Salada de feijão

Feijões são cultivados no continente americano desde priscas eras. Disso já se sabia, mas que seu berço fosse o México só ficou cientificamente

11/03/2018 | Tempo de leitura: 4 min

Ingredientes:
 ½  kg de feijão branco cozido
 2 latas de atum sólido tipo light  escorrido 
 1 cebola  pequena   branca cortada em meia lua
 1 cebola pequena  roxa  cortada em meia lua
 2 tomates sem pele e sem sementes cortados em cubinhos
 150 gramas de azeitonas pretas
 150 gramas de ervilhas congeladas
 6 colheres (sopa) de azeite
 2 colheres (sopa) de suco de limão
 Sal a gosto
 
Feijões são cultivados no continente americano desde priscas eras. Disso já se sabia, mas que seu berço fosse o México só ficou cientificamente comprovado há seis anos, quando uma equipe liderada pelo geneticista Roberto Papa, do Conselho de Pesquisa Agrícola da Itália, examinou o DNA de formas selvagens da planta colhidas em cinco regiões do planeta.
 
Antes disso, arqueólogos e botânicos tinham como certo que o feijão era planta nativa dos Andes, de onde teria migrado tanto para o norte, rumo à América Central, como ao sul, para o Brasil. Aliás, era mais ou menos esta a distribuição geográfica do grão antes de Colombo e Cabral aportarem à Nova Terra. Quando os europeus chegaram, viram que os nativos o plantavam junto com o milho- uma tradição que persiste até hoje na agricultura familiar. Era então, por volta de 1500, parte importante da dieta indígena. Levado à Europa, impediu que milhões morressem de fome. Hoje é cultivado no mundo todo. 
 
Na mesa brasileira ele não pode faltar, formando par constante com o arroz. O consumo per capita é de 16 quilos por ano. Mas não se come o mesmo feijão em todas as regiões do país. Paulistas gostam do carioquinha, pouco conhecido dos moradores do Rio, onde o campeão absoluto é o preto. Nordestinos preferem mesmo é o feijão-de-corda. Mineiros têm manifesto interesse pelo roxinho. Paraenses usam no seu cotidiano o manteiguinha. 
 
O gosto diferenciado por determinado tipo de feijão e a forma de consumi-lo costumam estar associados à própria história local. Nas regiões brasileiras, diferentes receitas com feijões mostram isso. Mas temos de ir além da história para entendermos que a formação de um padrão alimentar requer outros fatores de natureza cultural, ambiental, sociológica, antropológica, de viabilidade de plantio, colheita, distribuição e preço, entre outros. 
 
Nas Minas Gerais do Brasil Colônia, o mulatinho era misturado com bastante farinha de mandioca e guarnecido ora com carne seca, ora com pedaços de torresmo, transformando-se no conhecido feijão de tropeiro. Destituído de caldo, seco a lembrar farofa, podia ser transportado sem sofrer danos nos constantes solavancos a cavalo pela região montanhosa das Gerais. Alguns pintores que miraram o período mostram nas telas tropeiros com a mão cheia levando o preparo à boca. Fácil de comer, mesmo a cavalo, ensinavam os bandeirantes.
 
Em São Paulo, engrossava-se o carioquinha com farinha de milho, isso já na mesa do fazendeiro, juntando-se pedaços de linguiça frita ao que se chamava tutu e era servido com arroz e ovos fritos ou cozidos. Este prato dará origem ao “virado à paulista”, cuja receita tornou-se recentemente patrimônio cultural chancelado pelo Iphan. Na capital, são dezenas os restaurantes que o servem nas segundas-feiras.
 
Entre os baianos a culinária que impôs ingredientes como azeite-de-dendê, pimentas, leite de coco e diversificados temperos, exigiu para o acarajé e abará, o fradinho. Mais para cima, o feijão-de-corda misturado ao arroz produz um prato bastante popular chamado “baião-de-dois”. Só esta espécie de feijão fará par perfeito para os grãos de arroz aos quais se ligará por pedacinhos do famoso queijo-coalho. 
 
Em Belém o tipo manteiguinha, bem claro e quase desconhecido de nós, paulistas, é muito utilizado, tendo sido levado à região por Henry Ford na áurea época da produção de borracha na Amazônia. Tem uma história mais que secular, portanto. 
 
No Rio de Janeiro o feijão preto constituiu ingrediente basilar da feijoada, prato apreciado por cariocas e brasileiros de todos os rincões. Tornou-se até referência icônica da nossa brasilidade, com aquela história de que nasceu nas senzalas, onde os escravos aproveitavam as carnes plebeias que a casa grande menosprezava para reuni-las ao feijão preto então abundante na região. Há quem discorde dessa gênese, lembrando a mistura de feijões e carnes já era conhecida dos franceses ao tempo do descobrimento do Brasil. O tal do cassoulet, com feijão branco, pois é. 
 
Por falar no feijão branco, ele é protagonista em alguns clássicos italianos, um deles, a salada com atum, servida bem fria no verão. Como os dias ainda estão quentes, espero que a sugestão agrade. 
 
Para fazer a salada dessa página, cozinhe o feijão depois de o ter deixado de molho por uma noite. Coloque uma pitada de sal na água antes de iniciar o processo e não deixe que os grãos cozinhem demais. Eles precisam ficar tenros mas inteiros. Escorra e deixe esfriar. Pique a cebola roxa e a branca em meias-luas e escalde-as. Reserve. Pique os tomates pelados e sem sementes em cubinhos e reserve-os também. Cozinhe as ervilhas até que fiquem tenras, escorra, reserve. Desmanche em lascas o atum escorrido. Coloque os feijões numa tigela, junte as cebolas e os tomates. Misture. Agregue as ervilhas já frias e as lascas de atum. Tempere com suco de limão e azeite. Mexa delicadamente e acerte o sal. Agregue as azeitonas. Cubra a vasilha com filme plástico e leve à geladeira por pelo menos uma hora. No momento de servir, disponha a salada numa travessa forrada com folhas de alface. 

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.