OPINIÃO

A Aura dos Clássicos

Por Wellington Anselmo Martins | O autor é mestre em Filosofia pela Unesp
| Tempo de leitura: 1 min

Alguns livros são verdadeiros portais. Neles, não lemos apenas palavras — lemos a própria eternidade.

Há obras que não envelhecem, que não se curvam ao tempo. Transcendem a condição de papel e tinta.

São vasos sagrados onde a humanidade depositou seu espanto, sua razão, sua esperança — e também seus gritos e silêncios mais profundos.

Quando tomo em mãos a Bíblia, ou abro as páginas de Dante, Kant ou Darwin, sinto que não estou apenas lendo — estou sendo lido.

É como se esses livros tivessem olhos. Como se me observassem com milênios de sabedoria, esperando minha escuta com respeito.

Essas obras carregam uma aura — não a do prestígio acadêmico ou da fama editorial, mas a que Walter Benjamin intuiu: a presença única, irrepetível, a vibração da eternidade contida em um objeto finito.

Sinto o peso metafísico da Odisseia, o sopro divino nas páginas de Newton, o suor de mil gerações nos aforismos de Confúcio, Agostinho, Pascal, Nietzsche.

Cada palavra ali parece ter atravessado o deserto da linguagem para chegar até nós com sede de eternidade.

Esses livros são relíquias da alma humana.

São bússolas para os que andam às cegas, espelhos para os que ousam pensar, pontes lançadas sobre o abismo do tempo. São dizeres humanos que parecem ter tocado algo do sentido do verbo divino.

Nunca os leio por obrigação.

Aproximo-me deles, grato, como quem entra num templo: em silêncio, com reverência e cuidado.

Porque sei — ou ao menos intuo — que ali habita algo mais do que ideias.

Ali respira o sagrado.

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