COLUNISTA

Tratamento para a solidão

Por Carlos Brunelli |
| Tempo de leitura: 3 min

Seul, capital da Coreia do Sul, tem uma população estimada em dez milhões de habitantes que vive, estuda e trabalha em uma reduzida área de 605 km². Feitas as contas, chega-se à incrível densidade demográfica de 16 pessoas por m². Com tão pouco espaço de convivência, aquela metrópole adotou a única forma viável para acomodar tantos seres humanos: cresceu para cima; e Seul é hoje a cidade mais verticalizada do mundo, com um sem-número de arranha-céus abrigando conglomerados residenciais, financeiros e comerciais.

Em tal contexto, é de supor um cotidiano de elevadores apinhados, shoppings superlotados, escadas rolantes abarrotadas e gente disputando milímetro a milímetro um lugar nas estações de metrô. Nesse cenário, a interação entre pessoas parece inevitável e até natural, fruto do esbarrar constante e involuntário. Mas não é essa a realidade, e outros números são igualmente estarrecedores.

Na última década, o número de lares com apenas um morador saltou para 40% dos domicílios da cidade. Em 2022, uma pesquisa revelou que 62% das pessoas se queixavam do isolamento. Em 2023, foram computadas 3.600 "mortes solitárias", aquelas em que ninguém se dá conta do ocorrido por semanas e até meses. Uma linha telefônica direta disponibilizada pelo governo para o programa Seul sem solidão atingiu, em julho, a marca de mais de dez mil chamadas, das quais 94% foram de jovens adultos e gente de meia-idade. Mesmo com a tremenda concentração populacional, a capital sul-coreana enfrenta uma severa epidemia de solidão.

Para combater ou na tentativa de amenizar essa terrível estatística o prefeito da cidade decidiu criar "lojas de conveniência para a mente". São locais onde, em vez de adquirir algum item de emergência - como seria o habitual desse tipo de estabelecimento - as pessoas que ali acorrem podem simplesmente passar algum tempo na companhia umas das outras, sem a obrigatoriedade de conversar ou interagir. Estar próximo é o suficiente. A aposta é que permanecer uns instantes na presença ou junto de alguém pode suplantar a carência do dia-a-dia.

A bíblia traz com clareza a ideia de que o homem foi criado como um ser social, e seu convívio com outras pessoas deveria trazer alegria e satisfação. "Não é bom que o homem esteja só" disse Deus em seu plano original para a humanidade (Gênesis 2.18). Também ordenou aos seres humanos criados: "Sejam férteis e multipliquem-se" (Gênesis 1.27), em clara demonstração de sua soberana vontade para que, através das famílias constituídas, fosse estruturado um ambiente social adequado para a formação e desenvolvimento físico, mental e espiritual.

Crianças que crescem em um ambiente familiar saudável terão mais habilidade para lidar com eventuais episódios de solidão quando for madura. Se nessa primeira fase da vida a ela também for apresentada a importância e o benefício de uma rede espiritual de amparo para combate às tribulações da vida adulta, seguramente a sensação de pertencimento expulsará qualquer traço ou desejo futuro de isolamento ou falta de envolvimento pessoal.

A igreja desempenha um papel preponderante e influenciador nesse quesito. Ao mesmo tempo em que fundamenta a construção de atitudes com base nos sadios, eficazes e inerrantes ensinamentos bíblicos, sedimenta as vantagens advindas do enfrentamento coletivo - e não solitário - das adversidades. Uma sólida comunidade cristã é um conjunto de pessoas interligadas pelo mesmo propósito, o de se servirem mutuamente em uma grande comunhão, onde mãos não só seguram e apoiam, mas também se juntam em oração e abençoam.

Lojas de conveniência para a mente, onde há busca por um instantâneo porém individualista, frágil e efêmero alívio para a solidão, parecem contrapor-se à robustez e perenidade de um comportamento cristocêntrico, com foco na unidade e no Eterno.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL
Cultos Online: https: www.youtube.com/@tvibatistaestoril
63 anos atuando Soli Deo Gloria

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