Bolo de fubá

As festas juninas revelam-se a nós, em pleno século XXI, como oportunidade de contemplar o que ainda resiste de genuinamente

24/06/2018 | Tempo de leitura: 4 min

Ingredientes
 4 ovos
 1 xícara (chá) de açúcar
 2 xícaras (chá) de fubá
 3 colheres (sopa) de farinha
 ½ copo de óleo
 ½ copo de leite integral
 ½ copo de leite de coco
 1 colher (sobremesa) de erva-doce
 1 colher (sopa) de fermento em pó
 
Cobertura
 2 colheres (sopa) de goiabada em pasta
 2 colheres (sopa)de coco ralado
 
 
As festas juninas revelam-se a nós, em pleno século XXI, como oportunidade de contemplar o que ainda resiste de genuinamente brasileiro na cozinha que trouxe da senzala ingredientes dos quais o povo da casa-grande se assenhoreou. Tudo na mesa forrada com toalhas de padrão xadrez, encimada por varais  com bandeirolas e balões, enriquecida por  trilha sonora à base de sanfona e letras românticas, nos remete a uma história de país essencialmente agrícola, o que fomos até os anos 60 do século passado. Talvez se explique por aí tanta fartura perfumada com cravo e canela, tão abundante menu a desafiar a gulodice com quitutes como canjica, pamonha, curau, pipoca, espiga cozida, batata-doce assada, biscoito de polvilho  frito, cocada, doce de abóbora, paçoca, pé-de-moleque, amendoim doce, cajuzinho, bolinho de quermesse, quentão, vinho quente...E bolos, que nunca podem faltar.
 
É de impressionar o número de bolos encontrados Brasil a fora nesta época do ano: de milho, mandioca, tapioca, coco, farinha, fubá; assados em tabuleiros ou formas redondas; geralmente sem recheio, apenas massa pura com muito sabor do ingrediente básico com que foi elaborado. Tudo tem sabor intenso, remete à infância, vem atravessando séculos, possui o condão de nos oferecer conforto. Por isso deveria ser degustado sem culpas. 
 
Uma breve passada de olhos por este cardápio mostra que o milho reina absoluto. Depois dele vem a mandioca, raiz que exerceu poderosa  influência no processo de colonização; o coco, muito presente nos pratos que os africanos mostraram aos brasileiros como usar além da forma in natura; o amendoim, que o índio cultivava já em larga escala  quando chegaram os ditos “civilizados”. E estes tiveram de se adaptar. 
 
Se em Portugal o  mês de junho era dedicado às festividades religiosas dos santos Antônio (padroeiro de Lisboa), João e Pedro, e à colheita do trigo, cereal apanhado durante o verão, ao chegarem ao Brasil os colonizadores precisaram adaptar a comemoração de suas efemérides ao nosso clima, com breve  inverno no mesmo período do ano em que o calor ganhava o continente europeu. Assim, já que as espigas colhidas nos trópicos eram as do milho, plantado em março  para receber toda a carga de água do fim do verão, então que fossem elas as levadas à mesa festiva daqui para celebrar os santos que eram os  de lá. E os santos foram acolhidos de forma tão fervorosa pelos brasileiros que ganharam assento definitivo nos corações dos fieis. Com  direito a festas que já contam quase cinco séculos e continuam sendo de arromba no Nordeste. Que o diga quem já foi a Caruaru, Campina Grande, Mossoró nesta época e viu São João explodir em cores, aromas e ritmos não apenas na data de sua celebração, 29, mas por todos os dias do mês.   
Historicamente as características da cozinha junina revelam os primórdios da colonização e  a subsequente miscigenação dos povos que habitaram o território no período, como os índios, africanos e europeus. A junção das três culturas, de costumes tão diversos, e o respeito, reconhecimento e valorização  dos cultivos brasileiros, levaram à criação de um cardápio singular, brasileiríssimo. Nele, o bolo de fubá tornou-se icônico pelo que representa de rusticidade, doçura e transformação, se reconfigurando com os séculos, ganhando o acréscimo de novos ingredientes, reestruturando-se com modernas técnicas. Se nos seus primórdios a massa era cozida e depois batida energicamente para então ir ao forno à lenha, hoje o fermento em pó dispensa a primeira etapa e a segunda é substituída pela batedeira elétrica ou pelo liquidificador. Esse ganho de tempo, e a acessibilidade a novos ingredientes antes caros ou inexistentes, como a farinha de trigo e o leite condensado, permitiram aos cozinheiros descobrirem novas fórmulas para o bolo básico, que é o que se vê na foto. Fica fofinho, com o sabor do fubá balanceado pelo do coco. A cobertura é das mais singelas, mas faz diferença: goiabada em pasta e coco ralado. 
 
Ele é bem fácil de fazer. Coloque no copo do liquidificador primeiro os ovos e os ingredientes líquidos. Depois os secos. Bata até formar um creme homogêneo. Transfira para a forma untada e polvilhada com fubá. Asse por 40 minutos ou até que o palito  enfiado na massa saia seco. Respeite as medidas e acenda o forno antes de começar para que quando a massa estiver pronta ele possa entrar com os 180 graus desejáveis. Desenforme morno, besunte com a goiabada em pasta, salpique o  coco ralado e seco. Bom para comer com as crianças contando um pouco da nossa história, cada vez mais ignorada pelas novas gerações. 

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