Aparecida caminhava pela vida, sem a menor pretensão de aparecer mas, sem querer, aparecia...
Neste mundo coalhado de pessoas vivendo à deriva, entregues à própria rabugice e fazendo da vida alheia mote para discussão em grupos de whatsapp, Aparecida sorria tentando ser anônima, mas, os olhos de águia que a sua rotina cobiçavam: não deixavam.
Aparecida nem percebia e, quando percebia, não se importava. Discreta, seguia.
Confabulavam mil situações acerca de sua vida, sem nem chegarem perto de terem a certeza do motivo de sua alegria.
Alegria de viver: é isso que tem sobrando em Aparecida e que a faz aparecer.
No meio de tanta gente carrancuda, que só reclama da labuta, desdenhando e ignorando a dádiva que é por sí só, viver: lá vai Aparecida!
Ser gouche na vida por suposição de quem não aprecia ver o sol nascer.
Criticam Aparecida, sem ao menos se proporem ao mesmo que ela fazer.
E ela não faz quase nada!
Apenas acorda todos os dias grata, toma seu café da manhã dando e recebendo bom dia daqueles que lhe são caros, se veste com o prazer de viver e vai honrar seu salário.
Da vida alheia não se ocupa, de fofocas se esquiva, caminha leve por aí com a consciência daqueles que não tem nada a temer.
E eu, aqui da janela do segundo andar, testemunho todos os dias Aparecida indo trabalhar e vizinha do andar de cima a mexericar: - Por que diabos essa mulher vive a cantarolar?