Creme de pinhão: um doce típico do Sul do Brasil

Semente da araucária, aquele linda árvore que singulariza as paisagens do Sul e do Sudeste.

01/07/2018 | Tempo de leitura: 4 min

INGREDIENTES
 100 gramas de pinhão cozido descascado e triturado
 1 colher de sopa de manteiga
 1 lata de leite condensado
 1 colher de chá de açafrão da terra
 1/2 caixa de creme de leite
 
 
Semente da araucária, aquele linda árvore que singulariza as paisagens do Sul e do Sudeste brasileiros, o pinhão entra em muitos pratos doces e salgados, habilmente preparados por moradores daquelas regiões. Nesta época do ano, quando as festas juninas avançam pelo sétimo mês do ano e se tornam julinas, ele tem presença garantida na mesa dos  paranaenses, catarinenses e gaúchos.  Integra receitas de nhoque, pastel, farofa, risoto, saladas, sopas, panquecas, estrogonofes, carnes assadas, empadões. Faz parte essencial do prato rústico, substancioso e muito saboroso chamado entrevero. Complementa o  magnífico arroz de pato, elemento culinário que compõe no segmento gastronômico o acervo cultural dos imigrantes europeus chegados à região no final do século XIX.
 
O pinhão cai do pé entre maio e julho. O melhor é que, por seu alto valor calórico (100 gramas de pinhão cozido têm 195 calorias), o alimento é perfeito para aquecer os ânimos no friozinho típico do nosso inverno tropical. O pinhão é também altamente nutritivo, e isso já se sabe há tempos. No século 19, o historiador inglês Thomas Bigg-Wither registrou o quanto a semente da araucária era importante na dieta dos índios do Paraná, que “só se alimentavam dela durante semanas seguidas”. Ainda que radical,  dava certo porque o pinhão  é muito rico em proteínas e ainda contém vitaminas do complexo B, potássio, cálcio e fósforo. Ou seja, tudo o que é importante para o organismo se manter vivo e saudável. 
 
Mas, apesar da grande importância para as populações sulistas, o pinhão chegou a correr risco de extinção, por conta da devastação das araucárias, em tempo de derrubadas em grande escala por conta de interesses imobiliários e extrativista”. Com  o perigo iminente, ambientalistas entraram em campo e batalharam pela assinatura de leis ambientais que protegessem a espécie e regulamentassem seu uso comercial.
 
Mais comumente, o pinhão é consumido cozido. Essa é a única parte custosa, mas depois a gente vê que o prazer de saborear o pinhão compensa o tempo gasto para prepará-lo. Algumas dicas facilitam o trabalho. Em primeiro lugar, devem-se escolher as sementes cujas cascas estejam brilhantes, com vários tons de marrom e sem furos. Em seguida, é lavar bem, sob  água corrente, e cortar as pontinhas, o que se faz usando uma tesoura de cozinha. Aí é colocar  na panela de pressão, cobrir  com água, levar ao fogo e deixar cozinhar por 40 minutos. Desligue, espere esfriar, abra a panela e retire os pinhões. Com uma faquinha, corte no sentido do comprimento  (e aí aquele corte com tesoura vai facilitar o trabalho) e retire a semente cozida. Ela é bonita, lustrosa, tem um desenho elegante. 
 
Citamos acima pratos salgados onde entra ao pinhão. Há usos também doces. O  creme de pinhão cuja foto ilustra esta página é fácil de preparar e fica muito gostoso. Aproveite que os pinhões estão à venda a preço razoável nos varejões de nossa cidade e experimente o gosto sulista dessa sobremesa que costuma ser servida em copinhos de cachaça ou mini  cumbucas. Enquanto seu paladar vai registrando várias notas de sabor, pense nas grandes árvores de copas peculiares em suas camadas, tronco reto e forte de casca rugosa. Só encontradas no hemisfério Sul, a elas  os índios caiovás chamavam  curi, que significa pinheiro. Daí, Curitiba, a capital do Paraná, desde a gênese conhecida como “terra dos pinheiros”... Mas esta é outra história. De volta à cozinha!
 
Em uma panela coloque  a manteiga, deixe derreter sem fritar. Fique atenta, pois manteiga queima rápido. Retire do fogo e reserve.  Despeje o leite condensado na manteiga derretida e volte ao fogo baixo, mexendo até começar a borbulhar Neste momento  acrescente  o açafrão da terra e mexa para obter uma linda cor amarela que só este pó consegue imprimir ao doce. Junte então o pinhão cozido e triturado (no processador ou no liquidificador) e continue mexendo. Quando atingir o ponto de brigadeiro mole, retire do fogo. Assim que amornar, junte o creme de leite e  bata vigorosamente com  colher de pau ou fouet de alumínio. É isso que vai garantir brilho ao doce. Distribua frio em copinhos de cachaça ou  em pequenas cumbuquinhas. Decore a superfície com o pinhão triturado, como se vê na foto.

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