Que o homem é um puta inventor não dá pra negar. Inventou até mesmo uma inteligência mais inteligente do que a dele. Não sei não, mas tal inteligência artificial pode ter sido um tiro nos dois pés. O rato, que não é burro, jamais inventaria uma ratoeira. Dizem que foi o Einstein quem disse isso. Entre uma artificial inteligentíssima e uma natural, agora sabidamente meia-boca, quem vai mandar em quem? O futuro assusta.
O homem não para de inventar por um motivo bem simples: quer uma vida melhor, sem as chatices que ela tem. Lembra como era um saco tirar a bunda do sofá pra mudar o canal da tevê? Diz a canção que "amigo é coisa para se guardar debaixo de sete chaves dentro do coração." Alguns sim, outros não, são chatos demais. Torcem pelo Palmeiras, vivem pedindo dinheiro emprestado, focinham a vida da gente e não param de falar: " Olha, se eu fosse você...." Agora, a gente tem a opção do amigo virtual ou digital. Convive com a gente na internet e nos enche de likes, coraçõezinhos vermelhos, e mensagens de autoajuda.
Namorar, casar, transar, outra coisa complicada. Tem que explicar tudo tintim por tintim, custa caro e não raro a gente tem que aguentar a cara azeda de quem comeu e não gostou. O que fez o inventor? Inventou as incríveis bonecas e bonecos artificiais. No começo, as bonecas eram horrorosas com aquela boca aberta demais. E a pessoa se enchia de tanto assoprar. Eram mudas e não se mexiam. Agora não, são perfeitas, falam melodiosamente e apenas o que a gente quer ouvir, dizem. Falam de arte, política, economia, poesia, tudo sabem na ponta da língua. E beijam como ninguém, dizem. Dizem, ainda, que fazem sexo de enlouquecer. Resolvem problemas de matemática, de física, acertam as contas da casa, informam se vai fazer sol ou, chover. E quando não estão em uso, a vantagem é que ficam quietinhas trancadas no guarda-roupa, dizem.
Tem muita gente que se escandaliza com elas, pouca vergonha, um verdadeiro atentado à dignidade humana. Outros discordam, apenas mais um brinquedinho, aliás, como o vibrador que fica guardadinho na gaveta. E dizem mais: que a gente precisa ser empático, pensar no problema das pessoas solitárias, depressivas ou impossibilitadas física ou mentalmente de participar do competitivo jogo sexual. Dizem.
Dizem, ainda, que essas bonecas não oferecem nenhum perigo de gestarem um bebê reborn, hoje vendido como água. Com isso eliminam-se as fraldas fedidas, as noites sem dormir, doenças, creche... Jamais o bebê crescerá e abandonará a querida mãezinha.
Dizem tudo isso e eu, gato escaldado, não digo nada. A verdade é que o homem está inventando uma vida de mentirinha, já que a real ficou muito chata e complicada.
Mas, dá pra chamar de vida essa vida tão mentirosa?