OPINIÃO

A área escura do conhecimento

Por Paulo Cesar Razuk |
| Tempo de leitura: 2 min

Até um tempo atrás tinha-se a impressão de que o conhecimento fosse como um túnel, quanto mais se iluminava o túnel mais aumentava a parte clara e diminuía a escura. A complexidade aumenta com o avanço da tecnologia e do conhecimento e por conta disso, hoje ocorre exatamente o oposto: quanto mais se ilumina, mais se alarga a área escura.

Blaise Pascal (século XVII) dizia que o conhecimento é como uma esfera, quanto maior seu volume, maior é o contato com o desconhecido. Pode-se dizer que, na medida que a ilha do conhecimento se expande, mais se expande suas praias sobre o mar desconhecido que, além de infinito se torna cada vez mais profundo.

Nos deparamos com o conceito de complexidade quando, quanto mais se sabe mais aumenta nossa consciência de que é preciso saber ainda mais. Isso acontece quando se estuda ou no trabalho e pode provocar dois comportamentos: ou você se torna um curioso e tenta aprender e/ou entender cada vez mais sobre sua profissão, ou se sente oprimido, retrocede ao passado ou ainda, recolhe-se na lamentação.

A complexidade aumentou quando passamos, em pouco tempo, da sociedade rural e artesanal para a industrial ou das grandes fábricas e dela para a pós-industrial, uma sociedade desvinculada quase totalmente do trabalho braçal e que se ampara na produção de bens imateriais: serviços, tecnologias, informações, estética. Então, como resultado é muito mais comum termos uma pessoa com diploma universitário entregando pizzas do que um operário qualificado em um trabalho fixo, mesmo pagando bem.

Os norte-americanos, já há algum tempo, experimentaram viver a sociedade criativa, a sociedade com menos horas trabalhadas e o trabalho em home office e delegaram a China e a outros asiáticos, a concretização de sua criatividade. Os norte-americanos se esqueceram que a solidariedade no mundo dos negócios não existe e a China voltou a dominar o mundo.

Nas sociedades atuais (pós-industrial e criativa) o trabalho não é padronizado e o que vale é o conhecimento atualizado, o foco e a motivação. A educação séria e continuada e não a progressão automática. Por isso muitas pessoas ao se depararem com a imensidão da área escura do conhecimento pedem demissão e quando se pergunta: por que você está se demitindo? A resposta é: andaram dizendo por aí que só se vive uma vez. Parece que muitos resolveram tirar proveito do hoje ao invés de enfrentarem a busca pelo aprendizado constante.

Embora o mundo esteja cada vez mais unido tecnologicamente, no plano pessoal existe uma desunião inédita. Nossos sistemas de valores se encontram despedaçados. A estrutura familiar saudável entrou em colapso. É um triste paradoxo: quanto mais acumulamos maestria tecnológica e conforto material, quanto mais se ilumina o túnel do conhecimento, mais rapidamente nossos valores parecem entrar em declínio. Será essa a área escura do conhecimento?

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