OPINIÃO

Quando a OAB pede ordem

Por Gregório José - Jornalista |
| Tempo de leitura: 2 min

Saiu carta. E não foi de amor. A Ordem dos Advogados resolveu lembrar ao Supremo Tribunal Federal que o país ainda tem uma Constituição — e que ela vale, sim, inclusive quando o réu é famoso, polêmico ou incômodo.

A mensagem é clara, mesmo que recheada de juridiquês: calma lá, Excelências, não dá pra sair passando por cima das regras só porque o alvo é indigesto. O devido processo legal — aquele que vale pra todo mundo, do ladrão de galinha ao figurão de gravata — não pode ser descartado por conveniência.

Só que tem um detalhe. Essa mesma Ordem passou tempo demais em silêncio. Quando os exageros começaram, quando decisões monocráticas começaram a virar rotina e prisões preventivas viraram sentença, ninguém apareceu pra bater na mesa. Agora que a coisa respinga em gente grande, aí vem a preocupação com precedentes perigosos. E são, sim, perigosos. Porque hoje é com um que você não gosta. Amanhã, é com você. Quando se normaliza a exceção, a regra vai pro arquivo. E o risco disso não é teórico — é real, concreto, urgente.

A carta pede pacificação, pede respeito entre os Poderes, pede diálogo. Muito bonito. Mas o país não precisa de poesia institucional. Precisa de coerência. Ou se defende o Estado de Direito sempre, ou se escolhe lado e vira parte do problema.

E no fundo, está todo mundo cansado de ver as instituições acordando só quando lhes convém. Justiça que dorme em uns casos e corre em outros. Ordem que cala quando é conveniente e fala quando interessa.

O cidadão comum, esse aí que pega ônibus lotado e assiste a tudo de longe, já entendeu o jogo. Ele olha, desconfia e pergunta: onde estavam vocês antes? E com razão. Porque enquanto eles trocam cartas e discursos, o Brasil real continua no mesmo lugar: tentando entender por que as leis mudam de aplicação conforme o nome do réu.

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