Ovo ao quadrado

Bater clara e gema, juntar temperos e levar ao fogo até coagular é pratica conhecida em todo o mundo; a receita de hoje tem toque espanhol

04/11/2018 | Tempo de leitura: 4 min

Universal Bater clara e gema, juntar temperos e levar ao fogo até coagular é pratica conhecida em todo o mundo; a receita de hoje tem toque espanhol
Universal Bater clara e gema, juntar temperos e levar ao fogo até coagular é pratica conhecida em todo o mundo; a receita de hoje tem toque espanhol
A galinha da minha vizinha bota ovo melhor que a minha”
Ditado português
 
 
porção: 24 quadrados
dificuldade: fácil
preço: econômico
 
ingredientes
 8 ovos
 ½ xícara (chá) de farinha de trigo
 1 colher (sobremesa) de fermento em pó
 2 xícaras (chá) de requeijão cremoso
 450 gramas de queijo tipo minas ralado
 4 colheres (sopa) de manteiga derretida
 120 gramas de azeitonas verdes sem caroço
 ½ colher (chá) de sal
 
“De manhã na cozinha sobre a mesa vejo o ovo.
 
Olho o ovo com um só olhar. Imediatamente percebo que não se pode estar vendo um ovo. Ver o ovo nunca se mantém no presente: mal vejo um ovo e já se torna ter visto o ovo há três milênios. – No próprio instante de se ver o ovo ele é a lembrança de um ovo. – Só vê o ovo quem já o tiver visto. – Ao ver o ovo é tarde demais: ovo visto, ovo perdido. – Ver o ovo é a promessa de um dia chegar a ver o ovo. – Olhar curto e indivisível; se é que há pensamento; não há; há o ovo. – Olhar é o necessário instrumento que, depois de usado, jogarei fora. Ficarei com o ovo. – O ovo não tem um si-mesmo. Individualmente ele não existe.”
 
Estes são os dois parágrafos iniciais do conto “O ovo e a galinha”, de Clarice Lispector. É um texto extraordinário, prosa poética cuja condensação máxima de sentidos lemos sob o efeito encantatório das palavras. Só mesmo ela, na sua singularidade magnífica, saberia escolher e encadear palavras dessa maneira,para levar o leitor à profunda reflexão sobre a misteriosa origem do ser e a fragilidade do existir. Clarice chegou a dizer que o escreveu num certo estado de transe.
 
O ovo inspirou outros prosadores e alguns poetas. Dentre estes, o rigoroso João Cabral de Mello Neto, autor do poema “O ovo de galinha”. Destaco as quatro primeiras; “Ao olho mostra a integridade/ de uma coisa num bloco, um ovo./ Numa só matéria, unitária/ maciçamente ovo, num todo.// Sem possuir um dentro e um fora,/ tal como as pedras, sem miolo:/ é só miolo: o dentro e o fora/ integralmente no contorno.//No entanto, se ao olho se mostra/ unânime em si mesmo, um ovo,/a mão que o sopesa descobre/que nele há algo suspeitoso:/que seu peso não é o das pedras,/inanimado, frio, goro;/que o seu é um peso morno, túmido,/ um peso que é vivo e não morto”.
 
Pensadas em todas as suas instâncias, pautadas pela objetividade e racionalismo, desautorizando elementos que decorram de instâncias emocionais, as dezesseis estrofes de quatro versos octossílabos se distribuem em quatro partes, cada uma composta por quatro estrofes. Clareza e exatidão são traços essenciais no estilo do artista pernambucano, reafirmando sua concepção de poema como “rigorosamente objeto da linguagem.”
 
São dois estupendos textos que nos orgulham enquanto brasileiros e recomendo aqui a todos que gostam também de ler, porque tenho encontrado muita gente que demonstra este duplo interesse reunindo literatura e culinária. O de Clarice encontra-se no seu livro de contos “A legião estrangeira”, de 1964. O de João Cabral faz parte de “Serial”, de 1961. Ambos podem ser encontrados facilmente no Google.
 
Quanto à receita, tem o timbre espanhol, mas aparece em muitas culturas. Desde que o mundo é mundo, bater ovos, acrescentar temperos e levar ao fogo até coagular é prática comum. Até algum tempo atrás nutricionistas e médicos reduziam o consumo de ovos a três por semana ao máximo. Mas como tudo muda, novas pesquisas indicaram que o ovo não é o culpado-mor pelo aumento do colesterol ruim; ou melhor, nem é culpado. Então, reabilitado, o ovo voltou à cozinha e o consumo só tem aumentado. A receita dos quadrados de ovo é assada e servida com salada verde se torna prato único. É fácil de preparar, toma pouco tempo e fica muito gostosa. Pode ser servida morna ou fria. A massa pode ser preparada até com uma hora de antecedência, e antes de ser levada ao forno, receber as azeitonas ou outros ingredientes como pimenta verde, pimentão amarelo, ervilhas em conserva.
 
Duas dicas práticas: mantenha os ovos dentro da embalagem porque isso evita que percam a umidade e que absorvam odores de outros alimentos que estiverem na geladeira. E sempre faça a prova para ter certeza de que estão frescos. Para isso, coloque um ovo numa tigela com água fria e sal- se ele afundar, pode quebrar e usar; caso contrário, descarte.
 
Comece aquecendo o forno a 175 graus. Unte uma assadeira média com manteiga e polvilhe farinha. Bata os ovos numa tigela grande. Acrescente a farinha, o fermento, o sal, o requeijão, o queijo ralado, a manteiga. Misture bem. Adicione as azeitonas sem caroços picadas em quatro, no sentido do comprimento. Mexa para integrar tudo. Despeje na forma previamente preparada e leve ao forno já aquecido. Asse até que a massa esteja crescida e bem firme ao toque. Em geral batam 40 minutos, mas depende do forno. Quando dourar, estará pronta. Retire, deixe amornar e corte em quadrados de 4x4. Coloque-os na travessa de servir e, se quiser, decore com tomatinhos-cereja cortados ao meio e pimenta doce em rodelas, como se vê na foto.
 
Passo a passo
 
1 - Numa tigela grande  bata bem os ovos até que espumem
 
2 - Junte farinha, fermento, sal, requeijão, queijo ralado, manteiga e mexa bem
 
3 - Adicione as azeitonas picadas e volte a mexer.
 
4 - Despeje em assadeira untada e polvilhada com farinha; leve ao forno
 
5 - Asse por 40 minutos, até que cresça, torne-se firme e exiba cor dourada na superfície
 
 
 
 
 
 

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