OPINIÃO

Copom: juros em 15% ao ano

Por Reinaldo Cafeo | O autor é diretor regional da Ordem dos Economistas do Brasil
| Tempo de leitura: 2 min

O texto da Ata publicada pelos membros do Comitê de Política Monetária (Copom) demonstra que estão preocupados com o cenário internacional e com a desancoragem persistente das expectativas para a economia brasileira.

O Comitê justificou a elevação de 0,25 ponto percentual na Selic, para 15% ao ano, pelo temor de que as incertezas internacionais e pelo comportamento dos agentes econômicos por aqui, levando-os a demandar mais prêmios para comprar títulos públicos.

Segundo o texto, para o Comitê "permaneceu a visão preponderante de um cenário internacional ainda incerto e volátil. Em particular, o Comitê segue avaliando que o choque de incerteza pode ser relevante. Tampouco é clara qual será a trajetória fiscal nos Estados Unidos". A conclusão é que "um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica". Vale lembrar que a decisão se deu em meio ao conflito entre Israel e Irã, o que foi revertido recentemente.

No caso do cenário interno, o Comitê afirmou que "as expectativas de inflação, medidas por diferentes instrumentos e obtidas de diferentes grupos de agentes, mantiveram-se acima da meta de inflação em todos os horizontes, tornando o cenário de inflação mais adverso". E advertiu que "a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida". E, para não deixar dúvidas, o texto afirma que "a principal conclusão obtida e compartilhada por todos os membros do Comitê foi de que, em um ambiente de expectativas desancoradas, como é o caso do atual, exige-se uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado".

Em resumo: tem-se uma Ata mostrando um cenário desafiador e que deverá justificar a manutenção de juros elevados por bastante tempo. E com uma advertência. Apesar de ter comunicado "uma interrupção no ciclo de elevação de juros para avaliar os impactos acumulados ainda a serem observados da política monetária", o Comitê advertiu que "a taxa apropriada de juros (...) deve permanecer em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado devido às expectativas desancoradas" e que "seguirá vigilante, que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em prosseguir no ciclo de ajuste caso julgue apropriado".

E qual o impacto dos juros altos na vida das pessoas e das organizações? Taxa de juros elevada para empréstimos e financiamentos, e estímulo aos poupadores, que terão na renda fixa a desejada combinação: liquidez e rentabilidade.

E um ponto não menos importante: como o governo Federal gasta como se não houvesse amanhã, praticando política fiscal "frouxa", resta ao Banco Central realizar "aperto" na política monetária, ou seja, medida necessária, contudo, tendo como efeito colateral indesejado o engessamento da economia.

A política monetária contracionista vai permanecer por longo tempo.

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