
Eleito nesta quinta-feira (8) por ao menos 89 dos 133 cardeais, Robert Francis Prevost será o papa Leão 14. A escolha surpreendeu fiéis pelo ineditismo na escolha de um norte-americano ao comando da Igreja Católica - e pela opção por um nome que nem aparecia entre os mais cotados para assumir o posto deixado por Francisco.
Ainda na primeira fala como papa, Leão 14 proferiu frases em espanhol — idioma do qual se tornou fluente após experiência missionária no Peru, onde chegou na década de 1980. É justamente isso, o "fator da internacionalidade", que contribuiu para a escolha de Prevost no conclave, diz o bispo dom Rubens Sevilha, de Bauru.
O novo papa herda uma agenda repleta de desafios: guerras, imigração e crise climática, por exemplo. Para dom Rubens, Leão 14 chega com o perfil de continuidade ao trabalho de Francisco, tido como progressista. "Qualquer papa eleito teria que tratar desses temas. Certamente, Prevost vai dar continuidade, mas só conheceremos o tom e o ritmo com o tempo. Cada papa tem seu jeito."
O bispo aponta, porém, uma simbologia importante: a roupa vermelha usada por Leão 14, que havia sido abandonada por Francisco. Para ele, isso significa que o americano pode optar por uma postura mais conciliadora em relação às alas mais tradicionais da Igreja Católica.
Por outro lado, a escolha do nome "Leão 14" não deixa de ser um indicativo de continuidade sobre o legado de Francisco e também dos princípios que regiram o papado de Leão 13, diz dom Rubens Sevilha. Leão 13, nome escolhido pelo italiano Gioacchino Pecci em 1878, é considerado pelos historiadores como liderança inovadora para sua época.
Pecci, lembra o bispo, buscou conciliar a doutrina católica com os desafios de um mundo que vivia o período pós-revolução industrial. Ele publicou a encíclica "Rerum Novarum", que abordava questões operárias, direitos dos trabalhadores e justiça social.
Leão 14 era até então prefeito do Dicastério para os Bispos, órgão do Vaticano responsável por nomear e transferir bispos em todo o mundo. Justamente por isso, explica dom Rubens, o mais novo papa teve papel central na definição do episcopado global, que passou por grandes mudanças durante o papado de Francisco. "Era ele quem levava os nomes ao papa para aprovação", cita.
Além disso, Leão 14 é agostiniano — isto é: pertence à ordem inspirada em Santo Agostinho. Antes de assumir cargos no Vaticano, viveu em missão no Peru, em uma região pobre e afastada dos grandes centros. Essa trajetória dá ao papa um perfil distinto do estereótipo americano. "Ele tem uma experiência internacional muito rica. Fala espanhol fluentemente e conhece bem a realidade latino-americana", afirma dom Rubens.
Para o bispo, isso pode significar mais atenção do novo pontífice às questões locais. "Ele deixou claro que tem conhecimento e amor pela América Latina e esse laço pode aproximar ainda mais a Igreja dessa região".