ENTREVISTA DA SEMANA

Jeferson Kengi Sato; Medicina em profundidade

Por Tisa Moraes | da Redação
| Tempo de leitura: 5 min
Arquivo pessoal
Jeferson no centro cirúrgico
Jeferson no centro cirúrgico

Dos centros cirúrgicos de Bauru aos mergulhos no mar, o médico anestesiologista Jeferson Kengi Sato, 59 anos, construiu uma trajetória alicerçada na precisão técnica e no entusiasmo pela inovação e pelo aprofundamento dos estudos. Filho de um relojoeiro e uma costureira, o profissional foi o responsável por implantar o curso de residência médica em anestesiologia em Bauru, no Hospital de Base, posteriormente referenciado no Hospital Estadual.

Nascido em Penápolis, ele morou por um período em São Paulo até mudar-se para Botucatu, onde, na Unesp, fez graduação, residência médica, mestrado e doutorado. Obteve ainda o valorizado Título Superior em Anestesiologia e, em Bauru desde 1994, adquiriu vasta experiência na especialidade, com práticas inovadoras de manejo de sangramento e ultrassom intraoperatório.

Sócio-proprietário da Unianest, prestadora de serviços de anestesia a hospitais, Sato é intenso, inquieto e busca excelência não apenas no seu trabalho como médico, mas em tudo o que faz, já que também é instrutor de mergulho, perito judicial, bacharel em direito e praticante de esportes. Foi também professor da Unesp de Botucatu e na Unip de Bauru.

Casado com Lisiane, com quem tem os filhos Lorenzo, 19 anos, Ryuji, 16 anos, e Kenji, 12 anos, ele completa 60 anos neste mês elaborando novos planos, com a mentalidade de quem nunca se contenta em permanecer apenas na superfície. Leia os principais trechos da entrevista.

JC - O senhor nasceu em Bauru?

Jeferson - Em Penápolis. Meu pai, Takeo, era relojoeiro e casou com minha mãe, Shiguero, dona de casa e costureira. Eles tiveram quatro filhos e, em 1970, nos mudamos para São Paulo, onde fiz o ensino médio no Colégio Bandeirantes e todos da minha turma passaram na USP ou Unesp. Meus pais, que não terminaram o ensino médio, fizeram questão que todos os filhos estudassem e se formassem. Passei direto em medicina na Unesp de Botucatu, me formei em 1988 e me especializei em anestesiologia em 1991.

JC - Por que escolheu esta especialização?

Jeferson - Comecei a ter bastante contato com a área no quinto ano, quando tinha que anestesiar ratos. Gostei e, como anestesista é meio imediatista, vi que tinha a ver com meu perfil. Mas gosto bastante de clínica também e, inclusive, sou plantonista na UTI da Unimed desde a inauguração da UTI. Além da especialização, também obtive o Título Superior em Anestesiologia, que só 10% a 15% dos anestesistas do Brasil têm e nos torna mais credenciados para ensinar anestesiologia.

JC - Atuou onde no início da carreira?

Jeferson - Assim que terminei a residência, passei a fazer plantões na Unesp e também fui docente por três anos lá. Mas, em 1994, mudei para Bauru e montei a residência em anestesiologia no Hospital de Base. Depois, em 2020, abri a residência no Hospital Estadual, à qual o Base, hoje, é afiliado. Continuo trabalhando como anestesista do Base até hoje e sou concursado no Estadual desde sua inauguração. Montei, inclusive, o centro cirúrgico lá. Também trabalho na Beneficência Portuguesa e já trabalhei bastante tempo na Maternidade Santa Isabel.

JC - Como é seu perfil de trabalho?

Jeferson - Gosto de me manter atualizado para melhorar minha atuação. Nos últimos oito anos, tenho dedicado tempo a aprender a utilizar ultrassom no intraoperatório para avaliar a função cardíaca, tanto que já fiz um procedimento de anestesia para cirurgia cardíaca usando ecocardiograma pelo esôfago. São coisas mais modernas dentro da anestesia, pelas quais me interesso bastante, como o manejo de sangramento. Hoje, não há mais indicação para uso de plasma para repor fator (proteína) de coagulação, mas vários colegas ainda usam, embora exista um produto importado só com a proteína liofilizada (em pó), que é injetada com soro no paciente, sem risco de contaminação por transfusões. É uma medicação que também ajuda a evitar transfusões em pacientes Testemunhas de Jeová. Além disso, em consultório, passei a tratar anemia pré-operatória, o que quase nenhum profissional faz, com resultado em um mês.

JC - O senhor é interessado em novas tecnologias?

Jeferson - Sempre gostei de informática. Na residência, aprendi a programar e fiz um banco de dados com informações sobre complicações de anestesia, que foi usado na Unesp por cerca de dez anos. Gosto de me dedicar a tudo que faço. Em 1996, em Bauru, fiz um curso de mergulho autônomo, com cilindro, sem saber nadar. Voltei do primeiro mergulho em Ilhabela, aprendi a nadar em três meses e, depois de dois anos, me tornei instrutor de mergulho. Mergulhar é uma experiência incrível. Em Nassau (nas Bahamas), cheguei a alimentar tubarões de mais de dois metros.

JC - Tem outros hobbies?

Jeferson - Mais ou menos em 2000, comecei a jogar golfe e cheguei a handicap 11, um jogador razoável. Além disso, em 2014, comecei a fazer jiu-jitsu, mas, em dezembro passado, machuquei o joelho e me assustei, porque uma lesão prejudicaria meu trabalho. Então, por enquanto, parei na faixa azul. Já entre 2000 e 2005, quando fiz faculdade de direito também pela vontade de continuar aprendendo, jogava boliche e fiz 299 dos 300 pontos possíveis na partida. E, como joguei tênis de mesa na infância, cheguei a dar treinos no Nipo e a jogar contra o Cláudio Kano nos Jogos Abertos do Interior.

JC - Quais os próximos passos agora?

Jeferson - Bom, depois de terminar o mestrado em 1997 e o doutorado em 2000 na Unesp de Botucatu, resolvi fazer direito. Eu me formei em 2005 na Unip - onde fui professor, posteriormente, por três anos - e às vezes sou chamado para atuar como perito judicial, por indicação de uma das partes do processo ou pelo juiz. Atuo em processos trabalhistas, em ações civis movidas contra médicos e é algo que planejo intensificar nos próximos anos, assim como os atendimentos em consultório de pacientes que buscam profissionais com perfil de médico da família, também em falta, e com terapia antálgica para pacientes com dor.

O que diz o anestesiologista:

"Em 1994, mudei para Bauru e montei a residência em anestesiologia no Hospital de Base"

'Sou bastante interessado nas áreas mais modernas dentro da anestesia, como o manejo de sangramento'

'Fiz um curso de mergulho sem saber nadar e, depois de dois anos, me tornei instrutor'

Entrevistado da semana no Café com Política JC
Entrevistado da semana no Café com Política JC
Com os pais, Takeo e Shiguero Sato
Com os pais, Takeo e Shiguero Sato
Jeferson ministrando aula em Piracicaba
Jeferson ministrando aula em Piracicaba
Com a esposa Lisiane
Com a esposa Lisiane
Com os filhos Ryuji, Kenji e Lorenzo
Com os filhos Ryuji, Kenji e Lorenzo

Comentários

Comentários