Sonia Machiavelli mostra como fazer o Bolo Noel

Este bolo lembra infância quando Natal era festa que demorava a chegar

23/12/2018 | Tempo de leitura: 4 min

Não faz tanto tempo assim, panetone no Natal era raridade. Pelo menos fora das metrópoles. Quem quisesse que fizesse o seu. Não era muito fácil, como talvez se pense. O desafio começava nas formas apropriadas, que não se encontravam no varejo e tinham de ser encomendas em funilarias. Quanto à massa, às vezes faltavam algumas das frutas secas tradicionais, mas era boa mesmo assim. No entanto, quando os industrializados começaram a lotar mercearias e supermercados a partir dos anos 80, ninguém quis mais saber dos caseiros. Hoje, há panetones de mil tipos; está ficando difícil é achar o simples, o original.

Se quase ninguém se aventura mais pelos caminhos do panetone, os do bolo com especiarias, frutas e castanhas ainda estimulam muita gente que gosta de preparar algo com as próprias mãos para a família e os amigos. Particularmente valorizo muito; e o Bolo Noel é o meu preferido, pois está bem dentro do espírito natalino tal e qual o concebo. O bom não precisa ser sofisticado.

Ao meu coração traz uma alegria infantil bater a massa com cuidado, pensando nos Natais que se foram, nos que permaneceram, nos que talvez ainda alcance- e aí vai uma pincelada de otimismo. Enquanto observo o movimento das pás na batedeira, mesclando manteiga, açúcar e gemas, resgato misturas de cenas antigas, quando o Natal era época que custava a chegar, quer dele falássemos no começo do ano letivo ou nas férias de julho. A festa cristã despertava ansiedades e fomentava sonhos. “No Natal gostaria de ganhar isso, no Natal queria que acontecesse aquilo, no Natal vai aparecer algo de especial...” E assim por diante, ano após ano, eu apostava em ideias descabidas, improváveis, impossíveis, mas que ajudavam a tocar os meses seguintes, depois da frustração dos dezembros. Ano que vem, quem sabe? E retomava o sonho. De ilusão também vivem muitas crianças. Mas a beleza do Natal reside na esperança que anima todo humano.

Quanto às especiarias juntadas com as frutas secas, para mim fazem todo sentido nesta data, pois me lembram os Reis que vieram do Oriente para entregar ao Menino seus presentes. Não tem ouro, nem incenso, muito menos mirra na massa do meu bolo preferido. Mas tem a cor bronzeada do Magos, certo brilho de estrelas conferido pela cobertura que escorre pelas laterais; tem aroma intenso de especiarias como canela e cravo, que se desprendem logo que a massa começa a assar; tem a alegria das cores- o amarelo dos damascos, o branco das amêndoas, o vermelho das berries na superfície, avisando que estão também no interior do bolo, contrastando macio e crocante, atiçando nosso paladar.

Vamos ao modus operandi. O passo primeiro de todo bolo é untar a forma e polvilhar farinha. Assim ela fica preparada para acolher a massa. Depois é ligar o forno, que deve estar aquecido no momento da operação “assar.” Então comece. Deixe as passas de molho no conhaque e pique miúdo as amêndoas. Peneire numa tigela grande a farinha com o fermento e junte a canela, o cravo e as amêndoas picadas. Misture bem e reserve. Na tigela da batedeira, reúna manteiga e açúcar e bata por dez minutos até virar um creme fofinho. Junte os ovos, um de cada vez, e continue batendo. Acrescente a mistura de secos aos poucos e bata a cada adição para misturar. Desencaixe a tigela da batedeira. Escorra as passas (reserve o conhaque) e junte à massa com as frutas cristalizadas. Misture delicadamente. Transfira para a forma e leve ao forno por cerca de 40 minutos. Estando assado, retire, deixe amornar, desenforme e pincele a superfície com o conhaque reservado. Quando esfriar, decore com o glacê e as frutas. Para fazer o glacê, misture os ingredientes e leve ao fogo baixo mexendo sem parar por dois minutos. Com uma conchinha, regue o glacê e em seguida decore com as frutas.

Este é um bolo para a gente fazer com trilha musical. Pode-se começar com Assis Valente e o “Anoiteceu/ O sino gemeu/ A gente ficou/ Feliz a rezar// Papai Noel/ Vê se você tem/ A felicidade/ Pra você me dar.” Seguir com “Bate o sino/ Pequenino/ Sino de Belém// Já nasceu/ Deus-menino/ Para o nosso bem.” Finalizar ao som do lindo “Noite Feliz/ Noite de Paz/ Oh! Senhor/ Deus de amor/ Pequenino nasceu em Belém/ Eis na lapa Jesus/ Nosso bem/ Dorme em paz/ Oh! Jesus! Dorme em paz/ Oh! Jesus”.
 

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Ingredientes

 2 xícaras (chá) de farinha de trigo
 200 gramas de manteiga  em temperatura ambiente
 ½ xícara (chá)  de açúcar mascavo
 4 ovos
 ½ xícara (chá) de amêndoas em lascas
 ½ xícara (chá) de frutas cristalizadas picadas
 ½ xícara (chá) de uvas-passas pretas
 ¼ xícara (chá) de conhaque 
 1 colher (sopa) de fermento
 1 colher (café) de canela em pó
 1 colher (café) de cravo em pó
 Manteiga e farinha para untar a forma
 
Cobertura
 1 xícara (chá) de  açúcar refinado
 ¼ xícara (chá) de leite
 1 colher (sopa) de manteiga
 Damasco 
 Amêndoas
 Cerejas ou berries
 
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Passo a Passo
 
Bata manteiga, açúcar, ovos e junte a farinha misturada com fermento e amêndoas
 
Junte as frutas cristalizadas e as uvas passas escorridas; mexa bem
 
Transfira a massa para a forma, alise com as costas de uma colher
 
Sobre o bolo frio, despeje  com uma conchinha  a calda morna 
 
Enfeite com  frutas cristalizadas, amêndoas,  damascos cortados 

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