OPINIÃO

O Brasil é um bar de promessas rasas e contas

Por Gregório José - Jornalista/Radialista/Filósofo |
| Tempo de leitura: 2 min

No Brasil de hoje, a democracia é servida como aquele chope que chega morno: promete frescor, mas deixa gosto de burocracia e de traição no fundo do copo.

A gente vê políticos brindando discursos inflamados, jurando lealdade ao povo, enquanto nos bastidores articulam alianças como quem escolhe marca de cerveja descartável por preço, não por qualidade. Em 2025, Lula cumpre mandato cercado de expectativas, críticas e incertezas; o governo busca estabilidade, enfrenta oposição aguerrida, resistência no Congresso e no STF; ao mesmo tempo, antigos defensores do "fora tudo" agora pedem abertura de negociações, anistias e impunidade.

A elite política acusa "excessos judiciais", parte da população clama por ordem, outra parte, por justiça. E os donos do bar - partidos, empresários, mídia majoritária - sorriem discretos: quando instabilidades surgem, lucros de escândalos, manchetes e polarização sobem.

Enquanto isso, o povo - que enche as ruas, paga impostos, espera o atendimento no posto de saúde, o ônibus que atrase menos - bebe sua dose diária de frustração. O Auxílio Brasil virou tema de troféu político, não de solução estrutural; campus universitários debatem se a universidade é pra rico ou pra pobre; notícias de corrupção quase entram na rotina como se fossem parte do cardápio oficial.

As instituições, em vez de guardiãs da Constituição, parecem peças de um teatro de sombras em que cada ministro, cada deputado, cada voz discordante é vista como inimigo ou mercadoria de campanha.

E viva o Supremo! O STF - esse balcão de decisões que determina limites, julga tentativas de golpe, prende ou solta reputações como quem escolhe tampinha de cerveja na cervejaria — é ao mesmo tempo vilão e herói, dependendo de quem ergue o copo para filmar o momento.

A noção de "ordem jurídica" pesa mais que a noção de justiça social; a polarização radicaliza quem já está radicalizado e deixa quem quer viver simplesmente em paz procurando abrigo nas redes sociais ou em anseios de mudança que parecem sempre prometidas para amanhã.

No fim das contas, brindar virou gesto político: quem brada "Fora Lula", "Anistia!", "Impeachment!", "Censura!", "Judiciário", "Executivo", tudo isso são goles em taça adulterada. E enquanto uns lutam pra conservar o copo limpo, outros insistem em derramar a bebida pra ver o efeito no chão. E todo mundo aí se pergunta: valerá à pena limpar depois?

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