Cuscuz de legumes

A opção por vegetais em detrimento das carnes tem sua origem na tradição filosófica indiana, em cujas raízes se encontram ideias relacionadas

03/12/2017 | Tempo de leitura: 4 min

 4 colheres (sopa) de azeite
 1 cebola média 
 4 dentes de alho 
 4 tomates maduros mas firmes
 4 xícaras de água
 1 xícara (chá) de grãos de milho cozidos.
 2 cenouras pequenas 
 12 azeitonas verdes sem caroço
 1 xícara (chá) de ervilhas
 1 xícara (chá)de palmito picado
 ½ xícara (chá) de salsinha picada
 1 colher (chá) de sal
 3 colheres (sopa) de farinha de mandioca
 2 xícaras (chá) de farinha de milho
 
 
A opção por vegetais em detrimento das carnes tem sua origem na tradição filosófica indiana, em cujas raízes se encontram ideias relacionadas à pureza e seu contrário, a contaminação. Já eivado de sentimento ético, chegou ao Ocidente no primeiro século de nossa era. É Ovídio, o grande poeta do período, autor de Metamorfoses, quem coloca na boca de Pitágoras estas palavras: 
 
“Que crime horrível lançar em nossas entranhas as entranhas de seres animados; nutrir na sua substância e no seu sangue o nosso corpo! Para conservar a vida a um animal, porventura é necessário que morra um outro? Porventura é preciso que em meio de tantos bens que a melhor das mães, a Terra, oferece aos homens com tamanha profusão, prodigamente, se tenha ainda de recorrer à morte para o sustento, como fizeram os  Ciclopes, e que só degolando animais seja possível cevar a nossa fome? [...] É desumanidade não nos comovermos com a morte do cabrito, cujos gritos tanto se assemelham aos das crianças, e comermos as aves a que tantas vezes demos de comer. Ah! quão pouco dista tudo isso de um enorme crime”. 
 
De lá para cá, choveram poetas e prosadores, ensaístas e filósofos, religiosos e ateus a questionarem o consumo de carne por parte dos humanos. João Crisóstomo, o padroeiro de Constantinopla, escreve na Idade Média que “o homem, ao comer carne, é pior que os animais selvagens, posto que estes só têm uma forma de se alimentarem.” Montaigne, na França do Renascimento, registra num de seus famosos ensaios: ‘Nunca pude ver sem constrangimento perseguir e matar inocentes animais (para comer), quase sempre indefesos, e dos quais nunca o homem recebeu a mais pequena ofensa.’ Poeta icônico do Romantismo, Lamartine verseja convencido de que ‘matar os animais para nos sustentarmos com a sua carne e o seu sangue é uma das mais deploráveis e vergonhosas enfermidades da condição humana.” 
 
Foi exatamente por esta época, final do século XIX, que uma inglesa de mentalidade avançada, Ana Kingsford, mais próxima das ciências que da literatura, e das primeiras no mundo a obter um diploma de médica, começou a falar com mais propriedade sobre o tema. Sua tese chamada Alimentação Vegetal do Homem ganhou grande visibilidade ao ser transformada em livro e se tornou obra fundamental no gênero. Diante da grande aceitação de suas propostas, ela fundou a Food Reform Society e viajou por vários países da Europa com o objetivo de divulgar a dieta vegetariana .
 
Desde então o número de adeptos foi crescendo, e em ritmo muito rápido a partir dos anos 60 do século XX. Hoje, a dieta à base de vegetais, com total exclusão de carne, conquista gentes de todas as idades - no Reino Unido, na Alemanha, na França, nos países nórdicos. E no Brasil, onde se estima que 8% da população já seja vegetariana, o que significa falar em 1 milhão e meio de pessoas . 
 
Por muitas razões as pessoas se tornam vegetarianas. Os motivos podem ser de ordem ética, ecológica, econômica, religiosa, de saúde e até de paladar: tem quem simplesmente desgoste de carne. Minha neta Júlia, 19 anos, é vegetariana há muito tempo e por mais de uma das razões elencadas. Antes, ainda comia ovos e tomava leite. Agora, não mais. Às vezes me preocupa esse radicalismo, mas vendo-a tão bem, energizada, feliz e bonita, percebo que sabe o que faz. Como ela há milhões de jovens por este mundão afora que se alimentam só de grãos, legumes, folhas, raízes, açúcares... 
 
Pensando em Júlia às vezes preparo este cuscuz de legumes de que gosto muito. Se você não é vegetariano, pode acrescentar à massa, no final do cozimento, filés de sardinha, salmão desfiado, ovos duros. São ingredientes que enriquecem ainda mais o sabor dessa iguaria que nasceu no Marrocos, onde é preparada com sêmola, e ganhou o mundo em diferentes versões. No Brasil, empregamos farinhas de mandioca e milho. 
 
Pique a cebola em cubinhos e triture os dentes de alho. Retire as sementes dos tomates e pique-os em pedaços pequenos. Corte ao meio as azeitonas. Pique a salsa. Parta a cenoura e o palmito em pedaços miúdos. Coloque o azeite numa panela e leve ao fogo. Assim que aquecer refogue, a cebola até ficar transparente e junte o alho, com cuidado para não deixar queimar. Agregue os tomates, o milho verde cozido, a cenoura, as azeitonas, as ervilhas, o palmito, o sal. Mexa para misturar bem. Cubra com a água e deixe cozinhar por 15 minutos. Acerte o sal e salpique a salsinha. Coloque então a farinha de mandioca- que é o ingrediente que vai dar a liga a isso tudo. Em seguida junte a farinha de milho, mexendo sem parar. A esta altura você deverá ter deixado untadas com azeite e forradas com pedaços de tomates, palmito, azeitonas e salsinha, oito formas de empadas. Preencha-as com a massa do cuscuz e com as costas de uma colher pressione a superfície. Desenforme mornos num prato bonito e decore a gosto. 

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