Guacamole

Li há alguns dias artigo pitoresco sobre nós, brasileiros, escrito por jovem que voltou recentemente dos Estados Unidos

11/02/2018 | Tempo de leitura: 4 min

 4 abacates pequenos maduros
 2 dentes de alho
 1 cebola roxa pequena
 1 xícara (chá) de coentro (pode-se substituir por salsinha)
 2 colheres de sopa de creme de leite azedo
 1 xícara (café) de suco de limão 
 2 colheres de azeite 
 Molho de tabasco , chilli ou pedacinhos de pimenta dedo-de-moça (sem sementes) 
 Sal a gosto
 
Li há alguns dias artigo pitoresco sobre nós, brasileiros, escrito por jovem que voltou recentemente dos Estados Unidos, onde passou por experiência em modelo intercâmbio. A moça comentou de forma hilária, inserindo nas histórias suas próprias gafes, alguns hábitos brasileiros que causam estranhamento entre norte-americanos. Vou listar três: o beijinho no rosto como cumprimento; o tratamento do outro por seu prenome; o consumo de abacate com açúcar. 
 
O beijinho, que pode ser um, dois ou três, é visto como algo exótico, pois para o povo acima do equador essa manifestação de carinho só é admitida entre aqueles que cultivam muita intimidade. Cumprimentos sociais entre os que mal se conhecem é apenas o aperto de mão. Chamar o outro pelo prenome (pior ainda, pelo apelido) logo depois de ser apresentado, e mesmo que decorrido algum tempo, é inadmissível: sempre Mr, Mrs, Miss seguidos do nome de família pelo qual eles têm o máximo respeito. Por fim, misturar ingredientes doces ao abacate é coisa de brucutu gastronômico. Assim é, pois lhes parece?!
 
Vou usar este último fato para falar sobre a fruta que ocupa no nosso cardápio trivial o lugar de sobremesa, quando misturada ao leite condensado (e vira mousse), ou como lanche, se batida com leite gelado ( e servida como frapê). São combinações gostosas para nós, mas impensáveis para os padrões estadunidenses, especialmente os moradores do sul do país, influenciados pelos mexicanos que vêm atravessando a fronteira há mais de um século e disseminando seu gosto pelo guacamole. Nos países de língua hispânica da América a receita já se tornou icônica como entrada que se faz acompanhar de tortillas ou tacos. Pode ainda acompanhar carnes vermelhas.
 
Gosto de guacamole, principalmente no verão, em dias quentes como os deste fevereiro com Carnaval no meio. É bem fácil de preparar, tem uma pegada muito fresca, conserva-se bem na geladeira por três dias, pode literalmente matar a fome de quem chega da folia pela madrugada ávido por alguma coisinha que tenha sobrado. Para não perder o hábito, começo resgatando a origem da palavra, o que sempre ajuda a saborear o prato com a consciência da importância de todo alimento, de toda preparação que ingerimos para sustentar nossa vida.
 
O nome tem origem na frase substantiva âhuacamolli, presente no idioma indígena nauatle, aquele falado pelos astecas. Traduzido para o português poderia se decompor em duas palavras: âhuaca (abacate) e molli (molho). Assim, numa tradução muito direta, poderemos dizer que guacamole significa “molho de abacate”. Ãhuaca, por sua vez, é étimo metafórico, já que inicialmente designava os testículos do homem. A imagem às vezes é fator determinante na criação do léxico. 
 
Quando os espanhóis chegaram ao México, os astecas já consumiam muito abacate, acreditando que ele tivesse propriedades afrodisíacas, conferindo aos guerreiros força nos combates. E eles tinham certa razão, pois sabe-se hoje que a fruta contém grande teor de gordura. E gordura boa, contrariando o que se dizia até o século passado, e a colocava no índex dos alimentos proibidos. 
 
Os astecas comiam ãuhaca mas foram os espanhóis que inventaram ãuhacamolli. A receita original juntava à polpa do abacate, suco de lima (fruto então abundante na região) e pimenta. Mais tarde foram adicionados cebola, alho, coentro. Assim ele vem sendo servido na sua forma clássica. Mas existem outros modos de preparo, alguns condenados pelos mexicanos pela atenuação do sabor do abacate, como é o caso dos norte-americanos que costumam agregar quantidade generosa de maionese à mistura.
 
A receita que hoje apresentamos é muito próxima daquela que se faz no México, tendo apenas sido adicionado creme de leite azedo, ingrediente que se usado com moderação não altera o sabor do abacate e torna o resultado final mais cremoso, aveludado e brilhante. Comece por descascar os abacates ( se encontrar os do tipo avocado, eles são os melhores), abra-os ao meio para retirar o caroço, corte em pedaços grandes, junte o suco de limão para que não escureçam, reserve. Numa tigela reúna a cebola picada, os dentes de alho também picados bem miudinho, a pimenta em pedaços minúsculos, o coentro. Tem muita gente que não gosta de coentro, essencial na receita clássica; mas pode-se substituir pela salsinha. Junte a esta mistura os pedaços de abacate e esmague com a ponta do garfo, mas sem transformar em pasta, pois pequenos pedaços fazem parte da receita básica. Prove o creme e teste o sabor do alho. Ele é essencial, mas seu sabor não pode se sobrepor ao da fruta. Então, é melhor ir temperando aos poucos, pois há alh
o mais e menos agressivo. Adicione por fim duas colheres de sopa bem cheias de creme de leite azedo (se não encontrar industrializado, pingue umas gotas de limão no creme de leite sem soro). Revolva tudo com delicadeza e distribua o guacamole em taças de levar à mesa. Deixe na geladeira até a hora de servir- com tortillas, tacos , doritos ou, na falta desses, torradas bem fininhas. O contraste do crocante com o macio é essencial na iguaria mexicana. 

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