TÍPICO

Flor de milho

Um bolo de cor amarela, textura rendada, rústico mas não seco, úmido mas não pesado, na medida certa para entrar no cardápio das festa

16/06/2019 | Tempo de leitura: 4 min

Um bolo de cor amarela, textura rendada, rústico mas não seco, úmido mas não pesado, na medida certa para entrar no cardápio das festas juninas ainda apreciadas pelos brasileiros
Um bolo de cor amarela, textura rendada, rústico mas não seco, úmido mas não pesado, na medida certa para entrar no cardápio das festas juninas ainda apreciadas pelos brasileiros
Se a gente cresce  com  os golpes duros da vida, também pode crescer com os toques suaves na alma.

Cora Coralina (1889-1985)
 
porção: 10
dificuldade: fácil
preço: econômico
 
ingredientes
 1 xícara (chá) de milharina
 3 ovos grandes
 ½ xícara (chá) de óleo de soja
 2 xícaras (chá)  de leite
 1 xícara (chá) de parmesão ralado
 1 xícara (chá) de açúcar
 1 colher (sopa) de fermento
 
 
Quinta-feira foi dia de Santo Antônio, o padroeiro dos namorados. Abriram-se assim as festas juninas, ainda de muito agrado do nosso povo. Elas só terminam no dia 29, dedicado a São Pedro, o que guarda as chaves do céu. Entre uma e outra, temos São João, no próximo 24. Este santo inspirou o escritor Luiz Cruz de Oliveira a escrever crônica para o caderno “Nossas Letras” do último domingo. A mensagem de “Batista, o João” é pouco sacra, nada profana, muito filosófica e tocou o coração dos leitores.

São João é o mais festejado dos santos de junho. Nos fundamentos de nossa colonização, a celebração trazida de Portugal foi adaptada aos trópicos. Se na terrinha o grão ao redor do qual toda a cozinha se movia era o trigo, aqui o eleito foi o milho, nativo e vário, cumpridor da missão de alimentar humanos e animais.

E quando falo em milho, é impossível não me lembrar de Cora Coralina, goiana fantástica cuja “casa velha da ponte”, como ela a chamava, visitei há alguns anos, em Goiás Velho. Como tudo que diz respeito à memória em nosso país, o museu em que a casa foi transformada andava naquela época em estado bem precário. Mas havia a estrutura, a fonte minando no quintal, a cozinha ancestral, e o riacho lá fora com sua ponte. Eram os eixos poéticos de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, o nome oficial de Cora Coralina. Embora tenha começado a escrever na adolescência, só publicou seu primeiro livro aos 76 anos: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. Nele se destaca “Oração do Milho”, e não “Oração ao Milho”, como se lê às vezes na internet. É um poema onde se podem recolher pela evocação imagens bucólicas e ao mesmo tempo ásperas do interior do Brasil, como a difícil lida nos campos, os costumes do povo, a inabalável fé religiosa, a imprescindível esperança, o jeito, enfim, de viver junto à natureza. Com palavras bem escolhidas, num ritmo absolutamente singular onde a poesia pode virar prosa e a prosa se transformar em poesia, Cora Coralina expressa o cotidiano singelo. A “Oração do Milho” mostra o ritual do plantio e da colheita do cereal, experimentado pelo povo da roça. Mas não só. Muitas vezes avança, aliando à simplicidade narrativa uma experiência existencial profunda onde questões sociais, como a do uso da terra, são tratadas com sutileza.

Em artigo que tem por título “A gratidão do humilde: uma análise do poema ‘Oração do Milho”, o professor Jildonei Lazzaretti diz que “os versos de Cora Coralina permitem uma leitura do milho (enquanto sujeito que ora) como representação de determinados indivíduos ou grupos sociais cujo valor não é reconhecido na sociedade, mesmo sendo indispensáveis para o desenvolvimento da mesma”. A pensar:

“Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito./Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante./Sou a farinha econômica do proletário./Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha./Alimento de porcos e do triste mu de carga./O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro./Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis./Sou o cocho abastecido donde rumina o gado./Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece./Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos./Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,/que me fizestes necessário e humilde./Sou o milho.”
Agora, vamos saltar da literatura para a cozinha. Uma receita pode ser uma espécie de poema que se faz com ingredientes. No caso de hoje, até o nome do bolo é romântico: “Flor de Milho”. De preparo muito rápido, é até difícil acreditar que fique bom. Mas fica, viu? Gostoso, fofo, rendado por conta do queijo, bonito por causa da cor, perfumado em razão do cravo e da canela. Nada mais adequado para colocar na mesa da festa de São João.

Ligue o forno em primeiro lugar: 180 graus. Unte com óleo e polvilhe com farinha uma forma redonda de buraco no meio. Com os ingredientes à vista e o liquidificador ao lado, respeite a ordem de entrada e o tempo a bater. Primeiro coloque no copo o óleo (bolos com óleo ficam mais leves), os ovos, o leite, o açúcar, o queijo ralado. Bata por três minutos. Em seguida adicione a milharina e bata por 15 segundos. O fermento vai por último- cinco segundos, só para misturar. Atente para o tamanho das xícaras, que devem estar bem cheias. Batida a massa, despeje na forma untada e enfarinhada e leve ao forno por trinta minutos ou até dourar. Teste com o palito para ver se está assado. Desenforme morno e cubra com misturinha de açúcar e canela.
 
Passo a passo
 
1 - Reúna os ingredientes: leite, ovos, óleo, milharina, queijo ralado, açúcar, fermento; mistura de açúcar e canela
 
2 - No copo coloque óleo, ovos, leite, açúcar, queijo e bata por três minutos.
 
3 - Junte a milharina; bata por quinze  segundos; e o fermento, mais  cinco segundos.
 
4 - Coloque na forma untada e enfarinhada; leve ao forno por meia hora aproximadamente
 
5 - Desenforme morno, cubra com açúcar e canela, sirva frio.  
 
 

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