Gostosa e fácil: salada de trigo é ideal para o Natal

A salada tem ingredientes da culinária palestina à época do nascimento de Jesus.

24/12/2017 | Tempo de leitura: 4 min

Saboroso - Com a maioria dos ingredientes usados na culinária palestina à época do nascimento de Jesus, esta salada vai muito bem, enquanto sabor e história, na mesa de Natal
Saboroso - Com a maioria dos ingredientes usados na culinária palestina à época do nascimento de Jesus, esta salada vai muito bem, enquanto sabor e história, na mesa de Natal
Pelo Natal, se houver luar, senta-te ao lar; se houver escuro, semeia tudo.
Ditado português
 
 
 
 
Sou leitora desde que me entendo por ser humano alfabetizado. Leio sempre e muito. Se nada mais me restasse, e fosse condenada a viver isolada numa ilha, sobreviveria com livros. Entre eles, a Bíblia, a quem recorro muitas vezes, por necessidade de conforto espiritual ou mesmo por curiosidade literária. Encantam-me as parábolas de Cristo, suas imagens plásticas, a clara construção da linguagem. Foi por conta da simbologia que resgatei duas delas a fim de fundamentar a escolha desta salada boa para compor a mesa do Natal. Ambas têm o trigo como tema.
 
A primeira, chamada “parábola do semeador”, fala da necessidade do grão de se desfazer na terra para que vingue o broto, nova planta. Se o grão não morre, se a película que o envolve não de desfaz, o gérmen não irrompe, não há reprodução. Assim nossa vida, onde incontáveis vezes temos de morrer para algumas coisas a fim de que outras surjam. São os renascimentos que nos transformam. E mobilizam. 
 
A segunda parábola lembra uma plantação onde convivem joio e trigo. Embora desconhecido para nós, brasileiros, o joio é abundante na Palestina e na Espanha. Produz grãos semelhantes aos do trigo, porém os do joio são menores, de cor mais escura. A farinha do joio, se mesclada em grande quantidade à do trigo, para a produção de pães, pode intoxicar o ser humano. Desde que brotam na terra e até que atinjam certa altura, mesmo o mais experiente agricultor tem dificuldade para distinguir as duas plantas. Dessa forma, ao tentar nesta etapa do desenvolvimento arrancar o joio, pode-se arrancar junto o trigo. Entretanto, no momento em que as espigas desabrocham, até mesmo uma criança pequena é capaz de perceber a diferença. Neste instante, a separação pode ser feita com facilidade e sem equívocos. 
 
Cristo, em explicação para seus seguidores, diz, em relação ao trigo, que é a boa semente, e, segundo Matheus, “o que semeia a boa semente é o Filho do homem; o campo é mundo; e a boa semente são os filhos do reino de Deus.” Mas quando os que o ouvem perguntam se ele quer que arranquem o joio, que foi semeado junto com o trigo, ele responde que “não; para que, ao colher o joio, não arranquem também o trigo com ele.” Leigamente penso que existe aí uma manifestação de tolerância numa sociedade judaica que era, como a nossa tem se mostrado, intolerante com a diferença. Leio à minha moda que não cabe a nós, instáveis humanos, julgar quem são o homem-trigo e o homem-joio, pois esta é uma tarefa divina. Se questiono um pouco mais, avalio se não seremos todos, em nosso âmago, mistura de joio e trigo.
 
Como só concebo o Natal como festa religiosa, inseri o prato e essas considerações como votos de Boas Festas a todos os leitores desta página, que têm me honrado com sua leitura a cada domingo. Trata-se de uma salada de trigo com outros ingredientes que já faziam parte da culinária judaica desde muito antes do nascimento daquele que define nosso calendário. Vastas oliveiras cobriam os montes da Palestina; videiras eram cultivadas ao tempo de Noé; a romã até hoje é fruto de qualidade superior naquelas plagas; as nozes, como outras castanhas, louvadas em suas qualidades nutritivas; dos damascos, até poetas falaram; hortelã continua planta aromática de amplo uso; coalhada, acompanhamento milenar. No idioma judaico esta salada chamada Barzagan é consumida no Ano-Novo. Mas preferi deixar para a mesa de Réveillon um pratinho com lentilhas, pois é da nossa tradição consumi-las para dar sorte no ano que está pra nascer. Vamos ao nosso Barzagan natalino, uma contradição em termos...
 
Lave o trigo em grão (encontrado em saquinhos de 500 gramas nos supermercados ou lojas de produtos naturais) e escorra. Cubra com água fria e deixe de molho por quatro horas, no mínimo. Escorra e coloque numa panela, cubra com dois litros de água e cozinhe por 20 minutos na pressão. Ele deve ficar bem macio. Escorra em peneira. Reserve. Numa tigela misture azeite, extrato de tomate, limão (ou balsâmico), pimenta síria, cominho, coentro, sal. Bata bem, até obter um molho espesso. Misture este molho ao trigo cozido e escorrido. Mexa com garfo para soltar bem os grãos. Junte as nozes e damascos. Decore com folhas picadinhas de hortelã, bagos de uva e grãos de romã. Se não conseguir romã, substitua por cerejas em conserva, como fiz. Cubra com filme plástico e deixe na geladeira até à hora de servir. Um acompanhamento delicioso é a coalhada seca. 
 
INGREDIENTES
 1 xícara (chá) de trigo em grão
 ½ xícara (chá) de azeite
 2 colheres (sopa) de molho de romã (pode substituir por aceto balsâmico)
 50 gramas de nozes 
 50 gramas de uvas 
 50 gramas de grãos de romã (pode substituir por cerejas)
 50 gramas de damasco 
 Caldo de meio limão
 1/3 de xícara (chá) de extrato de tomate
 1 pitada de coentro em pó
 1 pitada de cominho
 1 pitada de pimenta síria
 1 colher (sopa) de hortelã fresca
 Sal a gosto
 
PASSO A PASSO
1 - Cozinhe o trigo demolhado, escorra, reserve
 
2 - Misture os ingredientes do molho numa tigela
 
3 - Bata bem até obter uma mistura espessa  
 
4 - Agregue o molho ao trigo cozido e escorrido
 
5 - Junte as nozes e damascos, misture tudo, decore a gosto

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