OPINIÃO

12 milhões de filhos devem ir às compras para presentear os pais

Por Gregório José - Jornalista/radialista/filósofo |
| Tempo de leitura: 2 min

Faltando poucos dias para o Dia dos Pais, o brasileiro médio — que é aquele sujeito que vive entre o aperto do cartão de crédito e a esperança de um cashback — acordou suado e desesperado: "Meu Deus, esqueci o presente do velho!"

E eis que, como num passe de mágica ou num surto coletivo de afeto tardio, mais de 12,9 milhões de filhos desnaturados devem tomar de assalto as lojas nesta semana. Isso, claro, se conseguirem abrir caminho entre os outros 106 milhões que tiveram a mesma ideia brilhante de deixar tudo pra última hora. Porque o brasileiro tem muitas qualidades, mas o senso de urgência não é uma delas.

Segundo a CNDL — entidade que, ao que parece, vive do susto alheio —, a previsão é que o comércio movimente uns R$ 27,13 bilhões. Isso mesmo: bilhões. Valor suficiente pra comprar presente até pro pai do Batman e ainda sobrar pra um cafezinho.

Mas calma. O presidente da CNDL, seu José César da Costa, gentilmente nos avisa que comprar de última hora pode prejudicar o orçamento. Acorda, Brasil! Parece que o país só descobre o preço das coisas quando já está no caixa, suando frio e pedindo pro vendedor dividir em 10 vezes "sem juros" (mas com a alma empenhada).

Segundo seu José César, lojas cheias dificultam negociações e pesquisa de preço. Ora, pois! Descobriram agora que comprar presente em loja lotada é um inferno na Terra? Qual o próximo estudo? "Pesquisadores confirmam que o verão é quente"?

Enquanto isso, os institutos de pesquisa seguem firmes, calculando margens de erro com a precisão de um relojoeiro suíço: 910 entrevistas, 600 respostas válidas, intervalo de confiança de 95%. Só faltou perguntarem quantos filhos compram presente pra mãe no Dia dos Pais pra tentar compensar o abandono do ano inteiro.

Mas no fundo, no fundo, é bonito de ver. Uma população inteira correndo desesperada atrás de meias, carteiras e churrasqueiras promocionais, tentando comprar carinho em três parcelas. Porque no Brasil, se a gente não consegue dar amor em tempo real, dá em forma de presente com etiqueta ainda pendurada.

E no domingo, entre abraços e bifes mal passados, tudo se resolve. Afinal, pai é aquele que está sempre ali. Mesmo que o presente chegue atrasado, embrulhado com pressa e acompanhado de um sorriso culpado.

Feliz Dia dos Pais.
E boa sorte nas filas!

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