OPINIÃO

Sangue, suor e míssil

Por Zarcillo Barbosa | O autor é jornalista e articulista do JC
| Tempo de leitura: 3 min

A Bíblia hebraica tem 6 mil passagens que falam explicitamente sobre nações, reis ou indivíduos que atacam ou matam os outros. Para Felipe van Deursen ("Cem mil anos de guerra"), seria esse o padrão de comportamento imposto por Deus para lidar com cidades que não aceitam os israelitas como dominadores. Pelo menos para os hebreus, israelitas ou judeus, nomes dados ao mesmo povo, "escolhido por Deus".

O primeiro-ministro israelense Benyamin Netaniahu parece inspirado pelo Velho Testamento na sua sanha de "não poupar nada que respire", como era comum no teatro bélico de 3 mil anos atrás. Seu Deus é aquele vingativo, que jogou dez pragas sobre o povo egípcio, afogou o exército inimigo no Mar Vermelho e destruiu cidades inteiras como Sodoma e Gomorra. O psicólogo Steve Pinker, que estudou profundamente as atrocidades bíblicas ("Os Anjos Bons da Nossa Natureza"), contou 1.167.000 pessoas assassinadas em trechos bíblicos que tratam de extermínio.

Essa carnificina é a maior prova de que o VelhoTestamento foi escrito por seres humanos, sem nenhuma fé no Deus misericordioso que amamos. É bem verdade que a Bíblia ficou muito mais condescendente, depois do nascimento de Jesus e os ensinamentos que deixou na sua passagem por este Vale de Lágrimas.

O Antigo Testamento localiza a Terra Prometida entre o Grande Mar (Mediterrâneo), o Rio Jordão e o Mar Morto. Se está na Bíblia, para os israelitas a área toda é deles, sem contestações. Não importa que muitos judeus tenham sido forçados a deixar suas terras. A grande diáspora, ocorreu em 70 d.C., durante a invasão romana. Os judeus se concentraram na Península Ibérica e Europa Central, até 1948, quando decidiram voltar à Terra Prometida que, a essa altura era o lar dos palestinos. Isso ajuda a explicar a crise territorial entre Israel e Palestina, o ódio, as vinganças e o genocídio praticados em nome de Deus num lugar que deveria ser Terra Santa. Os israelenses se julgam com direito divino à Palestina. E tome mísseis.

O presidente norte-americano Donald Trump, se auto invocou no papel de "mediador". Faz ameaças ridículas aos que não querem se reconhecer "perdidos" e se renderem. O curioso é que Trump fez toda a sua campanha gabando-se de ter sido o único presidente a governar em paz nos últimos 72 anos. Tudo, graças aos seus dotes de exímio negociador e à sua autoridade - segundo ele mesmo.

Suas propostas de paz, não convencem ninguém, com a de transformar Gaza em um resort de luxo e de propor à Ucrânia que desista do território invadido pelos russos e negocie com os EUA a venda de terras raras. Trump só acertou quando reconheceu que gerações de jovens norte-americanos foram sacrificadas em campos de batalha em lugares que "nem sabemos direito onde ficam". Garotos que amavam os Beatles e os Rolling Stones, foram à guerra sem saber sequer o porquê dos conflitos e que país era aquele. Centenas voltaram dentro de sacos de lona preta para serem entregues aos seus pais.

O Irã, é outro país teocrático. Lá, mulheres sofrem ataques preconceituosos e intolerantes da "guarda moral islâmica", por causa de mechas de cabelo que escaparam do hijab. Um caminhão-forca, com lança de guindaste e cabo de aço, movimenta-se pelas ruas das cidades anunciando execuções em praça pública de inimigos do regime e malfeitores comuns.

Os aiatolás, decidiram que quem não segue as leis do Islam, tem mesmo é que morrer. Para eles, Alá é a própria bomba atômica vingadora, que somente precisa se materializar para ser usada contra o Grande Satã e o Pequeno Satã, Estados Unidos e Israel. Trump ainda estuda se vale à pensa usar seu arsenal de "bunker buster", bomba capaz de matar Khomeini onde estiver, e também destruir a usina de enriquecimento de urânio que os iranianos construíram enterrada na rocha de uma montanha. Com essa escalada de violência, quem corre perigo não são somente os envolvidos diretos, mas o mundo todo.

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