
Dos centros cirúrgicos de Bauru aos mergulhos no mar, o médico anestesiologista Jeferson Kengi Sato, 59 anos, construiu uma trajetória alicerçada na precisão técnica e no entusiasmo pela inovação e pelo aprofundamento dos estudos. Filho de um relojoeiro e uma costureira, o profissional foi o responsável por implantar o curso de residência médica em anestesiologia em Bauru, no Hospital de Base, posteriormente referenciado no Hospital Estadual.
Nascido em Penápolis, ele morou por um período em São Paulo até mudar-se para Botucatu, onde, na Unesp, fez graduação, residência médica, mestrado e doutorado. Obteve ainda o valorizado Título Superior em Anestesiologia e, em Bauru desde 1994, adquiriu vasta experiência na especialidade, com práticas inovadoras de manejo de sangramento e ultrassom intraoperatório.
Sócio-proprietário da Unianest, prestadora de serviços de anestesia a hospitais, Sato é intenso, inquieto e busca excelência não apenas no seu trabalho como médico, mas em tudo o que faz, já que também é instrutor de mergulho, perito judicial, bacharel em direito e praticante de esportes. Foi também professor da Unesp de Botucatu e na Unip de Bauru.
Casado com Lisiane, com quem tem os filhos Lorenzo, 19 anos, Ryuji, 16 anos, e Kenji, 12 anos, ele completa 60 anos neste mês elaborando novos planos, com a mentalidade de quem nunca se contenta em permanecer apenas na superfície. Leia os principais trechos da entrevista.
JC - O senhor nasceu em Bauru?
Jeferson - Em Penápolis. Meu pai, Takeo, era relojoeiro e casou com minha mãe, Shiguero, dona de casa e costureira. Eles tiveram quatro filhos e, em 1970, nos mudamos para São Paulo, onde fiz o ensino médio no Colégio Bandeirantes e todos da minha turma passaram na USP ou Unesp. Meus pais, que não terminaram o ensino médio, fizeram questão que todos os filhos estudassem e se formassem. Passei direto em medicina na Unesp de Botucatu, me formei em 1988 e me especializei em anestesiologia em 1991.
JC - Por que escolheu esta especialização?
Jeferson - Comecei a ter bastante contato com a área no quinto ano, quando tinha que anestesiar ratos. Gostei e, como anestesista é meio imediatista, vi que tinha a ver com meu perfil. Mas gosto bastante de clínica também e, inclusive, sou plantonista na UTI da Unimed desde a inauguração da UTI. Além da especialização, também obtive o Título Superior em Anestesiologia, que só 10% a 15% dos anestesistas do Brasil têm e nos torna mais credenciados para ensinar anestesiologia.
JC - Atuou onde no início da carreira?
Jeferson - Assim que terminei a residência, passei a fazer plantões na Unesp e também fui docente por três anos lá. Mas, em 1994, mudei para Bauru e montei a residência em anestesiologia no Hospital de Base. Depois, em 2020, abri a residência no Hospital Estadual, à qual o Base, hoje, é afiliado. Continuo trabalhando como anestesista do Base até hoje e sou concursado no Estadual desde sua inauguração. Montei, inclusive, o centro cirúrgico lá. Também trabalho na Beneficência Portuguesa e já trabalhei bastante tempo na Maternidade Santa Isabel.
JC - Como é seu perfil de trabalho?
Jeferson - Gosto de me manter atualizado para melhorar minha atuação. Nos últimos oito anos, tenho dedicado tempo a aprender a utilizar ultrassom no intraoperatório para avaliar a função cardíaca, tanto que já fiz um procedimento de anestesia para cirurgia cardíaca usando ecocardiograma pelo esôfago. São coisas mais modernas dentro da anestesia, pelas quais me interesso bastante, como o manejo de sangramento. Hoje, não há mais indicação para uso de plasma para repor fator (proteína) de coagulação, mas vários colegas ainda usam, embora exista um produto importado só com a proteína liofilizada (em pó), que é injetada com soro no paciente, sem risco de contaminação por transfusões. É uma medicação que também ajuda a evitar transfusões em pacientes Testemunhas de Jeová. Além disso, em consultório, passei a tratar anemia pré-operatória, o que quase nenhum profissional faz, com resultado em um mês.
JC - O senhor é interessado em novas tecnologias?
Jeferson - Sempre gostei de informática. Na residência, aprendi a programar e fiz um banco de dados com informações sobre complicações de anestesia, que foi usado na Unesp por cerca de dez anos. Gosto de me dedicar a tudo que faço. Em 1996, em Bauru, fiz um curso de mergulho autônomo, com cilindro, sem saber nadar. Voltei do primeiro mergulho em Ilhabela, aprendi a nadar em três meses e, depois de dois anos, me tornei instrutor de mergulho. Mergulhar é uma experiência incrível. Em Nassau (nas Bahamas), cheguei a alimentar tubarões de mais de dois metros.
JC - Tem outros hobbies?
Jeferson - Mais ou menos em 2000, comecei a jogar golfe e cheguei a handicap 11, um jogador razoável. Além disso, em 2014, comecei a fazer jiu-jitsu, mas, em dezembro passado, machuquei o joelho e me assustei, porque uma lesão prejudicaria meu trabalho. Então, por enquanto, parei na faixa azul. Já entre 2000 e 2005, quando fiz faculdade de direito também pela vontade de continuar aprendendo, jogava boliche e fiz 299 dos 300 pontos possíveis na partida. E, como joguei tênis de mesa na infância, cheguei a dar treinos no Nipo e a jogar contra o Cláudio Kano nos Jogos Abertos do Interior.
JC - Quais os próximos passos agora?
Jeferson - Bom, depois de terminar o mestrado em 1997 e o doutorado em 2000 na Unesp de Botucatu, resolvi fazer direito. Eu me formei em 2005 na Unip - onde fui professor, posteriormente, por três anos - e às vezes sou chamado para atuar como perito judicial, por indicação de uma das partes do processo ou pelo juiz. Atuo em processos trabalhistas, em ações civis movidas contra médicos e é algo que planejo intensificar nos próximos anos, assim como os atendimentos em consultório de pacientes que buscam profissionais com perfil de médico da família, também em falta, e com terapia antálgica para pacientes com dor.
O que diz o anestesiologista:
"Em 1994, mudei para Bauru e montei a residência em anestesiologia no Hospital de Base"
'Sou bastante interessado nas áreas mais modernas dentro da anestesia, como o manejo de sangramento'
'Fiz um curso de mergulho sem saber nadar e, depois de dois anos, me tornei instrutor'