OPINIÃO

Dia da Pizza com cara de impunidade com borda recheada

Por Gregório José - | Jornalista/radialista/filósofo
| Tempo de leitura: 2 min

10 de julho. Dia da Pizza. Data curiosa. Em outros países, é só uma homenagem culinária. Aqui, virou símbolo nacional de um talento raro: o de transformar escândalos em brisa, crimes em esquecimento e criminosos em colunáveis de tapete vermelho. Nada mais brasileiro do que ver uma operação milionária para desviar dinheiro de aposentados — velhinhos, velhinhas, deficientes — virar piada interna entre operadores políticos.

E como sempre, ninguém preso. Ninguém punido. Ninguém que importe. A engrenagem continua girando perfeitamente: dinheiro público escoado por "associações" suspeitas, contratos com cheiro de peixe podre, advogados que não sabem onde fica o INSS mas sabem exatamente como blindar seus clientes. O crime, aqui, é um negócio — e um dos mais rentáveis.

As denúncias? Arquivadas. As manchetes? Caducam em dois dias. Os nomes? Proibidos. A imprensa, quando tenta, apanha. Dizer, por exemplo, que o irmão do presidente esteve ligado a uma dessas organizações que roubaram os vulneráveis? Nem pense. Dá processo. Dá censura. Dá despacho com cara de "decisão técnica", mas cheiro de "calaboca".

O mais triste — ou cômico, se formos masoquistas — é a coreografia repetida: 1. Vaza o escândalo. 2. O governo diz que "vai apurar com rigor". 3. Cria-se uma comissão. 4. Alguém demitido. (Geralmente um estagiário). 5. Esquecemos tudo.

Enquanto isso, os mesmos criminosos - ou seus sócios, ou seus filhos - continuam ganhando licitações, contratos, espaços na TV e votos. Viraram celebridades do crime institucional. Têm apartamento em Miami, jatinho fretado, mesa reservada em restaurante da moda e o principal: imunidade moral garantida pela pasmaceira do país. O dinheiro que desaparece nessas quadrilhas faz falta onde o Brasil mais precisa — saúde, educação, aposentadoria, segurança. Cada esquema abafado é uma bomba-relógio que explode na cara do cidadão comum, que paga imposto de primeiro mundo para ter serviço de quinto.

E o povo? Cansado. Mas domesticado. Ri, compartilha memes, muda de canal. Afinal, tudo termina em pizza. Mas não uma pizza qualquer. Aqui, é pizza com borda recheada de escárnio, molho de cinismo e cobertura de impunidade.

O Brasil é um país onde os ladrões de galinha apodrecem na cadeia — e os ladrões de milhões publicam livro de autoajuda. Onde se prende um jovem negro por furto de sabonete, mas se libera um figurão que limpou os cofres da Previdência com uma caneta.

Hoje (10 de julho) é o Dia da Pizza. Celebremos. Porque amanhã virá outro escândalo. E mais um depois. E todos terminarão exatamente como os anteriores: em silêncio, em esquecimento — e, claro, em pizza.

Comentários

Comentários