COLUNISTA

A Vocação dos Fiéis Leigos

Por Dom Caetano Ferrari |
| Tempo de leitura: 3 min
Bispo Emérito de Bauru

Etimologicamente, leigo vem do grego "laikos", significando "do povo", ou melhor, "pessoa simples do povo". Daí que na Igreja leigos são todos os que não receberam Ordens Sacras, como os bispos, padres e diáconos, nem fazem parte do estado religioso reconhecido pela Igreja, como os religiosos e religiosas, mas são simplesmente os fiéis que, incorporados pelo Batismo a Cristo, constituem o povo de Deus. Na Igreja, todos os batizados são iguais em dignidade e igualdade. E todos têm em comum a mesma vocação à santidade. No entanto, quanto à missão, eles se diferenciam segundo a diversidade de atividades, serviços e ministérios existentes na Igreja. Em essência, o que caracteriza mesmo os leigos é viverem no mundo, inseridos nas realidades seculares, participando e atuando no campo da economia, política, educação, cultura etc., exercendo um protagonismo bem distinto e especial. Aí em meio às realidades temporais eles estão não como quaisquer sujeitos, mas como cristãos. Vale dizer, com a missão específica de serem no seu ambiente social "luz do mundo", "sal da terra", "fermento na massa". Nós os vemos atuando nas pastorais, na liturgia, na catequese, nos movimentos, comunidades e associações, no serviço da caridade, na fé e política, na justiça e paz, na ecologia e integridade da criação, segundo os dons que o Espírito Santo concede para o bem da comunidade e a utilidade de todos (cf. 1Cor.12,4-11). Como ensina o Magistério eclesiástico, os leigos são "homens da Igreja no coração do mundo, e homens do mundo no coração da Igreja". Neste mês de agosto, a Liturgia nos convida a rezarmos, suplicando a Deus que suscite sempre mais, no seio de nossas famílias, vocações para as diversas necessidades e missões na Igreja e no mundo. Particularmente neste domingo ela nos convida a rendermos graças a Deus pelo testemunho de fé, dedicação e serviço dos fiéis leigos e leigas em nossas comunidades, e a pedirmos bênçãos e graças por todos eles e elas e suas famílias.

No trecho evangélico da santa Missa deste domingo - Lucas 13,22-30 - alguém perguntou a Jesus, quando ele caminhava rumo a Jerusalém: "Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam? Jesus respondeu: Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque muitos tentarão entrar e não conseguirão". Não basta bater à porta da casa para que o dono da casa a abra, quando ele já a fechou. Nem adianta dizer "nós comemos e bebemos contigo e te ouvimos pregar em nossas praças". Ele, porém, dirá ainda: "Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a injustiça!". Traduzindo em outras palavras não basta a fé sem as obras da prática das virtudes cristãs, ou o "só a fé basta" (cf. Gal 5,6). A porta, então, estará aberta para aqueles que, como verdadeiros discípulos de Jesus, praticarem o bem e acolherem as dificuldades e os desafios da vida, enfim, se esforçarem para entrar pela porta estreita de acesso à vida eterna. Caso contrário, segundo disse Jesus: "Virão homens do oriente e ocidente, do norte e sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus". E assim "há últimos que serão primeiros e primeiros que serão últimos!". Portanto, a salvação é dom de Deus que exige uma reposta de cada um de nós como: misericórdia, fraternidade, justiça, solidariedade. Na primeira leitura da santa Missa - Isaías 66,18-21 - o profeta vaticina que no tempo messiânico a salvação preparada por Deus em Jesus Cristo é universal, uma oferta não só aos eleitos, mas aos povos de todas as línguas da terra. Na segunda leitura - Hebreus 12,5-7.11-13 - é lembrado aos cristãos que a caminhada rumo à vida eterna é um caminho que nos leva a Deus, nosso Pai, mas tem o seu preço. Passa por sofrimentos e provações, mas faz parte da educação do Senhor que como um pai educa e corrige seu filho por amor. No entanto, essa formação exercitada em meio ao "sofrimento, produz frutos de paz e justiça". Válida é para nós, porém, essa exortação: "Firmai as mãos cansadas e joelhos enfraquecidos, acertai os passos dos vossos pés". No caminhar não estamos sós, "Ele está no meio de nós!"

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