Salada de laranja

“La Sicilia c’e il profumo d’arancio”, dizem por toda a Itália. A frase é repetida também por turistas estrangeiros que já tiveram

05/08/2018 | Tempo de leitura: 4 min

 
 
INGREDIENTES
 4 laranjas
 1 bulbo de erva doce
 2 colheres(sopa) de azeite
 1 pitada de sal 
 Pimenta-do-reino moída na hora 
 Folhinhas de erva-doce para enfeitar
 6 azeitonas pretas (opcional)
 
 
“La Sicilia c’e il profumo d’arancio”, dizem por toda a Itália. A frase é repetida também por turistas estrangeiros que já tiveram o privilégio de ir a um dos lugares mais encantadores do planeta: “A Sicilia tem perfume de laranja”. De fato; e especialmente se você visitar Catânia, no sudeste da ilha, durante a primavera, quando o aroma da “zagara”, ou flor de laranjeira, se desprende dos bosques que cobrem as encostas baixas e muito férteis do Etna, o vulcão mais ativo da Europa. A combinação entre o solo naturalmente rico, as mudanças de temperatura (dias quentes e noites frias) e a qualidade da luz na base da montanha, criou um milagre da natureza chamado “arancia rossa”, caracterizada por cor vermelha, polpa suculenta e gosto doce. Divide-se em três espécies: a Sanguinello, a mais vermelha e doce; a Moro, menos vermelha e mais ácida; e a Tarocco, sem sementes, um pouco mais clara que as outras, e muito utilizada nessa salada clássica que é nosso assunto deste domingo. 
 
Além da cor e do sabor que as distinguem, as variedades sicilianas contam com outra qualidade: seu poder de varrer para longe as impurezas do organismo humano, o que foi tema de pesquisas e teses no mundo inteiro, inclusive na UNESP. Análise bioquímica de 2011, que durou oito semanas, realizada pela professora de nutrição Claudia Lima, sob orientação da bióloga Thaís Borges César, com 35 voluntários, concluiu que o suco dessa linhagem de fruta reduziu em 9% a taxa de colesterol ruim de humanos. Foi comprovado que é rica fonte de substâncias que combatem a ação dos radicais livres evitando riscos de doenças cardiovasculares. Com plantio ainda pequeno em nosso país, a laranja vermelha — por aqui chamada falsa sanguínea, sanguínea-de-mombuca, laranja-da- Sicília — não costuma ser encontrada com facilidade nos supermercados das cidades brasileiras. De vez em quando aparece nos varejões e com ela se pode preparar a salada da foto, embora tenhamos para tal uma substituta que não faz feio, a nossa laranja Bahía. Experimentei e gostei muito do resultado.
 
 Acho que de vez em quando precisamos sair da caixa em relação aos alimentos. No Brasil, consumimos laranja in natura, esprememos para o suco, fazemos doces e geleias, inserimos entre ingredientes de bolos, pudins e coberturas, ou seja, a associamos quase sempre a receitas doces. Em pratos salgados, à exceção do acompanhamento para feijoada, poucas vezes aparece. E... por que não? Questão de hábito, difícil de mudar. Mas essa salada é uma prova de que o sabor ácido combina muito bem também com sal. Lembrei-me agora de que na minha infância tínhamos como vizinhos uma família de italianos cujas crianças colocavam uma pitada de sal sobre a laranja descascada para ser chupada. Seria uma memória afetiva transmitida pelos avós? Chi lo sa?!
 
E como é que se distingue a laranja Bahía ou da Sicília da laranja-pera? Pra começo de conversa, sua cor é inigualável. Seu tom intenso chama atenção e relega a outra a segundo plano. É bem maior e tem um tipo de umbigo na parte oposta a seu cabo. Seu preço é mais alto do que a comum, é necessário registrar, porque é importada... do Chile, contam os feirantes deste nosso globalizado mundo. Mas se você achar apenas laranja comum no seu caminho, experimente assim mesmo. Cozinha é laboratório, espaço de criatividade e invenção. Se as frutas forem boas, suculentas, perfumadas, sempre valerá a pena.
 
Separe o bulbo da erva-doce. Reserve as folhas e a parte verde do talo para outros preparos. Use uma faca de lâmina afiada e corte em rodelas bem finas apenas a parte branca. Transfira para uma tigela com 1 litro de água gelada e deixe de molho por 15 minutos. Retire com um pegador a erva-doce da água em vez de escorrer. Com essa técnica possíveis resíduos de terra ficarão no fundo da vasilha. Transfira para um escorredor, enxágue e deixe escorrer novamente. Elas devem ficar sequinhas, sem qualquer lembrança de água. Agora, as laranjas. Usando a mesma faca descasque cada uma com cuidado para manter o formato mas tirar toda a parte branca, pois é essa que amarga. Reserve uma inteira. Depois, corte as três restantes em rodelas finas, de meio centímetro. O caldo que possivelmente escorra, deixe de reserva. Numa travessa de levar à mesa, coloque no centro a laranja inteira descascada e sem pele. Ao redor disponha em camadas alternadas as rodelas de laranja e de erva-doce. Numa tigelinha misture o caldo reservado, 
o azeite, o sal e a pimenta-do-reino grosseiramente picada e bata com fouet ou garfo por dois minutos. Distribua sobre as laranjas e a erva-doce. Se gostar, junte azeitonas pretas. Para completar, decore com as folhinhas superdelicadas de erva-doce e sirva em seguida. É uma entrada refrescante,  que surpreende pela harmonização de sabores e - como não?- pela apresentação.

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