COLUNISTA

Não se preocupe

Por Hugo Evandro Silveira |
| Tempo de leitura: 4 min
Pastor Titular - Igreja Batista do Estoril

Vivemos dias marcados por inquietações constantes. Antes mesmo de sairmos de casa, somos tomados por pequenas tensões: atrasos, compromissos, preocupações, aparência, alimentação, negligências, carreira, trabalho. À medida que o dia avança, novas ansiedades se impõem - comparações nas redes sociais, dores físicas, fobias, pânico, pressões, instabilidades econômicas, notícias alarmantes. A mente se agita; o coração, sobrecarregado, se torna terreno fértil para a ansiedade. Essa realidade não poupa ninguém. Dentro de casa, muitos lidam com pressões relacionadas a filhos, casamento, saúde, finanças e outros. A ansiedade, assim, deixa de ser uma visita ocasional e se torna presença constante, muitas vezes disfarçada de zelo ou responsabilidade.

Contudo, Jesus, conhecendo a fragilidade humana, dirige-se com ternura a esse coração aflito em Mateus 6.25-34: "Não andeis ansiosos pela vossa vida...". Essa exortação não é uma censura ríspida, mas um convite amoroso. Cristo não apenas ordena, mas argumenta, consola e ensina, oferecendo razões profundas para confiarmos no cuidado do Pai. Em sua fala, destacam-se fundamentos que nos ajudam a lidar com a ansiedade de forma cristã e equilibrada.

Em uma cultura obcecada por comida saudável, roupas da moda e estabilidade financeira, Jesus lembra que a vida humana é um dom divino com propósitos eternos. Não fomos criados apenas para consumir e acumular, mas para glorificar a Deus. A ansiedade nasce, muitas vezes, quando invertemos essa ordem, tratando o meio como fim. Jesus nos convida a observar as aves - frágeis e livres - que não plantam nem colhem, mas são sustentadas diariamente. Se Deus cuida dos pássaros, quanto mais de seus filhos que esperam nEle? A ansiedade, nesse sentido, revela uma visão distorcida de nossa identidade; ela nos diz que estamos sós, mas o Evangelho afirma que há um Pai celestial atento às necessidades dos que confiam nEle e que fala ao coração: Não se preocupe!

Preocupar-se não resolve problemas; apenas os antecipa. A ansiedade rouba energia do presente sem garantir soluções para o futuro. Como uma cadeira de balanço, ela nos mantém em movimento, mas não nos leva adiante. Jesus, com sabedoria, mostra que nenhuma medida de inquietação pode acrescentar tempo ou qualidade à nossa existência. Se Ele veste os lírios do campo com tamanha beleza - flores que hoje existem e amanhã desaparecem -, como não cuidaria de seus filhos, portadores de sua imagem? Jesus chama os céticos de "homens de pequena fé" não para os envergonhar, mas para apontar a raiz da ansiedade: a dificuldade em crer na suficiência do caráter divino.

A preocupação constante reflete uma vida centrada na autossuficiência. Os que não conhecem a Deus correm atrás do sustento como se tudo dependesse de seu esforço. Mas os crentes possuem um Pai que os conhece e supre cada necessidade. A confiança em Deus deve moldar nossas atitudes e prioridades. A ansiedade é muitas vezes o fruto de um coração desordenado. Quando o Reino de Deus e sua justiça ocupam o primeiro lugar em nossas vidas, todas as demais coisas encontram seu devido lugar. O foco deixa de ser o acúmulo e o controle e passa a ser o serviço e a fidelidade. E, paradoxalmente, é nesse caminho de rendição que experimentamos a verdadeira paz.

Jesus conclui seu ensino com uma exortação profundamente prática e pastoral: "Basta a cada dia o seu próprio mal" (Mt 6.34). Com isso, Ele nos ensina a viver o presente com confiança e sobriedade, sem carregar hoje o peso de um amanhã que ainda não chegou. A graça de Deus é suficiente para os desafios de hoje - não para as aflições imaginadas do futuro. Como o maná no deserto, a provisão divina vem na medida exata, renovando-se a cada manhã (Lm 3.22-23). Antecipar os sofrimentos de amanhã é sofrer duas vezes: uma sem necessidade, e outra sem o socorro da graça que ainda está por vir. Diante disso, como vencer a ansiedade? Com uma fé firme em Cristo. O caminho não é o controle, mas a confiança. Jesus não é apenas um mestre ético ou um conselheiro piedoso; Ele é quem se compadece da fraqueza humana e intercede pelos seus diante do Pai (Hb 4.15). Ele conhece cada temor oculto, cada lágrima silenciosa, cada inquietação não verbalizada - e caminha ao lado dos seus com ternura e poder. Jesus é a presença fiel que nos sustenta no meio da tempestade. A ansiedade pode parecer esmagadora, mas o cuidado de Deus é ainda mais real e poderoso. E mesmo sem saber o que o amanhã reserva, os que confiam no Senhor tem a plena certeza de quem estará lá presente e atuante.

IGREJA BATISTA DO ESTORIL
63 anos atuando Soli Deo Gloria.

Comentários

Comentários