METÁFORA

Olho-de-sogra

Docinho de nome engraçado leva poucos ingredientes, é fácil de preparar, costuma agradar a todos os paladares e disputa a prefer

02/02/2020 | Tempo de leitura: 4 min

METÁFORA: Docinho de nome engraçado leva poucos ingredientes, é fácil de preparar, costuma agradar a todos os paladares  e   disputa a preferência com os brigadeiros na mesa de festa
METÁFORA: Docinho de nome engraçado leva poucos ingredientes, é fácil de preparar, costuma agradar a todos os paladares e disputa a preferência com os brigadeiros na mesa de festa

"Quem condena sua sogra/Por um motivo qualquer/Esquece que a mãe dele/ é sogra de sua mulher"
Sílvio Santos

 

 

porção: 10
dificuldade: fácil
preço: econômico

 
INGREDIENTES
 1 lata de leite condensado
 100 gramas de coco ralado
 2 colheres de sopa de manteiga
 300 gramas de ameixas pretas sem caroços  
 2 gemas
 Coco ralado para  finalizar


Sobre as sogras, muito se tem dito e escrito, desde que mundo é mundo, ou melhor, a partir da visão religiosa do Gênesis. Não lemos às vezes em dístico nas rodovias que “Feliz foi Adão que não teve sogra nem caminhão?”

Piadas existem aos milhares e em todos os idiomas. Umas são mais sutis: “Aqui jaz a minha sogra: descanso em paz!” Outras, realistas: “– O senhor poderia contribuir com o Lar dos Idosos?– É claro! Espere um pouco que eu vou lá em casa buscar a minha sogra!”. Algumas valem como exemplo de narrativa com duplo sentido: “Ao saber que o sócio do marido acaba de morrer, a mulher indaga: - Você pode colocar a mamãe no lugar dele? E o marido: - Por mim tudo bem, pergunte ao coveiro”.

Os narradores e criadores dessas micro histórias são na maioria homens. Mas as noras também sempre tiveram suas queixas, desde a mitologia grega. Que se revisite a lenda de Eros, filho de Afrodite, e Psiquê, a mortal filha de reis. Apaixonado por Psiquê, Eros a desposou, mas precisou se manter invisível para que a mãe não o soubesse. Apesar de bela, Afrodite demonstrava enorme inveja da beleza de Psiquê, e sabê-la sua nora desencadearia fúria terrível.

Toda essa introdução é para dar conta de pequena parte da pesquisa que realizei a fim de saber de onde viria o nome “olho-de-sogra”, ainda encontrado em muitas festas de aniversário de criança e de casamento. Imagino que a origem do doce, mas não seu nome, estaria em Portugal, nos conventos, onde nasceram tantos outros de nomes exóticos: Barriga-de-Freira, Brisa do Liz, Mimo de Azeitão, Tigeladas de Abrantes, Nógados, Sopa Dourada, Papos de Anjo, Lampreia de Ovos, Bolas de Berlim, Sericaia, Pastel da Graciosa e inúmeros outros.

Acho que todo mundo já provou um doce conventual, pois no Brasil alguns são bastante comuns. A base deles é sempre ovos e açúcar, mas algumas receitas vão variando com a junção de leite, amêndoas, canela, fios de ovos, coco, marzipã, vinho do Porto, etc. Apesar da base única, não significa que os doces tenham o mesmo sabor, já que a forma de preparo e outros ingredientes adicionados alteram a textura e também o gosto . Como o nome já diz, tais iguarias foram criadas por freiras que viviam em conventos e mosteiros em Portugal entre os séculos 13 e 14, quando o país era grande produtor de ovos e exportava as claras para produtores de vinho branco, pois elas eram então usadas como “purificante”; além de serem utilizadas para engomar as roupas dos ricos daquela época e na produção de hóstias. O que fazer com tanto excedente de gemas? Inicialmente elas iam simplesmente para o lixo ou eram usadas para alimentação de alguns animais. Até que alguma monja decidiu juntar açúcar a elas e iniciar a confecção dos primeiros doces. Nesta época, o açúcar chegava em larga escala a Portugal, vindo das Canárias.

O olho-de-sogra chamou-se inicialmente olho-de-cobra, porque não tinha nada que indicasse pupila. Depois, no Brasil, ao tempo em que existia aquele móvel chamado “namoradeira”, onde os jovens se sentavam para conversar na sala em frente da mãe da moça (que nessas ocasiões tricotava, fazia crochê ou lia o Livro das Horas), era de bom tom oferecer um docinho, em geral o “beijinho”, ao moço. Mas o olho da futura sogra estava lá, colado nos gestos e intenções. Daí alguém criativo inseriu a ameixa na receita do “beijinho”, criou um olhão e o batizou como hoje o conhecemos.

Você não levará meia hora para preparar. Os outros trinta minutos serão destinados à finalização. Primeiro retire a semente das ameixas. Se estiverem muito secas, ferva alguns minutos com um pouquinho de água e espere esfriar. O melhor mesmo é comprar as ameixas sem sementes. Faça um corte com faquinha, sem parti-las completamente. Reserve. Numa panelinha coloque o leite condensado, o coco, as gemas e a manteiga e leve ao fogo médio, mexendo sempre. Estará no ponto quando desgrudar do fundo e das laterais. Transfira para um prato e deixe esfriar. Faça as bolinhas, enrolando-as nas mãos umedecidas e depois rolando-as no coco ralado. Abra uma ameixa na palma da mão. Coloque a bolinha e feche. Para sofisticar, podem-se usar forminhas para acomodar os docinhos.

 

PASSO A PASSO

1 - Retire o caroço das ameixas, corte-as ao meio sem reparti-las,  reserve-as

2 - Junte leite condensado, coco, manteiga e  gemas; leve ao fogo;  mexa  sem parar até desgrudar do fundo da panela

3 - Coloque  num prato untado com manteiga e deixe esfriar

4 - Faça bolinhas, passe no coco ralado e reserve

5 - Abra na mão cada ameixa, recheie com a bolinha de doce e coloque em prato de servir

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.