
Até sexta-feira (13), uma expedição científica irá percorrer o Rio Tietê da nascente à foz, reunindo pesquisadores de diversas universidades e instituições, para coletar dados sobre a qualidade da água, presença de microplásticos, pesticidas, fármacos e impacto da poluição nos ecossistemas aquáticos. A expedição passará por 15 municípios paulistas ao longo de cinco dias, e também contará com ações educativas e de comunicação durante o percurso. Os resultados serão compartilhados com a sociedade em 22 de setembro, Dia do Rio Tietê, e poderão contribuir para o planejamento da gestão hídrica em São Paulo.
A jornada começou em Salesópolis, onde o rio nasce, e seguiu por Mogi das Cruzes e Guarulhos. Depois, foi a Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Salto e Anhembi. Nesta quarta-feira (11), terceiro dia, o percurso continua por Botucatu, Barra Bonita e Bariri. No quarto, estão previstos pontos de coleta em Ibitinga, Promissão e Avanhandava. Por fim, a expedição encerra o trajeto em Pereira Barreto e Itapura, já na foz do Tietê, totalizando cerca de 1.030 quilômetros de rio monitorados.
A ação é realizada em parceria com cientistas e pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (Cena/USP), da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS), além de integrantes do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos).
O objetivo é identificar os pontos mais críticos ao longo do curso do rio e contribuir com o desenvolvimento de políticas públicas voltadas à recuperação da bacia hidrográfica. Além das análises físico-químicas e microbiológicas, também será investigada a emissão de gases de efeito estufa - como o CO2, associado à degradação da matéria orgânica nos rios.
A iniciativa busca compreender as relações entre poluição, uso do solo, ausência de saneamento e os efeitos cumulativos da degradação ambiental na bacia do Tietê. "O monitoramento contínuo tem um papel essencial para engajar a sociedade e manter o tema da água limpa na agenda pública. Mas só isso não é suficiente", afirma o geógrafo Gustavo Veronesi, coordenador da causa Água Limpa da SOS Mata Atlântica.
"O que temos visto ao longo dos anos é que, sem políticas públicas bem estruturadas, investimentos em saneamento e fiscalização eficaz, a qualidade dos nossos rios segue estagnada ou em retrocesso. Com a expedição, unimos a força da sociedade civil ao conhecimento acadêmico para ampliar esse diagnóstico e pressionar por ações concretas que revertam esse cenário".
HISTÓRICO
A relação da Fundação SOS Mata Atlântica com o rio Tietê é longa e simbólica. Em 1993, a organização lançou um programa de monitoramento independente da qualidade da água: o Observando o Tietê. Três décadas depois, a iniciativa se expandiu e deu origem ao Observando os Rios, um dos maiores programas de ciência cidadã do país, que já mobilizou mais de 20 mil voluntários.
Utilizando uma metodologia própria para medir o Índice de Qualidade da Água (IQA), o programa acompanha, ano a ano, a chamada "mancha de poluição" do Tietê e promove engajamento comunitário em defesa da água limpa.
"Há anos, os trabalhos da SOS Mata Atlântica têm mostrado que a qualidade da água no Brasil depende de um esforço conjunto de monitoramento, educação ambiental e pressão por políticas públicas. Agora, ampliamos essa atuação em parceria com a comunidade científica", explica Veronesi.