Nos primeiros cinco meses de 2025, 40.974 trabalhadores foram contratados com carteira assinada por empresas de Bauru e, deste total, 84% assumiram as vagas ofertadas por um salário de até R$ 2,5 mil, o que corresponde a pouco mais de um salário mínimo e meio. O dado é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e aponta que, além das contratações, houve 34.777 demissões no período, quase metade das quais (46%) formalizada a pedido do funcionário.
Assim, contabilizada a diferença entre o número de admissões e desligamentos, a cidade ganhou 6.197 novas vagas de emprego formal entre janeiro e maio. As estatísticas foram apresentadas pelo supervisor técnico do Dieese, Fernando Lima, no painel "Economia, Lei, Reforma Sindical: a Jornada 6x1 em pauta", realizado pela subsede da CUT-SP em Bauru no último dia 23.
De acordo com ele, a remuneração no município não passou de R$ 2 mil para 62% dos profissionais admitidos.
Para a professora Ana Carla Loturco, especialista na área de recursos humanos, o levantamento elaborado pelo Dieese reflete por um lado o perfil da economia de Bauru, fortemente alicerçado em prestação de serviços e comércio, e por outro os déficits no nível de escolaridade e na qualificação dos profissionais em busca de oportunidades de trabalho.
"Temos a presença de algumas indústrias, que geralmente pagam salários maiores, mas elas não são muitas. Já o setor de telesserviços, que gera muito emprego, oferta remuneração menor. Então, as faixas salariais mais elevadas acabam sendo destinadas a pessoas graduadas em cursos superiores", analisa a docente, que é coordenadora dos cursos de administração e de ciências contábeis do Unisagrado.
PROFISSÕES
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), mostram que, entre os quase 41 mil contratados nos primeiros cinco meses do ano, 68% possuíam ensino médio completo e apenas 8,5% haviam concluído o ensino superior. Entre as profissões que mais tiveram oportunidades de emprego, os cuidadores lideram a lista com folga.
Em cinco meses, 4.195 trabalhadores assumiram vagas para esta função. Na sequência, figuram operadores de telemarketing, faxineiros, vendedores do comércio varejista, cobradores internos, serventes de obras, auxiliares de escritório, alimentadores de linha de produção, atendentes de lojas e mercados e auxiliares de cozinha (veja detalhes no ranking nesta pagina).
As estatísticas do Caged revelam, no entanto, que, apesar da posição de destaque, algumas profissões registram alta rotatividade, como é o caso de operadores de telemarketing e vendedores do comércio varejista. Para se ter ideia, o primeiro acumulou 2.195 admissões ante a 2.452 demissões e o segundo, 1.529 contratações frente a 1.578 desligamentos de janeiro a maio.
É um cenário diferente do vivenciado, por exemplo, pelos cuidadores de idosos, que somaram 4.195 admissões e 935 demissões, totalizando saldo de 3.260 novas vagas no mercado de trabalho, reflexo do crescimento da demanda pela prestação desse tipo de serviço na esteira do aumento da expectativa de vida da população.
"Em algumas funções específicas, muitos jovens são contratados e não necessariamente permanecem no emprego. Durante o período de experiência, podem não se adaptar e desistir da vaga ou, ainda, não alcançar as expectativas do empregador e ser dispensado. Esta rotatividade é muito ruim, porque acaba elevando o custo das empresas com verbas rescisórias", pontua Ana Carla.
'Desafios' para o mercado, jovens são 4 a cada 10 admitidos
Quatro a cada dez contratados com carteira assinada neste ano em Bauru eram jovens entre 18 e 29 anos. Segundo o Caged, eles representaram 42% da força de trabalho que ocupou as 40.974 vagas ofertadas de janeiro a maio. Na sequência, aparecem os profissionais de 30 a 39 anos (24,6% dos postos) e de 40 a 49 anos (17,6%).
As pessoas que nasceram entre 1997 e 2010 e atualmente têm entre 15 e 28 anos integram a chamada geração Z e estão no cerne de um grande desafio enfrentado pelo mundo corporativo. Com valores e expectativas profundamente diferentes das gerações anteriores, elas parecem mais esclarecidas sobre cuidados com saúde mental e manutenção do equilíbrio entre vida pessoal e profissional e, portanto, menos dispostas a fazer concessões, como trabalhar aos finais de semana, feriados e em períodos noturnos ou submeter-se a uma rotina de pressão mais intensa.
Já as empresas, em uma era dominada pelas tecnologias digitais, desejam profissionais com habilidades humanas, como adaptabilidade, iniciativa, resiliência, resolutividade e capacidade de comunicação. "Essa geração é nativa digital, então, antes de começar a trabalhar, muitas vezes só se relaciona com quem realmente deseja e, em boa parte do tempo, por meio virtual. Por isso, ao ingressar no mercado, pode ter um choque e não se adaptar por precisar conviver com pessoas de diferentes perfis", observa a professora Ana Carla Loturco.
Para ela, como diversas tarefas vêm sendo facilmente substituídas pelo uso da inteligência artificial, as habilidades humanas serão cada vez mais valorizadas no trabalho. "As empresas têm de investir na melhoria do clima organizacional e contribuir para que seus funcionários desenvolvam o que a gente chama de 'soft skills', mas os jovens também precisam se conscientizar sobre a necessidade de contornar suas fragilidades", completa.