OPINIÃO

Escolas e a 'Fábrica de Desânimos' no Brasil

Por Gregório José | Jornalista/radialista/filósofo. Pós Graduado em Gestão Escolar, Pós Graduado em Ciências
| Tempo de leitura: 3 min

O Brasil, esse país que vive de aplaudir slogans e ignorar realidades, conseguiu mais uma proeza: transformou o professor em uma espécie em extinção, não pela idade ou pela inteligência, mas pela desistência. Segundo a mais recente pesquisa Talis, divulgada pela OCDE, apenas 14% dos professores brasileiros sentem que sua profissão é valorizada pela sociedade.

O resto, a esmagadora maioria, deve estar tentando lembrar o que é "valorização", essa palavra que, no vocabulário nacional, ficou mais teórica que a própria pedagogia.

E não se diga que é falta de aviso. Há anos os números gritam o que o governo cochicha que "o investimento em educação", no Brasil, "vem caindo como moral de adolescente em festa errada". Enquanto os países ricos aumentam seus gastos, nós diminuímos os nossos.

O resultado é o de sempre, salas superlotadas, giz de segunda, internet de terceira, e um salário que nem com um milagre bíblico vira vocação.

O professor brasileiro ganha, em média, metade do que ganha um colega de país da OCDE. Trabalha mais, gasta mais tempo tentando manter a disciplina que ensinando, e ainda precisa ouvir que "ensinar é um dom". Dom, aliás, que anda pagando mal.

A autoridade do professor — aquela figura que, no passado, fazia o aluno pensar duas vezes antes de rir de si mesmo — virou lembrança de tempos civilizados. Hoje, é quase um personagem folclórico.

Em sala de aula, precisa disputar atenção com o celular, com o tédio e, às vezes, com os próprios pais dos alunos, que acham que o erro do filho é culpa da escola. O professor virou o culpado oficial de um sistema que o trata como despesa e o chama de herói só no 15 de outubro. Herói de salário atrasado, diga-se.

Não há profissão que resista a tanto desprezo institucionalizado. Muitos permanecem por pura teimosia, outros por medo do salto no escuro.

Ficam até a aposentadoria, essa segurança fictícia que garante, no máximo, o sossego de não precisar mais fingir entusiasmo. E o país, em vez de reconhecer o desastre, se contenta com discursos cheios de "compromisso com a educação", essas frases que servem apenas para adornar microfones e anestesiar consciências.

Enquanto isso, o jovem que poderia seguir a carreira olha para o futuro e prefere qualquer outra coisa que não envolva giz e desrespeito. E quem pode culpá-lo? No Brasil, ensinar é quase um ato de resistência poética, e viver de poesia é luxo para poucos. O resultado está aí: menos professores, menos qualidade, menos esperança.

Mas ainda há quem diga que tudo se resolve com "amor pela profissão". Ora, amor é bom, mas não paga conta, não compra livro, não substitui estrutura. E ninguém ama ser ignorado. O problema da educação brasileira não é falta de vocação — é excesso de descaso. A escola continua sendo o retrato mais fiel do país: mal paga, maltratada e ainda obrigada a sorrir na foto.

Se a sociedade brasileira realmente acreditasse que a educação é o caminho, já teria parado de cavar buraco. Mas o que se vê é um país que constrói discursos e destrói professores. E assim seguimos, com giz na mão e esperança no bolso furado, ensinando o impossível: que vale a pena acreditar num futuro que te paga metade do presente.

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