Recentemente publicado, um estudo minucioso revela a atual situação do ensino médico e da carreira em Medicina em terras tupiniquins. (https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/demografia_medica_brasil_2025.pdf)
O Brasil conta hoje 448 cursos de medicina em atividade (a grande maioria em instituições privadas, com mensalidades em média superiores aos 10 mil reais), 184 processos no MEC para abertura de novas faculdades e outras 110 solicitações para aumentos de vagas em cursos já existentes.
São 48.491 vagas para ingresso no primeiro ano, um número que vem crescendo de maneira quase exponencial nas últimas décadas, graças a uma política pública irresponsável que se rende a interesses financeiros (notadamente desde o início da era PSDB-PT).
Uma Faculdade de Medicina deve sempre basear-se na tríade de Ensino, Pesquisa e Assistência, fundamentada em um Hospital Escola Universitário que ofereça programas de excelência em residências médicas (panorama muito aquém da enorme maioria das instituições nacionais). Até 2035, o número de médico formados deverá ultrapassar 1,15 milhão, representando um aumento de mais de 100% comparado com a quantidade atual (2025) se mantidas as tendências apresentadas.
Atualmente não é possível formar um médico em apenas 6 anos na graduação. O nível de conhecimento, quantidade de informação e treinamento exigido, mesmo para um clínico geral, extrapolam e muito aquilo que as graduações oferecem. Em contrapartida, a residência médica, período em que o recém-formado adquire conhecimento e maturidade para exercer a profissão de maneira confiável dentro da especialidade escolhida, fica cada vez mais relevada a um segundo plano, contemplando muito menos da metade dos egressos. Muitos não conseguem entrar em nenhum programa de residência e partem para cursos de "pós graduação" sem a devida carga horária e sem condições mínimas para a correta formação de um especialista.
Há ainda os que se aventuram em plantões sem fins em unidades de Pronto Atendimento, trabalhando muitas vezes em condições inadequadas, com carga horária excessiva, expondo a si próprios e aos pacientes a riscos imensuráveis. Diante de tal funesto cenário, faz-se necessárias políticas públicas coerentes que corrijam as graves distorções pontuadas. Um exame obrigatório e excludente ao final do curso (nos moldes do exame da OAB) seria uma maneira de barrar os egressos sem a formação mínima adequada para exercer tão nobre profissão, que lida com o bem maior de todos, a vida.