OPINIÃO

Labaredas na paisagem

Por Vânia Figueiredo |
| Tempo de leitura: 2 min

Em Bauru, subindo a rua, de longe já se enxergava a copa de um flamboyant que se debruçava sobre o muro baixo da casa e despejava suas pétalas cor de fogo sobre a calçada. A quadra era numero 13 e a casa na rua Treze de Maio, onde a família viveu 13 anos.

Por coincidência, o terreno tinha 13 metros de frente. Numero de sorte, significando sorte para quem teve o privilégio de conviver com a dona daquela casa, Terezinha Bijos, uma pessoa que marcou a vida de quantos a conheceram, pela sua característica de solidariedade.

Sua bondade era exercida com energia, sem rodeios. Considerava desafio pessoal acudir a quem precisasse de ajuda, entretanto, sem jamais se deixar levar por exploradores. Encaminhou inúmeros jovens para o estudo, a carreira, a profissão. Resolveu problemas e deu soluções para quantos lhe pediram apoio. . A cidade acabou reconhecendo seu valor e a fez Cidadã Honorária.

Ao longo daqueles anos todos, a cada vez que o flamboyant do jardim deixava cair suas grandes favas cheias de sementes, ela as recolhia e guardava cuidadosamente, apesar das criticas divertidas de quem não via razão para tanto zelo. A coleção de vidros cheios de sementes era definida por ela como "herança do meu flamboyant que não nasceu aqui por acaso"..

Foi então que, certo dia, quando já alcançara idade um tanto avançada, ela resolveu fazer uma pequena viagem de carro pelo interior do municipio e eu a acompanhei..

Seguimos por uma estradinha de terra, longe da cidade, por campos nus, sem lavoura, só pequenos arbustos aqui e ali.

Levava consigo a bagagem de sementes de flamboyant e as jogava, em grandes punhados, pela janela do carro. Espalhava-as a esmo, como o dissera a parábola, sabendo que poderiam cair sobre pedras ou serem comidas pelos pássaros, mas na certeza de que algumas poderiam cair sobre terra fértil.

Tempos depois, ela foi embora para outra dimensão, uma lembrança jamais esquecida por quantos lhe deviam em carinho e ajuda. Os anos passaram, até que um dia, por alguma razão, tive que refazer o trajeto que percorrera com ela, naquela mesma estradinha.

A surpresa foi grande: a uma curva do caminho: um grande flamboyant coberto de flores, a enorme copa em labaredas na paisagem. Uma espécie de monumento duradouro àquela que tantos benefícios espalhara a seu redor durante sua vida, como se arvore frondosa fosse.

Uma forma colorida de perpetuar a gratidão a ela, que sempre acreditara no poder das sementes, como acreditara no potencial das pessoas.

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