Pudim de pão

Reduza, reuse, recicle são três verbos utilizados pelos ambientalistas; servem também para ilustrar que na cozinha nada deve ser descartado, pois tudo pode ser transformado e ganhar nova

17/12/2017 | Tempo de leitura: 5 min

Reduza, reuse, recicle são três verbos utilizados pelos ambientalistas; servem também para ilustrar que na cozinha nada deve ser descartado, pois tudo pode ser transformado e ganhar nova forma, caso do pudim de pão
Reduza, reuse, recicle são três verbos utilizados pelos ambientalistas; servem também para ilustrar que na cozinha nada deve ser descartado, pois tudo pode ser transformado e ganhar nova forma, caso do pudim de pão
Porção: 10
Dificuldade: fácil
Preço: econômico
 
Ingredientes
 5 pães franceses amanhecidos
 1 litro de leite
 3 ovos
 5 colheres (sopa) de açúcar
 1 colher (sopa) de manteiga
 ½ xícara (chá) de uvas passas pretas hidratadas com vinho
 1 cálice de vinho do Porto
 
Para o caramelo
 1 xícara (chá) de açúcar
 ½ xícara (chá) de água fria
 
 
O açúcar não fazia parte da dieta dos nativos do Brasil, e as índias não participavam da cozinha das sinhás. O açúcar, como o sal, eram valores da mulher branca. Palavras do historiador Câmara Cascudo que nos levam a pensar que a preferência pelos doces nós a herdamos dos portugueses. E ela se intensificou com a grande produção de açúcar nos engenhos do Nordeste, a partir do século XVII. O quilo, que antes custava o equivalente a R$100, quando a cana só era cultivada nos Açores, com a expansão do plantio e produção em terras brasileiras, passou a ser comercializado a R$10, se fizemos aproximação com valores da moeda hoje. 
 
Além do ingrediente que se tornou acessível, havia a mão de obra escrava. Os dois elementos possibilitaram um enriquecimento da nossa mesa. Sem ela nossa cultura culinária seria bem outra, mais pobre e sem criatividade, pois para dizer a verdade, todos os doces portugueses têm o mesmo gosto. Mudam só os nomes, porque o sabor de ovos misturados ao açúcar e algum creme estará marcando presença em todas as almofadas, pastéis, queijadinhas e afins. 
 
Por aqui surgiram primeiro os doces em calda, que as frutas tropicais se mostravam perfeitas para as compotas. Depois os mais complexos, originários dos conventos lisboetas. Mas os doces das freiras eram para a gente rica que podia pagar por eles. Aos de poucos recursos restavam outros, com destaque para os pudins, iguaria órfã de paternidade. Até hoje ninguém sabe dizer como e onde nasceu o primeiro deles, o de leite, que protagoniza no Brasil um capítulo à parte.
 
Unanimidade entre os brasileiros, sua história se divide em antes e depois da chegada do leite condensado em janeiro de 1890, quando foi anunciado como novidade pelo jornal O Estado de São Paulo, na edição de 22 de janeiro. Sua venda, “a varejo e em grosso”, era feita pela drogaria São Paulo que mantinha publicidade focada na frase “ótimo alimento para creanças”. 
 
Mas quem gostou mesmo do tal leite grosso e muito doce foram os adultos, pois o produto logo se incorporou à receita do pudim de leite- e de outras sobremesas, facilitando seu preparo, até então custoso, pois derivava de uma iguaria que em Portugal até hoje é conhecida como Toucinho do céu, reunida a outra sobremesa de nome barroco- Pudim do Abade de Priscos. Uma trabalheira danada para se chegar a um resultado hipercalórico. Na esteira deste pudim, surgiu o de pão, que curiosamente aparece em dezenas de culturas como sobremesa criada por alguém que precisava aproveitar sobras. E não só em Portugal. França, Bélgica, Itália, Espanha também têm suas receitas. Aqui na América Latina, à exceção da Venezuela, que a essa altura nem teria ingredientes para prepará-lo, ele aparece na mesa de todos. Mas é um “doce de pobre”, como dizem em alguns lugares. O que não deve ser levado em conta, absolutamente.
 
É interessante como a França, pátria da alta culinária, discute o pudim de pão nos seus sites de culinária. Entrei por acidente de percurso em um deles e ali fiquei um tempão por simples curiosidade. Chega a ser hilário como o tema “melhor receita de pudim de pão” rende acaloradas discussões. Uns internautas defendem o uso do rum em sua composição, em lugar de suco de laranja. Outros não toleram a canela. Tem quem deteste o incremento das uvas passas- aliás, como tem adversários a uva passa! Eu gosto, acho que é parte integrante do pudim de pão, assim como o cálice de vinho do Porto. Mas quem desgosta, retira da lista e inclua outros. Neste site a que fiz referência, uma internauta comenta que costuma agregar fatias finas de maçã e fica bom. A se experimentar... Vou hoje com a receita que minha mãe fazia.
 
Primeiro caramelize a forma de pudim. Numa tigela, misture o açúcar e a água até que tudo esteja bem dissolvido. Transfira para uma forma de buraco de 25 cm de diâmetro. Coloque a forma em fogo baixo. Deixe ferver por 15 minutos, sem mexer. Quando a calda estiver amarronzada, desligue. Com cuidado para não se queimar, use as costas de uma colher para espalhar a calda por toda a forma. Reserve. Ligue o forno que deve estar aquecido a 180 graus quando a massa do pudim estiver pronta. 
 
Misture leite, açúcar e manteiga e leve ao fogo. Quando abrir fervura, desligue. Junte o vinho do Porto. Corte os pães em fatias finas, e regue como o leite quente. Deixe descansar por quinze minutos. À parte, bata os ovos. Junte-os ao pão embebido no leite e misture até homogeneizar. Transfira metade da massa para a forma caramelizada. Espalhe na superfície as uvas-passas. Cubra com o restante da massa. Coloque a forma de pudim numa assadeira com água e leve ao forno por cerca de 40 minutos. Desenforme morno. 
 
Passo a passo
 
1 - Caramelize a forma onde vai assar o pudim; reserve
 
2 - Despeje sobre os pedaços de pão o leite fervido com manteiga,  açúcar e vinho do Porto 
 
3 - Espere esfriar e junte os ovos batidos; bata bem até obter uma massa homogênea
 
4 - Despeje metade da massa, junte as uvas passas, cubra com o restante
 
5 - Leve ao forno preaquecido a 180 graus por 40 minutos

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