Tempos pedagógicos terríveis nos cercam. Muitos pais tem reclamado da evasão do conhecimento técnico e científico, porque salas dedicadas ao aprendizado se tornaram trincheiras. Em vez de ensino, militância. Em vez de cuidado, hostilidade a quem discorda. O mínimo esperado é simples: aulas de qualidade, estágios sérios, foco no conteúdo. E, no entanto, muitas vezes o programa some para dar lugar a agendas identitárias, partidárias. Isso não é neutralidade moral; é desvio de missão flagrante.
"Não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da mente" (Romanos 12.2).
Linhas foram e são cruzadas quando se celebra a desgraça alheia. Quando o assassinato de um divergente vira piada em corredores, em salas de aula, nos encontros pedagógicos, algo fundamental se rompe: o respeito pelo imago Dei. Isso não é "debate", é desumanização. A escola e a universidade existem para formar consciência, não para treiná-la a odiar. Educação sem virtude acende fósforos; quem ama a verdade não brinca com fogo.
Não discuto aqui a liberdade acadêmica, mas seu uso ético. Liberdade de cátedra não é licença para catequese ideológica. Professor não é palanque. Max Weber advertiu que o mestre serve à clareza do método, não à propaganda; o demagogo transforma a cátedra em palco. Karl Popper lembrou que o conhecimento progride sob crítica aberta e refutação, não por unanimidades produzidas pela pressão do grupo. John Stuart Mill: "quem conhece apenas o próprio lado do assunto conhece pouco dele"; sem ouvir e refutar a parte contrária, não há base para proferir e preferir opinião alguma. C. S. Lewis mostrou, "The Abolition of Man" que uma pedagogia que abdica de valores fabrica "homens sem peito" - técnica sem virtude e poder sem freio.
A universidade, por vocação, é casa de pluralidade. John Henry Newman insistiu: o saber é um fim em si; a formação cultiva um "hábito liberal" que dura a vida inteira, feito de equidade e sabedoria. Em uma tradição católica cristã, isso supõe reverência à dignidade da pessoa, liberdade responsável e busca honesta da verdade. Jacques Maritain defendeu uma educação integral, personalista: formar a pessoa inteira - inteligência, vontade e consciência - em respeito à sua dignidade.
Milhares de Pais pedem o básico, e têm razão: que as aulas cumpram o plano, que estágios sejam sérios, que o laboratório funcione, que o artigo seja corrigido como artigo. Ensino exige excelência procedimental, não unanimidade política. A discordância deve ser protegida, não punida. O aluno que permanece calado com medo de rótulos adoece e a ciência padece, quando o dissenso vira infração. Paulo de Tarso colabora: "Cuidado que ninguém vos escravize por filosofias e vãs sutilezas" (Colossenses 2.8) - esse chamado bíblico não é para o isolamento, mas para um diálogo corajoso na defesa da verdade e do respeito.
O que fazer? Primeiro, reconduzir a missão. Ensinar o que precisa ser ensinado - sem atalhos. Cumprir, com rigor, o programa que o curso promete. Currículo claro e público; objetivos de aprendizagem mensuráveis, escritos com verbos de ação; ensino alinhado às metas; avaliações honestas que medem o que foi de fato ensinado; devolutivas que mostram ao aluno onde está, o que falta e como avançar. Em termos simples: o professor explicita aonde vamos, como chegaremos e como saberemos que chegamos - conteúdo no centro, método a serviço, feedback como bússola. Segundo, reabilitar a coragem civil: discordar com mansidão e firmeza (1Pedro 3.15). Professores devem expor sobre a matéria, e se há posições em disputa, estimular os estudantes a testá-las e não impô-las. Terceiro, cultivar virtudes intelectuais: humildade para rever, prudência para falar, justiça para escutar: "Tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama… seja isso o que ocupe o vosso pensamento" (Filipenses 4.8). Quarto - a sala de aula tem prioridade: ensinar a matéria proposta. Se surgir um tema "extra-matéria" que mereça debate público, trate-o fora do tempo de conteúdo: diga "não" a atos de hostilidade e, quando pertinente, crie espaços paralelos (seminários, mesas redondas) com regras explícitas de civilidade, rubricas transparentes e mediação docente - sem desviar o currículo do que o curso promete entregar. Essa separação preserva o foco pedagógico e resguarda a liberdade acadêmica no seu uso responsável, com respeito às divergências e ao propósito comum da educação. Quinto, considerar as famílias que financiam a missão acadêmica: transparência, prestação de contas, canais reais de denúncia e defesa. Educação é pacto moral entre escola, estudantes e sociedade. Quando esse pacto é rompido, todos perdem; quando é honrado, todos ganham.
IGREJA BATISTA DO ESTORIL
Cultos Online: https: www.youtube.com/@tvibatistaestoril
63 anos atuando Soli Deo Gloria
Hugo Evandro Silveira : hugoevandro15@gmail.com
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril