesa. Arqueólogos  reuniram vestígios de  seu consumo  no Peru  há  mais dez mil anos. Já no Brasil, era alimento de índios, atestaram os primeiros colonizadores. Assim, revelando invenção e  memória de  cozinhas de diferentes etnias e culturas, seu papel na  gastronomia  brasileira é de importância indiscutível. Junto com o arroz compõe o prato típico mais definidor da dieta nacional.

 No mundo, existem mais de cinco mil tipos de feijões. No Brasil, a preferência varia segundo as regiões. O carioquinha (o nome se deve às listras que lembram o calçadão de Copacabana) surgiu há  quarenta anos do cruzamento de outros tipos e é um dos preferidos do povo  paulista. O mais popular no Pará é o  manteiguinha; no Ceará, o feijão-de-corda;  em Minas Gerais, o jalo;  no Rio de Janeiro,  o preto;  na  Bahia, o fradinho; no Centro-Oeste, o rosinha;  em Santa Catarina, o branco. De acordo com o tipo, foram surgindo pratos só entre nós encontrados. Como o acarajé, feito com o fradinho; o baião-de-dois, com o feijão-de-corda;  a icônica feijoada, com o preto. A sopa de feijão, sugestão de hoje, deve ser preparada  de preferência com  o caldo do jalo.  Ela é típica dos  nossos vizinhos mineiros.

Se não encontrar o jalo, pode fazer com outro tipo; dá certo também. Deixe de molho por pelo menos duas horas. Há uma razão para isso. Ao permanecer na água por algum tempo, os grãos liberam uma substância que costuma produzir gazes em algumas pessoas. Depois escorra, cubra com outra água, cozinhe em panela de pressão até amolecer bem. Cozido e frio, bata no liquidificador com o próprio caldo mais o de  carne; passe por peneira. Reserve. Numa panela coloque o azeite, frite os pedacinhos de bacon e de paio, os dentes de alho, a cebola. Junte o molho de tomates (não o extrato, mas o melhor molho de tomates que conseguir). Isso  vai agregar sabor e conferir uma cor muito bonita à sopa. Por fim, o caldo de feijão. Quando levantar fervura, junte o macarrão, mexa bem e conte cinco minutos, tempo preciso para que a massa cozinhe al dente.Se gostar, salpique salsinha e cebolinha. Pimenta dedo-de-moça dá um toque leve de ardência. Bom demais é saborear ouvindo uma música sertaneja das antigas, cuja letra evoque tempos rurais, simples e já perdidos para sempre em sua inocência.

 

Passo a passo

 

1. Cozinhe o feijão deixado de molho por pelo menos duas horas

2. Depois de cozido e frio, bata no liquidificador com o próprio caldo e o  de carne; passe por peneira; reserve

3. Frite no azeite o bacon, o paio, alho e  cebola; junte o molho de tomates; e depois o caldo de feijão

4. Quando ferver, teste o sal e agregue o macarrão ave-maria, mexa  e deixe cozinhar por cinco minutos

5. Finalize com  salsinha, cebolinha; pimenta dedo-de-moça (sem sementes) se gostar

 

    

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