OPINIÃO

Desgoverno nacional e o fim da democracia

Por Gregório José | Jornalista
| Tempo de leitura: 2 min

Sabe quando a gente olha pro Brasil e tem a nítida impressão de que não há governo, Congresso ou Supremo, mas sim um cabo de guerra sem corda, onde cada lado puxa sozinho, sem olhar pro outro e, muito menos, pro povo? Pois é. O que estamos vendo é uma comédia de erros — se não fosse uma tragédia institucional. O Executivo propõe um decreto. O Congresso vai lá, olha de rabo de olho e diz: “Aqui não. Isso não passa.” E quando o Legislativo cumpre seu papel de legislar — ou ao menos tenta —, entra em cena o Supremo Tribunal Federal. Mas não o Supremo colegiado, aquele que deveria falar a várias vozes, com debate, com peso institucional. Não. Quem aparece é Alexandre de Moraes. Ele mesmo, o novo Leviatã tupiniquim.

Com uma canetada, o ministro libera aumentos, autoriza ações, muda decisões do Congresso, atropela o Executivo, e tudo isso sozinho. Repito: sozinho. Como se o Brasil tivesse trocado o presidencialismo, o parlamentarismo, o semipresidencialismo, por um “Moraísmo Absolutista”. E não se trata aqui de julgar apenas o ministro. É preciso olhar para todos. O Executivo que não articula, o Congresso que muitas vezes legisla em causa própria, e um Judiciário que cada vez mais parece se ver como o tutor da democracia — como se democracia existisse com tutela. O que se instala é um estado de guerra fria entre os poderes. Não há diálogo, há disputa.

Não há construção, há vaidade. E no meio disso tudo, nós — os brasileiros comuns — seguimos pagando a conta, literalmente. O aumento liberado pela decisão de um único ministro é bancado com o nosso bolso. E ninguém nos pergunta nada. Ora, se o Congresso barra, é porque entendeu que o impacto é alto demais, ou que a proposta não passou pelo devido processo. Se o Supremo entra e desfaz, não deveria fazê-lo por um só voto, sem plenário, sem debate, sem escuta. Isso é justiça ou é vontade pessoal? O Brasil está precisando urgentemente de um reencontro com a responsabilidade institucional. Não é mais possível que os Três Poderes se comportem como donos de feudos. No tempo em que o bom senso existia na política — e, sim, ele já existiu — decisões assim não passavam sem o peso do contraditório, da transparência, do coletivo. Hoje, basta um despacho, um PDF enviado ao sistema eletrônico e pronto: muda-se o rumo da república. Falta grandeza. E falta vergonha.

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