OPINIÃO

PCC: leniência, omissão e cumplicidade

Por Carlos Alberto Di Franco | O autor é Jornalista
| Tempo de leitura: 3 min

O promotor Lincoln Gakiya, uma das autoridades mais respeitadas no combate ao Primeiro Comando da Capital (PCC), foi cirúrgico ao depor na Comissão Especial sobre as Competências Federativas e Segurança Pública, na Câmara dos Deputados. Em 23 de setembro, Gakiya afirmou com todas as letras: “São Paulo fracassou na contenção do crime organizado”. E acrescentou: “O Estado permitiu o surgimento da primeira máfia brasileira”.

A frase não é uma figura de retórica. É a constatação amarga de uma tragédia anunciada. Fracassamos por leniência, por incompetência e, pior, por conivência. A verdade dói, mas precisa ser dita: houve omissão deliberada de agentes públicos. Onde o Estado recua, o crime avança. E o Brasil, lentamente, vai se transformando num território sob o domínio paralelo de facções criminosas.

Editorial do jornal O Estado de S. Paulo resumiu bem o drama: “SP fracassou em conter o PCC. De Taubaté à Faria Lima, a facção se consolidou como máfia pela negligência, quando não pela cumplicidade, de agentes públicos paulistas.” Não se trata de mero descuido administrativo. Trata-se de falha moral e política. O poder público permitiu que o crime crescesse e se estruturasse.

Em 2005, o então governador Geraldo Alckmin declarou que o PCC estava extinto como organização estruturada. Uma avaliação, no mínimo, ingênua e precipitada. Hoje, duas décadas depois, a facção atua como uma máfia empresarial com braços em vários países da América do Sul. Tem hierarquia, códigos, contabilidade, estrutura financeira e, sobretudo, um poder de intimidação que rivaliza com o do próprio Estado.

Na Amazônia, por exemplo, o crime organizado está assumindo o lugar das instituições. Facções investigam, julgam, condenam e executam. Depois, enviam os vídeos das execuções às autoridades públicas. Um governo paralelo, armado e cruel, impõe sua própria lei. É a barbárie institucionalizada. A ausência do Estado e a covardia de sucessivos governos criaram o terreno fértil para o avanço dessa criminalidade sem freios.

Enquanto isso, o veto permanente ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, disfarçado de defesa ambiental, contribui para agravar o problema. A política de paralisia promovida pela ministra Marina Silva, pelo Ibama e por um exército de ONGs ideologizadas impede a geração de emprego e empurra milhares de jovens para o colo das facções. A miséria é a principal aliada do crime. O combate à criminalidade exige repressão qualificada, mas também oportunidades reais de trabalho e educação. Sem desenvolvimento, não há segurança possível.

O Brasil não pode se curvar ao crime. A criação de um narcoestado não é uma hipótese distante - é uma realidade em rápida consolidação. O Estado precisa reagir com firmeza e inteligência. O presidente Michel Temer, à época, acertou ao criar o Ministério da Segurança Pública e instituir o SUSP (Sistema Único de Segurança Pública). Foi um passo importante. O combate ao crime exige uma articulação nacional.

É preciso declarar guerra ao crime organizado. Guerra sem tréguas. Isso significa inteligência policial articulada, repressão firme, penas severas e um sistema prisional realmente controlado pelo Estado - e não pelas facções. É preciso acabar com a impunidade e com o faz de conta institucional. O combate ao PCC e a outras organizações criminosas não é uma questão regional. É uma guerra nacional. E precisa ser tratada como tal.

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