COLUNISTA

Trindade Santa


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Um que ama Um que é amado Um que é fonte de amor

Neste domingo, a Igreja celebra na sagrada Liturgia a solenidade da Santíssima Trindade: Pai e Filho e Espírito Santo. O trecho evangélico da santa Missa - Jo 16,12-15 - que pertence ao discurso de despedida de Jesus, ilumina o mistério trinitário. Jesus fala do Pai, com o qual tem tudo em comum, e do Espírito Santo que virá com a missão de anunciar só o que dele ouviu e, por isso, guiará ao conhecimento da verdade completa. Aqui aparecem as três pessoas divinas distintas, identificadas e apresentadas por Jesus. Até onde os nossos olhos de fé alcançam, podemos vislumbrar o mistério de nosso Deus, um só na identidade da mesma natureza divina e uma só comunidade na mais perfeita comunhão de vida, verdade e amor. Na Trindade reina um clima de união, comunhão, partilha e fidelidade, Jesus, que é um com o Pai, condivide o que é seu com o Espírito. Este, por seu turno, comunica à comunidade cristã o que ouviu e recebeu: "Pois, o Espírito da verdade não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu". Inspirada no mistério trinitário, a Igreja ensina que a Trindade é a mais perfeita comunidade, paradigma, modelo, figurino, tipo para toda a família, comunidade e sociedade.

A primeira leitura da santa Missa - Provérbios 8,22-31 - personifica a sabedoria, isto é, apresenta a sabedoria de Deus como um pessoa. Esta pessoa, a sabedoria de Deus, fala de Deus criador e de sua origem; que ela foi constituída desde a eternidade e acompanhou toda obra da criação; que brincava alegre como uma criança na presença de Deus entre as criaturas, mas que sua maior alegria era estar com os filhos dos homens. Por sua vez o Novo Testamento aprofundou essa doutrina aplicando-a a Cristo: "Cristo é a força e a sabedoria de Deus" (cf. 1Cor 1,23-24); "Por ele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra" (cf. Ef 1,16). Na segunda leitura - Romanos 5,1-5 - São Paulo fala que pela fé estamos em paz, reconciliados com Deus por meio de Jesus Cristo, que morreu por nós e obteve para nós o perdão dos pecados e o dom da fé e plantou em nós a esperança de um dia participar da glória de Deus. Mesmo em meio aos sofrimentos devemos nos alegrar, porque fortificam a perseverança e a esperança de que fazem desabrochar o amor de Deus, que foi "derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".

A teologia (estudo sobre Deus, de sua revelação em Jesus Cristo e de suas relações com o homem) ensina que: "O mistério da Trindade é o coração da Revelação cristã, cujo ponto essencial é o evento histórico-salvífico de Jesus Cristo, da sua Encarnação, a morte na cruz e a Ressurreição". A partir do testemunho de toda a vida de Cristo, todavia o cume, o lugar mais alto deu-se no alto da cruz, no mistério pascal de Jesus Cristo. Não há maior amor demonstrável no mundo senão no amor que alguém o prova dando sua vida pelo outro. Diz a teologia que a revelação do mistério de Deus, a mais luminosa e a mais acreditável pela mente, pelo coração e pela alma do homem é dada por este sacrifício de Jesus Cristo. É o Espírito Santo, o Paraclito, quem aprofunda no cristão o conhecimento pleno da fé a partir da iluminação que lhe dá para a compreensão do mistério da cruz, cume que ilumina o seu amor total ao Pai e à Humanidade, a Páscoa. É, pois, pelo acontecimento da Páscoa que podemos achegar-nos até à visão do rosto trinitário de Deus, uno e trino. Santo Agostinho é o teólogo que refletiu especialmente sobre o mistério trinitário. Disse ele sobre a Trindade Santa: "Um que ama, Um que é amado, Outro que é a fonte do amor". Sobre este mistério Ele procurou fazer analogias menos a partir das essências e mais a partir das realidades criadas, levando em conta o "caráter espiritual do homem". Disse ele que o homem enquanto imagem de Deus, pode ser considerado "memória-conhecimento-amor" de Deus e ao mesmo tempo de si mesmo. Segundo ele, por meio dessa "analogia psicológica" pode-se classificar a unidade e a distinção de Deus. Aceder ao mistério de Deus, contudo, é tarefa da fé e do amor. Teve razão aquela criança na beira da praia na qual ele andava procurando entender o Deus trino e uno que respondeu ao santo ser mais fácil transportar toda a água do oceano para o pocinho na areia do que ele decifrar racionalmente o mistério da Trindade. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. Agora e para sempre. Amém!

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