OPINIÃO

Bobos da Corte em Bauru - Não foi por falta de aviso

Por Luiz Henrique Herrera | O autor é advogado
| Tempo de leitura: 2 min

No dia 30 de abril de 2025, esta coluna publicou o artigo "Bobos da Corte em Bauru", na qual denunciei o espetáculo legislativo encenado pela Câmara Municipal na sessão de 28 de abril. Um enredo marcado por pressa, falta de leitura, ausência de parecer jurídico e total desprezo pelo devido processo legislativo. À época, já se sabia que o projeto de mais de 900 páginas havia sido aprovado às cegas — e com um regime de urgência tão indecente quanto o silêncio cúmplice da maioria dos vereadores.

Hoje, poucas semanas depois, a Prefeitura reconhece o que já se denunciava: o projeto aprovado está repleto de erros. Erros que agora exigem correções, tempo, retrabalho técnico e novos gastos públicos. Uma consequência direta da irresponsabilidade que denunciamos — e que agora ninguém pode fingir que desconhecia.

Recorda-se que aquela sessão do dia 28, a tragédia foi temperada com pitadas de farsa. Os vereadores Marcos de Souza e André Maldonado, ambos da base aliada da prefeita, posteriormente subiram à tribuna para um ato constrangido de "mea culpa". Declararam, de forma tão tímida quanto patética, que não mais se curvariam a tais práticas — embora, ironicamente, tivessem acabado de o fazer, aprovando mais um projeto "com a faca no pescoço".

Mais grave ainda foi o papel desempenhado por André Maldonado, que não apenas votou a favor, mas foi o responsável por dar o parecer, em plenário, pela "tramitação normal" do projeto — isso mesmo, normal. O próprio vereador admitiu, publicamente, que não havia lido o conteúdo do texto. Mesmo assim, com impressionante tranquilidade, recomendou sua tramitação como se tivesse pleno domínio da matéria. O gesto, que arrancou risos aristocráticos do palacete, não revela apenas imprudência — revela a completa incompreensão do papel institucional que deveria desempenhar.

Em tempos em que a confiança nas instituições já é frágil, assistir a esse tipo de comportamento é mais do que frustrante: é perigoso. Porque naturaliza o erro. E porque, ao zombar de suas próprias funções, os vereadores zombam da cidade que os elegeu.

Não foi por falta de aviso. Os alertas estavam postos. A denúncia de que se votava sem ler, sem estudo, sem análise técnica, foi feita de forma clara e reiterada. A base governista agiu como sempre agiu — com obediência, com pressa e sem responsabilidade. O erro não é fruto de descuido: é fruto de método. Eles sabiam. E fizeram assim mesmo.

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