FUTURO

IA deverá ser nova Revolução Industrial

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 3 min
André Sandeiro/Revista Atenção/Divulgação
Dudu Godoy: 'tenho uma percepção otimista sobre o que está no horizonte'
Dudu Godoy: 'tenho uma percepção otimista sobre o que está no horizonte'

A história econômica e social da humanidade registra rupturas que redefiniram o trabalho, a produção e os padrões de vida. Na Revolução Industrial iniciada no século 18, máquinas substituíram mãos, fábricas concentraram populações rurais nas cidades e as relações trabalhistas foram profundamente modificadas. Hoje, com a expansão acelerada da inteligência artificial (IA), cabe a pergunta: estamos diante de uma nova Revolução Industrial?

Para Dudu Godoy, vice-presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado de São Paulo (Sinapro-SP) e vice-presidente do Fórum da Autorregulação do Mercado Publicitário (Cenp), a nova tecnologia deverá provocar transformações comparáveis às experimentadas no passado. "A literatura aponta que a IA vai extinguir 700 milhões de vagas de emprego no mundo, mas, depois, criar 1 bilhão de vagas, não necessariamente ligadas à área de tecnologia. Tenho uma percepção otimista sobre o que está no horizonte", afirma ele, que esteve em Bauru nesta semana para ministrar palestra na terceira edição do Sinapro Talks.

Ele traça um paralelo com a invenção da máquina a vapor, que aumentou a escala de produção, mas também gerou desemprego e exigiu adaptação da mão de obra. "Na Revolução Industrial, o trabalhador do campo usava enxada porque não havia máquinas. Em um alqueire, plantava-se x sacas de um produto e, quando surgiram as máquinas, este sujeito perdeu o emprego porque não tinha condições culturais, econômicas, sociais para aprender a operá-las", recorda.

Ainda assim, destaca o executivo, a automação ampliou a produtividade e criou funções em outras etapas da cadeia. "Da mesma forma, a IA vai tirar muito emprego, mas vai demandar novas habilidades no trabalho, que a gente ainda não sabe quais serão", pondera.

Tecnicamente, o fenômeno atual não é apenas automação simples: trata-se de machine learning, no qual computadores "imitam" a maneira como seres humanos aprendem, com ganho de precisão à medida que recebem mais dados. "A tendência é de estas máquinas aprimorarem cada vez mais seu nível de eficiência, com índices de erros cada vez menores", observa Godoy.

VELOCIDADE

Outra diferença relevante em relação ao passado, segundo ele, é a velocidade da transformação. Enquanto a transição pós-mecanização levou décadas, a IA pode acelerar esse processo entre perda e recuperação de empregos para um período de apenas 3 a 5 anos. "Um ponto positivo é que a IA é mais democrática, em muitos casos de acesso gratuito e, assim que for ganhando escala, as corporações aumentam a produtividade", projeta.

Em meio a este cenário, Godoy prevê que o debate sobre a redução da jornada de trabalho ganhará fôlego no mundo inteiro, inclusive no Brasil. "Quando a Revolução Industrial começou, houve uma discussão enorme para instituir o domingo como dia de descanso. Agora, acredito que a IA será um dos aceleradores do fim da escala 6x1 no País, com a aprovação do trabalho cinco dias por semana e, em alguns setores, quatro dias", avalia.

Para o mercado publicitário, a IA representa tanto um desafio quanto uma oportunidade, segundo Godoy, à medida que a tecnologia se integra ao cotidiano, coleta dados pessoais e os transforma em recomendações personalizadas de consumo. "Estas devolutivas serão cada vez mais assertivas. Assim, você vai permitindo que a IA entre na tua vida, ela vai ficando cada vez mais íntima de você e você, cada vez mais dependente dela para a tomada de decisões, como, por exemplo, sobre o que comprar, em qual restaurante ir e a qual filme assistir. Então, é um cenário que nos desafia a nos prepararmos para sermos bons profissionais da área no futuro", conclui.

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