ENTREVISTA DA SEMANA

Guilherme Pupo Ferreira Alves: medicina como sacerdócio

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Guilherme Matos
Guilherme Pupo Ferreira Alves
Guilherme Pupo Ferreira Alves

Natural de Bauru, o médico geriatra Guilherme Pupo Ferreira Alves, 67 anos, possui trajetória marcada pelo compromisso com a medicina humanizada e a gestão em saúde. Formado pela Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu, ele assumiu importantes cargos na saúde pública e privada de Bauru e, na Unimed local, da qual já foi presidente, deu valiosas contribuições para o aprimoramento dos serviços e dos protocolos de controle interno da cooperativa, o que contribuiu para a obtenção de certificações entre as mais importantes do País.

Com pós-graduação em gestão pela Faap e em ciência da melhoria pelo Hospital Albert Einstein, Guilherme também foi diretor do Departamento Regional de Saúde do Estado e, por um breve período, secretário municipal de Saúde. Ao abraçar a medicina como sacerdócio, ele também combina escuta ativa, acolhimento e cuidado com pacientes idosos em seu consultório particular, além de ser médico auditor no Hospital Estadual e atuar na atenção primária da Unimed. Casado com Margot, pai de Pedro, Júlia e Luiza e padrasto de Humberto, Ivana e Lívia, ele reduziu o ritmo de sua prolífica carreira para dedicar mais tempo à família, à prática de esportes e a outras tantas paixões, como o Noroeste, a pesca e a leitura. Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista.

JC - Por que escolheu cursar medicina?

Guilherme - Meu avô era patologista e tinha um laboratório de análises clínicas em Botucatu e um tio meu era médico. Então, tive estas duas inspirações. E sempre quis que meus filhos fizessem medicina, mas o Pedro fez ciência do esporte e a Júlia, hotelaria. Ela fez especialização em hotelaria hospitalar no Hospital Albert Einstein e é gerente de hotelaria do Hospital da Unimed. De repente, o Pedro decidiu cursar medicina e, aos 42 anos, está no quarto ano e a Júlia, com 37 anos, começou neste ano. Fiquei muito feliz e orgulhoso. E a Luiza, que tem 19 anos, está no segundo ano de odontologia.

JC - O senhor especializou-se em geriatria logo após a graduação?

Guilherme - Eu me formei em 1981 e não existia geriatria na época. Quando terminei a residência em clínica médica, prestei concurso para médico do Estado e, em 1984, fui trabalhar em Cabrália Paulista. Depois, prestei concurso na prefeitura de Bauru e, em 1986, retornei para trabalhar em unidade básica de saúde. Ao mesmo tempo, atendia no meu consultório, trabalhei no Hospital de Base, na Beneficência e, depois, entrei na Unimed. Na prefeitura, fui coordenador dos núcleos de saúde quando muitos deles foram inaugurados, fui secretário municipal de Saúde e diretor do Pronto-Socorro na época em que o prédio foi reformado e ampliado. Também fui diretor do Departamento Regional de Saúde do Estado, de 1993 a 1995.

JC - Foi quando adquiriu experiência em gestão?

Guilherme - Ainda fiz carreira como gestor na Unimed Bauru. Fui superintendente de 1996 a 1998, presidente de 2003 a 2006, integrei a comissão gestora da construção do hospital, fui superintendente do hospital de 2006 a 2008 e depois fiquei oito anos como diretor da Unimed Centro-Oeste Paulista. Nesta trajetória, implantei a metodologia PDSA (em português: planejar, fazer, estudar, agir) na Unimed e no hospital. Trabalhando com indicadores, conquistamos a certificação ONA 3 no hospital, que só os de excelência, como o Einstein, têm, e o ISO na sede administrativa. Em 1997, criei o atendimento domiciliar para pacientes acamados, com equipe multidisciplinar que dá todo o suporte. Já em 2019, organizei o núcleo de atenção primária da Unimed, também com equipe multidisciplinar com vínculo com os pacientes, tal como um médico de família. Ele funciona no CDU e atende os cerca de 5 mil funcionários e colaboradores. É um projeto da Unimed do Brasil e fomos um dos pioneiros.

JC - A medicina humanizada é algo forte na sua prática?

Guilherme - A vida toda. Acho que a medicina é um sacerdócio. Médico precisa ter dom, gostar do que faz, ter prazer em continuar estudando e ter empatia com o paciente. E a geriatria veio justamente por este contato que sempre gostei de ter com pessoas mais velhas, que precisam ser ouvidas. Mas só obtive o título de especialista em 1996, em São Paulo. Outro trabalho que faço é como médico auditor dos processos de medicamentos de alto custo no Hospital Estadual. Avalio as solicitações feitas pelos especialistas e autorizo ou não a liberação, baseado em protocolos. Aprendi muito fazendo este trabalho.

JC - Atualmente, faz este trabalho e atende no consultório?

Guilherme - Também atendo na atenção primária da Unimed e visito os pacientes do meu consultório particular, quando são internados no Hospital da Unimed, mas sem receber por isso, porque não dou mais plantões. Há cerca de cinco anos, decidi diminuir a carga de trabalho, que chegava a 15h, 16h por dia. Não sobrava tempo para nada. Minha família é enorme e temos uma relação muito próxima. E em 2023, a Ivana, minha enteada, teve um AVC hemorrágico com comprometimento cognitivo, então, minha esposa e eu ficamos com a guarda da filha da Ivana, a Ana Lívia, de 8 anos. Além disso, todo sábado, levo minha mãe, que tem 94 anos e está em uma casa geriátrica, para ficar comigo em casa.

JC - Sobrou tempo para o lazer?

Guilherme - Joguei futebol de campo até os 64 anos, joguei basquete na juventude, fiz atletismo e comecei a jogar tênis aos 58 anos. Jogo todo domingo de manhã com meu grupo dos 60 no BTC. É uma delícia, minha válvula de escape. Também jogo aos sábados com um grupo no condomínio onde moro e, no meio da semana, arrumo um jeito de jogar mais uma ou duas vezes. Também vou assistir aos jogos do Noroeste, de quem sou torcedor por influência do meu pai. Gosto de cinema, literatura, do Manuel Bandeira, Ernest Hemingway, Machado de Assis. Os livros "Cem Anos de Solidão", do Gabriel García Márquez, e "1984", do George Orwell, também me marcaram. E, desde 1995, vou todo ano pescar com um grupo de amigos no Rio Negro, em Manaus.

O QUE DIZ O MÉDICO

'Trabalhando com indicadores, conquistamos no Hospital da Unimed a certificação que só os de excelência têm'

'Criei o atendimento domiciliar para pacientes acamados e organizei o núcleo de atenção primária da Unimed'

'Medicina é um sacerdócio. Médico precisa ter dom, gostar do que faz e ter empatia com o paciente'

Assistindo a um dos jogos do Noroeste com o amigo Domingos Malandrino
Assistindo a um dos jogos do Noroeste com o amigo Domingos Malandrino
Em pescaria de tucunaré no Rio Negro, em Manaus
Em pescaria de tucunaré no Rio Negro, em Manaus
Com grupo de amigos do tênis, no BTC
Com grupo de amigos do tênis, no BTC
Com a esposa, a mãe, filhos, enteados, genros, noras e netos
Com a esposa, a mãe, filhos, enteados, genros, noras e netos

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