Sardella da Calábria

Italiana Pasta de pimentão vermelho e sardinha, a sardella é um antepasto que nasceu na Calábria e se tornou conhecida dos brasileiros graças aos imigrantes do sul da Itália aqui chegados desde o fin

19/11/2017 | Tempo de leitura: 4 min

"Cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.”

Ditado popular
 
 
A Calábria entra pouco nos pacotes turísticos italianos procurados por brasileiros. A maioria quer ir a Roma, Florença, Veneza, Milão e- se der tempo e sobrar euros- passear pelas cidadezinhas da Toscana. A Calábria vira destino só mesmo para quem vai à Sicília e precisa atravessar a península de 248 km de comprimento por 110 de largura, a fim de chegar ao estreito de Messina, que separa ilha e continente. 
 
É uma pena que os brasileiros ainda não tenham descoberto os encantos do lugar, que é a ponta do pé da bota, se nos lembramos do mapa. Sua estrutura morfológica e as montanhas que cobrem metade de sua extensão condicionaram um isolamento em relação ao resto do país, o que propiciou o desenvolvimento de uma identidade forte, arraigada, indescritível. E depois... há os mares a cercá-la. A leste o Jônico, a oeste o Tirreno. E ao sul, a mistura fantástica de águas azuis que entre a Ponta Pezzo, no continente, e o Cabo Peloro, na ilha, se espremem em apenas 3,2km de absoluta beleza. Um rei chamado Ítalo, que legaria seu nome ao país unificado só no século XIX, teria governado a região, como todo o sul colonizado por gregos. Parte da Magna Grécia, a Calábria foi depois conquistada pelos romanos, caiu sob domínio bizantino, tornou-se normanda, e até aragonesa! Tal passado teria mesmo de imprimir no território expressiva herança cultural. Assim, ainda que não exibindo o riquíssimo apelo arquitetônico de outras regiõe
s italianas, a Calábria oferece à curiosidade dos visitantes sua singular vivência rural; ao paladar dos apreciadores, vinhos elogiados por enólogos; ao olhar dos sonhadores, paisagens que parecem retiradas de cenas de filme; e a quem gosta da boa mesa, uma culinária inventiva e muito saborosa, embora pouco refinada.
 
Entre 1876 e 1920, cerca de 100 mil calabreses migraram para o Brasil, especificamente para a cidade de São Paulo, trazendo consigo um modo de fazer produtos que caíram no gosto do paulistano e se integraram à sua dieta, como a linguiça calabresa, e receitas que vêm atravessando o tempo na composição dos antepasti preferidos pelos paulistanos. A sardella é uma delas, talvez a mais famosa. Elaborada com pimentão vermelho, tomates, alho, cebola, azeite, sal e sardinha, seu ingrediente principal, nasceu oficialmente em Crucoli, e depois se espalhou por toda a península, chegando perfumada e lindamente vermelha a Catanzaro, de onde vieram os calabreses que tornaram a Bela Vista o reduto até hoje reconhecível por suas cantinas e tratorias. Em Crucoli, adjetivada com o aposto ‘il paese della sardella”, é feita com filhotes do peixe humilde, chamado “bianchetto”. Neste pequeno centro urbano, realiza-se há mais de 40 anos a Festa da Sardella, em todo segundo domingo de agosto.
 
No Brasil a receita sofreu algumas adaptações, fenômeno que rege toda a gastronomia. Os pratos se modificam um pouco quando viajam de um lugar a outro. Mas na própria Calábria isso acontece e a sardinha, cuja temporada vai de abril a julho, às vezes é substituída por filés de anchova. Considerada por muito tempo “comida de pobre”, a sardella cobria qualquer massa tipo pizza ou fogazza. Não raro estava ao lado de um ovo frito. Mas sua melhor companhia sempre foram as fatias de pão italiano, sobre as quais se esparramou generosa.
 
Não é difícil de preparar. Pede apenas paciência para chamuscar o pimentão. Espete o legume num garfo de ponta comprida e passe pela chama do fogão, até que a película que o envolve fique fácil de ser retirada quando colocada sob a água corrente da torneira. Esta parte é importante, vai conferir um gosto defumado ao preparo. Às vezes encontramos o pimentão já pronto nos supermercados, em vidros, como conserva. Aí fica ainda mais prático. Corte o pimentão em tiras; depois em pedaços menores. Corte em cubos pequenos a cebola e pique o alho miudinho. Aqueça numa frigideira de boca larga o azeite. Refogue nele a cebola e quando murchar e ficar transparente junte o alho. Em seguida, agregue os pedaços de pimentão, sal, sardinha, extrato de tomate. Despeje a água. Deixe em fogo baixo por meia hora e mexa de vez em quando. Teste o sal; se for necessário coloque mais uma pitada. Retire, aguarde amornar e bata no liquidificador. A pasta vai ficar fininha, num lindo tom de vermelho. Coloque em tigela, tampe e leve à geladeira. Conserva-se bem por até duas semanas. Sirva com fatias de pão italiano.

Passo a passo
1 - Reúna os ingredientes
 
2 - Refogue no azeite cebola, alho, pimentão
 
3 - Junte o extrato de tomate, a sardinha, a água
 
4 - Cozinhe por meia hora até transformar em pasta
 
5 - Bata no liquidificador e coloque em tigela; conserve na geladeiraa

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.