COLUNISTA

Ler Interpretar e Viver a Bíblia


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Desde criança, no tempo da Catequese, eu me lembro desses dois ensinamentos da minha Catequista. Ela dizia: Lembrem-se que "o livro mais importante do Católico é o da Palavra de Deus"; e de que "não basta ter a Bíblia, é preciso saber ler, interpretar e viver esse livro da Palavra de Deus". Daí o esforço dos catequistas em nos instruir no Catecismo da Igreja Católica que tinha como meta e continua tendo não só ensinar os catequizandos/as no be-a-bá da fé (conteúdos da fé), como também instrui-los/as no ler, compreender e viver a Bíblia no seu dia a dia. Tendo por inspiração o que foi escrito por São Tiago 2, 14s: "A fé sem obras é morta", não basta ter e crer na Bíblia, é preciso pô-la em prática. Para a gente nunca perder de vista esse ponto de partida a Igreja instituiu anualmente setembro como mês da Bíblia. Então, tenhamos presente que, na caminhada da nossa vida cristã rumo ao céu, Deus nos ilumina com a luz da Palavra e nos sustenta com a força dos seus Sacramentos. Por exemplo, no Documento de Aparecida lemos que "Em sua Palavra e em todos os Sacramentos, Jesus nos oferece um alimento para o caminho" (DAp n. 354).

No Evangelho da santa Missa deste domingo - Lc 14,25-33 - Jesus dirigiu sua mensagem às grandes multidões que O acompanhavam para que a conhecessem e se decidissem seguir os seus passos e fazer parte do Reino de Deus. Nesta ocasião não se dirigiu somente ao pequeno grupo dos seus discípulos ou apóstolos. Contra uma mentalidade triunfalista e fundamentalista reinante naquele tempo de que crer em Deus significava facilidade, sucesso e boa vida, como também o é hoje para muitos cristãos, conforme pregam, principalmente, muitas seitas modernas que adotam a teologia da prosperidade. Jesus afirmou categoricamente que o desapego, o desprendimento e a cruz fazem parte sim do seu seguimento. Falou às claras sobre as duras exigências do seu Evangelho, mesmo que não agradasse à sua plateia. Jesus contou duas parábolas: da construção da torre e do rei que parte para guerrear.

Na primeira, Jesus advertiu que "nenhum sujeito prudente começará a construir uma torre sem antes calcular se tem condições de terminar a obra. Naturalmente será inevitável a gozação das pessoas que o viram começar a construção, mas não foi capaz de concluí-la". Na segunda, Ele inicia perguntando: "Qual o rei que ao sair para guerrear não examina primeiro se com dez mil homens poderá enfrentar o outro que marcha contra ele com vinte mil?" E, respondendo, Ele afirma que esse rei, sendo prudente, para não entrar numa empreitada de enorme risco, antes que seja tarde, "envia mensageiros para negociar as condições de paz". Ora, Jesus concluiu as duas parábolas, dizendo: "Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!" Com efeito, para bom entendedor a lição evangélica de hoje está bem colocada. E bem fixadas estão as exigências para o seu seguimento. Jesus pontuou com nitidez que o desprendimento, o desapego e a cruz formam um conjunto de exigências sem as quais ninguém poderá, verdadeiramente, ser seu discípulo nem ter acesso ao seu Reino. As exigências que Jesus propôs às multidões Ele mesmo as vivenciou, conforme São Paulo explica quando disse que Jesus, de fato, "aniquilou-se a si mesmo, assumindo a condição de servo" (Fl 2,7). Portanto, não estava a propor aos outros um fardo que não conhecesse nem carregasse. Ao contrário Jesus mesmo hoje nos convida: "Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso para vossas almas, pois meu jugo é suave e meu fardo é leve" (Mt 11,29-30). Como sugere a primeira leitura - Sabedoria 9,13-18 - supliquemos a Deus que nos dê a sabedoria para que possamos conhecer a sua santa vontade a nosso respeito e nos mande do alto o seu divino Espírito Santo para que nos ilumine. Na segunda leitura - Filêmon 9-10.12-17 - São Paulo, estando na prisão por causa de Cristo, colocou-se a serviço dos irmãos, suplicando pela liberdade do escravo Onésimo.

Imploremos ao Divino Espírito Santo que nos conceda a graça especial de sermos capazes para aprender a ler a Bíblia com a vida e a vida com a Bíblia.

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